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    Angola/39 anos: Rui Mingas reconhece evolução e pede maior valorização da “paixão futebol”

    Ao celebrar-se hoje os 39 anos da independência de Angola, o primeiro responsável do sector do desporto, Rui Mingas, cujas “as impressões digitais” estão na génese do desporto e olimpismo nacional, destacou a necessidade de se investir mais no homem e nas infra-estruturas e pediu que se dê o devido valor à paixão que é o futebol.

    Rui Mingas, ex-secretário de Estado de Educação Física e Desporto (Foto: Lucas Neto)
    Rui Mingas, ex-secretário de Estado de Educação Física e Desporto (Foto: Lucas Neto)

    A propósito de mais um aniversário da independência nacional, esta figura “dos mil ofícios” (Músico, Desportista, Professor Universitário, governante, embaixador, formador de quadros) pronunciou-se sobre o passado, presente e futuro do desporto, durante uma entrevista concedida à Angop e Rádio 5.

    Pergunta – Como caracteriza percurso do desporto nacional até ao momento actual

    Rui Mingas – O nosso país é um povo de combatentes e não obstante os condicionalismos daquela época (nomeadamente a falta de quadros num país recem-independente), o movimento desportivo nasceu com a guerra, a própria guerra fria, nós conseguimos evoluir até ao estágio actual. Hoje Angola é uma realidade, não é o ideal no domínio do desporto, pois podíamos ter feito melhor, mas tem evoluído no seu estágio, isso graças ao esforço e empenho, naturalmente do presidente, que é um homem do desporto; o Presidente José Eduardo dos Santos sempre foi um homem do desporto e como tal abriu sempre as portas e deu sempre a possibilidade de podermos, fazer coisas, nós, numa fase primária, e depois os nossos continuadores, noutra fase mais crescente.

    P – O que se devia fazer para que o desporto fosse melhor neste momento quando são passados 39 anos desde a independência

    R.M. – Sabe que há muitos constrangimentos no desporto, como há em outras áreas da nossa vida social, da nossa vida política. Por exemplo, eu digo que dos elementos fundamentais do desporto são os recursos humanos e as infra-estruturas. Nós não os temos ideais, nem em quantidade nem em qualidade. Portanto, temos de apostar um pouco mais nisso.

    Sabe que o desporto tem uma componente que é a continuidade. E a continuidade tem de ser acompanhada por seres pensantes. Por isso quando digo recursos humanos, nós não os temos em quantidade e qualidade conveniente. Mas vamos lá chegar um dia.

    P – A evolução de Secretaria de Estado de Educação Física e Desporto para Ministério trouxe mudanças que ajudaram o desporto a consolidar-se hoje ou nem por isso?

    R.M. – Sabe que eu quando fui secretário de estado foi na fase de partido único, em que o estado suportava a totalidade dos encargos com o movimento desportivo. Hoje temos uma componente em que há desporto que representa unidades suportadas pelo estado, mas outras por entidades privadas.

    Todo este jogo é um bocado complicado, até que se definam muito concretamente que tipo de entidades privadas vão fazer o desporto. Se são entidades privadas que vivem dos fundos do estado ou as que têm o suporte de patrocinadores que podem efectivamente ser o garante, como acontece nos grandes países do mundo. Os grandes clubes, as grandes entidades desportivas do mundo não são suportadas por estado nenhum. São suportadas por entidades próprias; empresas patrocinam. Portanto, nós estamos muito longe de lá chegar. Evidentemente, temos outras prioridades no país, não queiramos dar passos maiores do que as nossas pernas o permitam. Vamos lá chegar um dia.

    P – Qual a visão sobre o desporto angolano internamente e no contexto internacional em 39 anos

    R.M. – Acho que nós queremos entrar no desporto no mundo antes de o estruturarmos convenientemente a nível interno. O nosso desporto vai a tudo quanto seja competições internacionais, e pretende ir aquelas que são competições que carecem de avaliação, em que se tem de ser testado para chegar lá. E nós ainda não entendemos que para chegar lá temos de começar pela essência. Da mesma maneira como nós quando damos álgebra, já demos aritmética, temos de começar aqui nessa base. É preciso que o desporto no nosso país entenda que antes de querermos participar em campeonatos do mundo devemos organizar muito bem as competições a nível interno. Sabe que uma coisa que me dói é o fraco nível da competição interna. Não só no escalão sénior, mas particularmente os juvenis, os iniciados. Aí é que está a essência, aí é que se pode fazer a captação de futuros talentos e trabalhá-los de acordo com as potencialidades que cada um de nós descubra. Mas essa não é a grande opção.

