Após 34 anos em actividade, a maior lixeira brasileira a céu aberto, nas imediações do Rio de Janeiro, foi finalmente encerrada.
As toneladas de detritos que diariamente eram depositadas na lixeira de Jardim Gramacho – não longe do principal aeroporto da cidade – serão agora encaminhadas para uma moderna unidade de reciclagem de resíduos.
Apesar de ser uma medida há muito aguardada e considerada uma vitória para os ambientalistas, este fecho vai deixar pelo menos 1600 pessoas sem trabalho. Durante décadas, estas pessoas – conhecidos por catadores – foram pagas para seleccionaram manualmente os materiais aptos para reciclagem.
Estes catadores estiveram presentes na cerimónia oficial de encerramento da lixeira, presidida pela ministra brasileira do Ambiente, Izabella Teixeira, e pelo presidente da câmara do Rio, Eduardo Paes.
“Gramacho será uma referência em termos de desenvolvimento sustentável, e servirá de referência para outras lixeiras do país”, declarou a governante durante a cerimónia.
Por seu lado, Eduardo Paes frisou que na questão do tratamento do lixo no Rio de Janeiro haverá um antes e um depois de Gramacho. “O Rio não vai mais admitir violências como a que foi feita aqui”, disse o autarca.
Eduardo Paes garantiu ainda que os catadores receberão indemnizações no valor de 14 mil reais (cerca de 5500 euros) e receberão formação profissional a fim de se aprenderem um novo ofício.
A decisão de fechar a lixeira de Gramacho – que foi adiada por diversas vezes – acontece apenas algumas semanas antes da importante conferência internacional sobre o ambiente Rio+20, que começa a 20 de Junho.
Durante décadas a lixeira de Gramacho – que recebia cerca de 9000 toneladas de dejectos por dia – foi alvo das críticas dos ambientalistas brasileiros, sobretudo por causa da grande emissão de gases com efeito de estufa e pelo facto de muitas pilhas de dejectos acabarem por ir parar à Baía de Guanabara.
O lixo que era levado para Gramacho será agora levado para a chamada Central de Tratamento de Resíduos (CTR), situada em Seropédica, na região metropolitana do Rio.
A área de Jardim Gramacho ainda levará anos até ser recuperada. Ali será instalada uma Fábrica de Biogás, que vai transformar o metano oriundo da decomposição do lixo em gás. Esse material será destinado à Refinaria de Duque de Caxias para a produção de energia, indica o site Terra Brasil.
“Lixo extraordinário”
Foi precisamente o dia-a-dia dos catadores de lixo de Jardim Gramacho que o artista plástico brasileiro Vik Muniz acompanhou durante três anos, seguido de perto pelos documentaristas Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, que a partir desta premissa produziram o multi-premiado documentário “Lixo Extraordinário” (Waste Land).
No Jardim Gramacho, Vik Muniz tornou-se amigo de alguns dos homens e mulheres que durante anos ajudaram a separar o lixo reciclável em troca de um ordenado baixíssimo com o qual se esforçam por sobreviver. Estas pessoas foram os heróis das criações artísticas de Muniz que, com os materiais da lixeira, os fotografou e dignificou através da arte.
Em 2010, “Lixo Extraordinário” conquistou o prémio do público no Festival de Sundance e os prémios do público e da Amnistia Internacional em Berlim. Na última edição dos Óscares, foi ainda nomeado para a categoria de melhor documentário.
FONTE: Público