Foi com pesar que tomamos conhecimento do lançamento oficial de uma “chapa única” pelo PDT, PSB e REDE à prefeitura do Rio. E esta tristeza foi a geradora dessa NOTA DE REPÚDIO.
De acordo com a referida nota enviada ao Portal de Angola, em 2019, várias entidades – representativas das comunidades cariocas, do povo mais pobre e que mais precisa do poder público, do movimento negro – lançaram o Manifesto da Diversidade Carioca, chamando todos os partidos e forças políticas para uma conversa ampla, no sentido de se criar uma grande frente democrática e progressista, em busca de uma unidade popular no enfrentamento do crescente conservadorismo, cujo epicentro fica no Rio com:
Ø Um prefeito bispo, branco e racista, perseguidor da nossa cultura;
Ø Um governador genocida que acredita que “tiro na cabeça” da população pobre é a solução para os problemas sociais, governador este atolado em acusações de corrupção;
Ø E um presidente autoritário, arrogante e contra tudo que é popular ou negro, que tem demonstrado desprezo pela Constituição, pelos demais Poderes da República, pela Cultura, pela Educação e, mais evidentemente, pelos negros, tendo indicado, por exemplo, uma verdadeira aberração para a presidência da Fundação Palmares.
Ø Não à toa, há questionamentos na sociedade se esse governador e esse presidente concluem seus mandatos fora da cadeia.
Segundo o Censo de 2010, o Rio de Janeiro é a segunda cidade com mais pretos e pardos no Brasil, eram na ocasião 3 milhões de pessoas. Ficando apenas atrás de São Paulo e na frente de Salvador[1]. Esse povo está cansado de ser massa de manobra e exige ter sua voz.
Apesar de todos os apelos, de todas as conversas realizadas, de todas as reuniões para a criação dessa frente única, a elite branca não admite negros na Casa Grande ou, no máximo, vindos da cozinha para servir o café. E mais uma vez, os brancos, empoderados, de classe média ou ricos, resolveram sozinhos fechar questão na sucessão municipal desse ano. O PDT rasga sua história, do partido que elegeu o primeiro negro senador Abdias do Nascimento, tendo em seu fundador Leonel Brizola uma pessoa de forte sensibilidade social que elegeu Alceu Colares, negro, governador do Rio Grande do Sul e Albuíno Azeredo, negro, governador do Espírito Santo, ambos estados, proporcionalmente, mais brancos do que o Rio de Janeiro.
Eis o retrato da Casa Grande: nove brancos privilegiados reunidos, numa “conference call” virtual para decidir os destinos de uma cidade e sua gente.
Descrição gerada automaticamente
Em um momento em que o mundo está vivendo um momento de convulsão antirracista, a elite política carioca sequer nos escuta. Eis, mais uma vez, a evidência de a essência patriarcal branca, do país que foi o último a acabar com a escravidão no planeta, ainda está presente nas direções partidárias, que só vê os negros como massa de manobra. Infelizmente uma prática desses e de todos os outros partidos.
Nenhuma entidade negra foi ouvida. Nenhuma entidade comunitária foi ouvida. O povo fica fora das mesas de negociação política. Lugar de preto é na senzala. Lugar de pobre é morrendo na fila do SUS.
Precisamos informar, aos nossos senhores brancos que não existe nenhuma frente democrática e progressista, não há movimento do Somos 70 porcento, sem a participação da sociedade, sem a participação das comunidades, sem a participação dos pretos e pardos, sem a participação das suas entidades representativas.
Repudiamos veementemente essa chapa ariana à prefeitura de uma cidade, onde há tantos negros, mas que só servem como mão-de-obra barata, como presidiários, como matáveis.
Nós pretos e pardos cariocas, nós moradores de favelas, nós pobres cansamos de não nos ver representados nas negociatas acertadas em gabinetes luxuosos.
E um povo cansado é capaz de muito.
“Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal
melhor é o Poder devolver à esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval.”
Rio de Janeiro, 17 de junho de 2020.