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    William Tubman: O pai da Libéria moderna

    Apesar de ter sido fundada por ex-escravos, vindos dos Estados Unidos, a Libéria oprimiu, durante muitos anos, as tribos nativas. Foi assim até William Tubman ser eleito Presidente e ter conseguido unir o povo.

    Nascimento: William Vacanarat Shadrach Tubman nasceu a 29 de novembro de 1895, no sudeste da Libéria, numa cidade chamada Harper, no condado de Maryland. A República da Libéria foi proclamada em 1847 por escravos libertados, que haviam regressado dos Estados Unidos em vários grupos durante a primeira metade do século. Não é, portanto, coincidência que os nomes da maioria das terras e cidades da Libéria façam alusão a lugares e pessoas dos Estados Unidos da América (EUA). Os avós paternos de Tubman faziam parte de um grupo de 69 destes escravos que regressaram à Libéria em 1844. A mãe dele nasceu em Atlanta, Geórgia.

    Tubman teve uma educação muito dura e rigorosa por parte do seu pai, um pedreiro, general do exército e pregador metodista, que exigia que William e os seus irmãos frequentassem os cultos diários de oração familiar e dormissem no chão por entender que “as camas eram muito macias e prejudicavam o desenvolvimento do caráter”.

    Reconhecido por: Tubman foi o 19º Presidente da Libéria, tendo governado o país entre 1944 até à sua morte em 1971. É frequentemente apelidado de “pai da Libéria moderna”. Tubman conseguiu atrair investimentos estrangeiros para o país, o que permitiu a construção de grande parte das estradas e ferrovias da Libéria e a renovação do porto de Monróvia, que passou a contar com infra-estrutura adequada para a exportação de borracha e ferro. Aquando da sua morte, a Libéria possuía a maior frota comercial do mundo. Muitos dos edíficios mais reconhecidos do país, como o Edifício do Capitólio, a Mansão Presidencial ou o Centro Cultural Nacional, agora conhecido como “Kendeja”, remontam aos tempos de Tubman. William também construiu o famoso Hotel Ducor, na capital Monróvia, o primeiro hotel cinco estrelas da África Ocidental.

    Legado: Durante o mandato de Tubman, a Libéria viveu um período de prosperidade, tendo a sua administração também investido nas áreas da saúde e educação. O país adotou um programa de alfabetização que seguia a abordagem “Each one teach one” (“Cada um ensina um”). Um dos marcos do governo de William Tubman foi a união da população da Libéria. Após mais de cem anos de opressão da população indígena por parte da elite americano-liberiana, o governo de Tubman tornou obrigatória a igualdade de direitos.

    No entanto, o governo de William Tubman, que durou 27 anos, também tem sido alvo de duras críticas. Uma guerra civil que irrompeu na década de 1980 pôs em causa todo o seu trabalho. Tubman é frequentemente criticado por se ter tornado cada vez mais autoritário e pelo seu estilo de vida extravagante. As suas relações próximas com os Estados Unidos também são consideradas por alguns como um retrocesso na independência da Libéria.

    Ainda assim, e em homenagem ao trabalho de Tubman, o seu aniversário é feriado nacional no país.

    Frases famosas:

    “A Libéria nunca recebeu os benefícios da colonização.”

    “Não declararemos guerra ao socialismo se ele for mantido dentro dos territórios e entre as pessoas que nele acreditam, mas lutaremos até à morte em caso de qualquer tentativa de nos impor e forçar o que consideramos ser uma ilusão mística.”

    Ainda que alguns observadores questionem a integridade do seu governo de 27 anos, William Tubman é considerado o “pai da Libéria moderna”, por ter transformado o país. Em entrevista à DW, o historiador Emmanuel Bewier, relembra as mudanças significativas que ocorreram durante o governo de Tubman ao nível das infraestruturas.

    “Quando Tubman chegou ao poder não tínhamos a Mansão do Presidente, não tínhamos o edifício do Capitólio, não tínhamos o Supremo Tribunal. No fim da sua administração tínhamos todas estas coisas e estradas a percorrer o país”, nota.

    Antes de Tubman assumir a presidência, a Libéria era muito subdesenvolvida. Foi ele que frisou que o seu país não recebera os “benefícios da colonização” – e que isso podia explicar o facto de, por exemplo, mesmo a infraestrutura mais básica da Libéria estar em falta e não haver recursos económicos para melhorar a situação.

    Tubman acabou por implementar no país uma nova abordagem económica que ficou conhecida como a “política de portas abertas” e que atraiu enormes investimentos estrangeiros.”Muitos amigos estrangeiros, particularmente dos Estados Unidos e agências especializadas das Nações Unidas, estão a ajudar-nos e a cooperar connosco. Mas a responsabilidade é principalmente nossa”, afirmou William Tubman enquanto ainda era Presidente.

    Em 1960, enquanto outros países da África Ocidental alcançavam, finalmente, a sua independência, a Libéria desfrutava da sua primeira era de prosperidade. Foram construídos novos hospitais e criado um programa nacional de alfabetização.

    Quando chegou ao fim o governo de Tubman, o investimento estrangeiro no país tinha aumentado 200%. A Libéria tinha avançado e era agora a segunda economia que mais rápido crescia em todo o mundo.

    E as mudanças não se ficavam só pela economia. As mulheres tinham conquistado o direito ao voto. Um feito lembrado por Weadeh Kobbah Borleh, vice-presidente da Universidade da Libéria: “[Tubman] foi fundamental para que a lei para a soberania das mulheres fosse aprovada. O artigo 11 do capítulo 1 foi alterado em 1946, concedendo o direito de voto a todos os cidadãos da Libéria”.

    A história da Libéria destaca-se no contexto africano, não só por ter sido o primeiro país do continente a tornar-se independente, mas também por ter sido fundada por escravos americanos libertados.

    O parecer científico sobre este artigo foi dado pelo historiadores Lily Mafela, Ph.D., professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projeto “Raízes Africanas” é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

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    FonteDW

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