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    A grande ameaça civilizacional

    Achille Mbembe, conhecido filósofo, teórico político, historiador, intelectual e professor universitário camaronês, afirma que “a era do humanismo está a chegar ao fim” e antevê, para a primeira metade do século XXI, a continuação do crescimento das desigualdades em todo o mundo e, consequentemente, a emergência de mais conflitos sociais.

    Curiosamente, já não a coberto da luta de classes, mas, cada vez mais, sob a forma luta de classes, mas, cada vez mais, sob a forma de racismo, ultra-nacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e outras paixões mortais.

    Para Achille Mbembe, um outro longo e mortal jogo começou e “o principal choque a ocorrer no futuro já não será entre religiões ou civilizações, mas entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal, entre o governo das finanças e o governo do povo, entre o humanismo e o niilismo. O mundo como o conhecemos, desde o final da II Guerra Mundial, com os longos anos da descolonização, a Guerra-Fria e a derrota do comunismo, esse mundo acabou (…) a crescente bifurcação entre a democracia e o capital é a nova ameaça para a civilização”.

    Logo no início deste século, o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2002, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, apresentou as profundas assimetrias existentes a nível planetário, que representam o fosso cada vez maior entre os países do Norte e os do Sul, bem como ainda no interior das próprias sociedades.

    A comparação de rendimentos individuais, levada a cabo pelo PNUd, conclui que 1% das pessoas mais ricas do mundo recebe o mesmo rendimento que 37% das mais pobres. O rendimento dos 5% mais ricos do mundo é 114 vezes superior ao dos 5% mais pobres.

    Os 10% dos habitantes mais ricos dos EUA têm um rendimento igual ao dos 43% mais pobres do mundo; i.e., 25 milhões de americanos têm um rendimento igual a 2 mil milhões de pessoas.

    Daí que Achille Mbembe afirme que os valores espirituais, especialmente para os pobres, estejam intrinsecamente associados ao desejo de virem a alcançar um rápido enriquecimento, como algo mais importante para as suas vidas, sem que, em última instância, se olhe para a forma como se poderá obter riqueza.

    Em 1945, o capitalismo e a democracia liberal triunfaram sobre o fascismo e, no início dos anos 90, com o advento da globalização e a queda e dissolução da União Soviética, também sobre o comunismo.

    Actualmente, a crescente separação entre a democracia e o capitalismo neoliberal constituem a nova ameaça civilizacional. O capital financeiro alcançou a sua hegemonia sobre o mundo e transformou-se na primeira teologia secular global ao sustentar-se no poder militar e tecnológico, desde o período do pós-guerra, e ao estabelecer uma parceria estratégica entre e ao estabelecer uma parceria estratégica entre a religião e a tecnologia.

    Assim se criou a “teologia do mercado” uma expressão que foi inicialmente utilizada pelo escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler.

    A adesão dos países às teses neoliberais parece poder interpretar-se como a substituição de regimes totalitários por regimes “globalitários”, em que os dogmas do partido único deram lugar aos “dogmas da globalização e do pensamento único, que não admitem nenhuma outra política económica, subordinam os direitos sociais do cidadão à competitividade dos mercados financeiros a direcção total das actividades da sociedade dominada, “refere Ignácio Ramonet.

    Achile MBembe justifica a razão da essência da democracia liberal ser incompatível com a lógica interna do capitalismo financeiro, uma vez que, entre outros aspectos, coloca sob ameaça: o culto à ciência, à tecnologia e à razão. Na actual “teologia do mercado”, “o conhecimento será definido como conhecimento para o mercado.

    O próprio mercado será re-imaginado como o mecanismo principal nado como o mecanismo principal para a validação da verdade. Como os mercados estão se transformando cada vez mais em estruturas e tecnologias algorítmicas, o único conhecimento útil será algorítmico.

    Em vez de pessoas com corpo, história e carne, inferências estatísticas será tudo o que conta. As estatísticas e outros dados importantes serão derivados principalmente da computação. Como resultado da confusão de conhecimento, tecnologia e mercados, o desprezo se estenderá a qualquer pessoa que não tiver nada para vender.

     

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