Artistas na Zambézia reclamam que recursos do projecto “Arte no Quintal”, idealizado pelo Governo para apoiá-los durante a pandemia, não chega à província: “Quando haverá o fundo? Podemos pensar que isso não é sério”.
A luta por meios de sobrevivência é muito dura para os artistas da província da Zambézia, em Moçambique. Alguns já pegam na enxada para cultivar, e outros abraçaram o comércio informal.
“Eu, como actriz, sinto-me triste a viver dessa forma. Nós estamos a chorar do fundo do coração que o Governo faça alguma coisa para nós artistas. O pouco que eles puderem nos dar, nós vamos agradecer”, diz a actriz Rosalina Domingos.
Com a ajuda da UNICEF, 250 artistas do grupo de teatro mais famoso da Zambézia, “Os Retratistas”, tiveram sorte e conseguiram apoio financeiro – cujo montante não foi revelado – para apresentar peças nas rádios sobre a prevenção à Covid-19.
Victor dos Santos Mulupata é integrante do grupo e também presidente da Associação Provincial de Teatro na Zambézia. Ele diz que a ideia é espalhar o teatro radiofónico por todas as rádios comunitárias da província em línguas locais e em português.
“Nós temos um plano concreto num momento que não podemos ir para as comunidades realizar as actividades [de teatro]. Pensamos nós em realizar as gravações de teatros radiofónicos. Se a ideia é fazer humor, também temos Projectos para alegrar os corações”, diz.
“Arte no Quintal”
Em Abril deste ano, quando o Presidente Filipe Nyusi decretou pela primeira vez o estado de emergência, o Ministério da Cultura e Turismo concebeu o projecto “Arte no Quintal”, que visava financiar grupos de artistas de todas as províncias. Até hoje, porém, nenhum artista da Zambézia beneficiou deste fundo – uma situação que esta a causar revolta.
Mulupata acha que a iniciativa do Governo viria mesmo a ajudar os artistas, mas isto não está a acontecer com a província da Zambézia.
“Para nós é muito triste e preocupante, porque já se passa três meses e não se fez nenhuma coisa para nenhum artista na província da Zambézia. Quando haverá este fundo? Nós podemos pensar até que este projecto não é sério porque não estamos a ver seriedade por parte do Governo. Nós não podemos viver de política simplesmente”, reclama.
O director Provincial de Cultura e Turismo da Zambézia, Aly Aboobacar, reconhece que até então não há recursos para os artistas da província. No entanto, ele aponta o dedo aos próprios artistas que, segundo ele, não se inscreveram a tempo para receberem o auxílio do projecto.
“Este é um assunto que ainda estamos a tratar ao nível central para ver de que forma é que podem harmonizar tudo isso. Ate agora que estamos a falar, não temos ainda o subsídio real que podemos dar aos artistas. Mas os artistas não tinham se inscrito. Então, não era possível o Ministério canalizar o calendário para a Zambézia.”