Jornal de Angola | Francisco José da Cruz
Num dia como o 19 de Maio, há 26 anos, os Estados Unidos da América (EUA) anunciaram formalmente a normalização das relações diplomáticas com Angola, depois de quase duas décadas de tensão política e de um ambiente de confrontação, embora indirecta e por actores interpostos, que tinham caracterizado a sua vivência bilateral durante a fase derradeira da Guerra Fria.
Washington assinalava assim o início de uma etapa importante e necessária para um novo começo entre as duas nações, afinal ligadas por um passado histórico comum, que deve ser lembrado às novas gerações como um legado de Angola ao Novo Mundo e servir de base para relações bilaterais assentes no respeito mútuo e numa cooperação dinâmica e mutuamente vantajosa.
Tudo começou em 1607, quando um grupo de 108 ingleses criou o primeiro colonato permanente em território americano, em Jamestown, nas margens da baía de Chesapeake, o maior estuário nos EUA em que desembocam mais de 150 rios e cercado pelos actuais estados americanos de Maryland e Virgínia. Anos depois, chegavam os primeiros africanos que, com o seu saber e experiência, ajudaram a promover a agricultura, nomeadamente do tabaco, e a desenvolver esta colónia.
Pesquisas recentes confirmam que estes eram escravos originários dos reinos do Ndongo e do Kongo, territórios que actualmente constituem parte de Angola e que, em 1619, estavam a bordo do navio negreiro português São João Baptista, com destino ao porto de Vera Cruz, no México, quando este foi atacado por corsários ingleses. Acabaram por ser transferidos para os navios Treasurer e WhiteLion, que navegavam com bandeira holandesa, rumo a Jamestown, onde alguns dos escravos foram trocados por mantimentos.