    Veja só – eu não quero ser crítico, porque não tenho essa pretensão – mas eu muitas vezes questiono-me quantas vezes nós já falhamos gastando fortunas com a selecção de futebol. Quantas vezes?

    P – Na sua opinião como o futebol de Angola devia ser tratado, sabendo que é a paixão?

    R.M. – É a paixão e mais uma razão para o tratarmos com mais carinho. Quer dizer, eu não agrido o futebol sénior, não. Nós podemos manter o futebol sénior, mas estruturemos bem os escalões juvenis, juniores, porque esses é que são o garante. Eu digo muitas vezes que se cada um dos nossos filhos que hoje tem 14 anos, mostrar grandes potencialidades para o futebol, e for trabalhado e bem orientado, ele aos 18 anos é melhor jogador que qualquer mais velho que anda aí a jogar futebol, pretensamente jogador de alto rendimento, mas não terá a capacidade de um jovem que desenvolveu todas as suas capacidades motoras, físicas na etapa ideal. É só isso que digo. Não é agredir o futebol sénior, é mesmo por ser a paixão de todos nós, que joga, anima e unifica este povo, se eventualmente hoje conseguimos grandes êxitos, que temos de o tratar com mais habilidade e mais inteligência.

    P – Como surgiu a iniciativa do curso de bachareis na universidade Lusíadas?

    R.M. – Foi uma ideia que me ocorreu e ela destinava-se aos mais velhos. A praxe do desporto é precisamente o mérito que nós temos de saber honrar aqueles que no momento próprio participaram de mãos dadas, não obstante as dificuldades que enfrentaram. Portanto, eu pensei em fazer este curso de bacharéis no quadro do Comité de Revitalização do Desporto, para que todos aqueles que na altura da nossa independência não encontravam nada, não tinham nada, e são os autores de tudo quanto se fez no desporto não obstante os condicionalismos. Há gente que já têm hoje mais de 50 anos de idade e com isso terá outro enquadramento na função pública. Pelo menos para a reforça. Terão uma reforma melhor, porque em vez de serem técnicos com formação média, terão formação superior e serão melhor enquadrados. Enfim, foi essa a ideia e felizmente a nível do Ministério do Ensino Superior foi aprovado. Esperamos agora abrir a licenciatura plena.

    P – Estado actual dos trabalhos da comissão de revitalização do desporto

    Nós estamos a trabalhar precisamente para fazer com que o país não tenha um centralismo excessivo na formação nos quadros especializados no desporto. Repare, fizemos um estudo da realidade em quadros humanos no país e vimos que há duas ou três províncias que têm professores de educação física. E mesmo estas, muito pouco para a percentagem das necessidades. E há províncias nem sequer um professor de educação física existe. Portanto, a nossa preocupação é fazer acções de formação. Estamos a formar vários professores nas diferentes províncias para dotá-las daquilo que é fundamental: que tenham os professores”.

    PERFIL

    Rui Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas, nascido em Luanda, aos 12 de Maio de 1939, foi praticante de atletismo, nas especialidades de salto em altura e 110 metros barreiras, é o autor da composição do Hino Nacional de Angola, foi o primeiro responsável do desporto (Secretário de Estado da Educação física e Desporto, 1976-1989), foi embaixador e governante, é compositor e intérprete, docente universitário, actualmente lidera a Comissão de Revitalização do Desporto Escolar e é reitor da Universidade Lusíada de Angola.

    Liderou o processo que conduziu à entrada no país no movimento olímpico internacional e consequente participação, pela primeira vez, numa edição de jogos olímpicos (Moscovo1980). Actualmente, encabeça a Comissão de Revitalização do Desporto Escolar em paralelo como um curso de bachareis em desporto idealizado por si e em curso na universidade de que é reitor. (portalangop.co.ao)

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