Terça-feira, Abril 30, 2024
13.3 C
Lisboa
More

    Morre o actor Cláudio Cavalcanti, aos 73 anos

    Cláudio Cavalcanti tinha 73 anos  Pedro Kirilos / Agência O Globo
    Cláudio Cavalcanti tinha 73 anos
    Pedro Kirilos / Agência O Globo

    RIO — O actor e secretário municipal de Defesa dos Animais do Rio, Cláudio Cavalcanti, morreu às 17h45m deste domingo, no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, Zona Sul do Rio. O artista tinha 73 anos e estava internado desde o dia 16. Segundo informações da prefeitura do Rio, Cláudio havia se submetido a uma cirurgia na coluna há alguns dias e sofreu complicações. Ao longo da carreira, o actor participou de mais de 50 novelas, minisséries e especiais, dublagens, 22 longas-metragens e dezenas de peças teatrais. Ele também foi vereador do Rio em dois mandatos. Um de seus personagens mais conhecidos foi Jerônimo, um dos protagonistas na primeira versão da novela Irmãos Coragem da TV GLOBO.

    — Meu interesse pelo teatro veio através do rádio. Quando eu era criança, ouvia muito rádio, radioteatro, com aqueles actores fantásticos. Quando fiz 13 anos, a tia do meu pai me deu um ingresso para uma matinée da peça Obrigado Pelo Amor de Vocês, na qual trabalhavam actores de rádio. Foi a primeira vez que fui a um teatro e fiquei absolutamente encantado. Era uma peça de três actos, em que pessoas envelheciam 50 anos, ali, na minha cara. Meu encantamento foi tamanho que, ao completar 35 anos de carreira, montei essa peça; eu me dei de presente fazer essa peça — declarou Cláudio em depoimento ao projeto “Memória Globo”.

    Segundo o “Memória Globo”, Cláudio fazia teatro amador na escola, em 1956, quando foi convidado por um amigo para participar de um teste no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia –, que iria montar a peça Nossa Vida com Papai e precisava de um ator jovem, na faixa dos 16 anos.. Na mesma época, começou sua carreira também na televisão, ao ser convidado para atuar no programa João e Maria, na TV Tupi.

    NA SUA ÚLTIMA ENTREVISTA, CLÁUDIO CAVACANTI DIZ QUE QUERIA VOLTAR À TV DE FORMA ESPECTACULAR

    RIO – Cláudio Cavalcanti conheceu Selton Mello ainda menino. E ficou completamente impactado ao assistir “O palhaço” (2011), segundo longa-metragem dirigido pelo ator e cineasta. Coincidentemente, foi Selton o responsável por sua volta à TV na segunda temporada da série “Sessão de terapia”, que estreia dia 7 deste mês, no GNT. Último trabalho do veterano, o seriado era encarado como um “retorno espectacular” pelo ator, morto aos 73 anos no domingo, em decorrência de complicações sofridas por uma cirurgia na coluna.
    Secretário municipal de Defesa  dos Animais do Rio, Cavalcanti estava fora do vídeo por conta de sua vida política. Com mais de 50 novelas e séries na carreira, ele foi destaque em produções como “Irmãos Coragem” (1970), “Água viva” (1980) — em reprise desde ontem, à meia-noite, no Canal Viva —, “Roque Santeiro” (1985), e “A viagem” (1994). O actor, que estava internado desde o dia 16 no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, recebeu O GLOBO em sua casa, na Barra da Tijuca, no dia 30 de Agosto. E não chegou a mencionar o seu problema de coluna nesta última entrevista, na qual parecia genuinamente tomado por seu mais recente trabalho, que chegou a causar-lhe insónia.

    Por que o senhor estava afastado da televisão?

    Tenho tido muitos convites, mas não queria fazer participação especial em novela ou “Malhação”. Queria voltar com algo que fosse espetacular. São 57 anos de carreira. Pode parecer cabotinismo, mas já fiz muita coisa boa. Claro que também já fiz coisas ruins. Só que agora eu devo um padrão de qualidade ao meu trabalho. Estava atrás de algo que fosse me dar orgulho e prazer de ter feito.

    Como surgiu o convite para “Sessão de terapia”?

    Conheci o Selton ainda menino, mas nunca tivemos proximidade. Quando vi “O palhaço”, caí duro para trás, de tão impactado. A atuação dele em “Meu nome não é Johnny” (2008) também é digna de qualquer prêmio internacional. Recentemente, recebi a ligação de uma produtora da Moonshot (responsável pela série), e o Selton teve a grande gentileza de vir até a mim para falar do projeto. Fiquei um pouco obcecado com esse trabalho. Eu queria fazer de forma irretocável e cheguei e ter insônia durante o processo.

    A novela “Amor e revolução” (exibida pelo SBT em 2011) marcou sua volta aos folhetins após de dez anos, mas não obteve sucesso. Arrependeu-se de ter feito o folhetim?

    A minha prioridade nos últimos anos foi a secretaria municipal de Defesa dos Animais do Rio. Recebi o convite do produtor Sérgio Madureira, um grande amigo. Infelizmente ele teve um derrame e morreu antes da estreia. Trabalhei com o (diretor) Reynaldo Boury. A novela prometia ser mais aprofundada. Os primeiros capítulos foram primorosos. Eu gravei cenas levando porrada e pendurado no pau de arara. Chegava duas horas antes para me maquiar para parecer horroroso, todo ferido. A trama tratava dos anos de chumbo no Brasil e a proposta era fazer algo muito corajoso. Não chegou a ser censurada, mas o SBT sofreu um aperto. Repentinamente, o foco mudou. Mesmo assim a experiência foi boa.

    Quais trabalhos o senhor destaca como preferidos?

    Estreei aos 16 anos no Teatro Brasileiro de Comédias (TBC), ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto. Isso me ajudou quando fomos para a TV Tupi fazer televisão ao vivo. Contracenar com esses grandes atores foi uma escola. Já na Globo, “Irmãos coragem” foi um marco extraordinário. Todas as novelas que fiz com o (diretor) Herval Rossano para o horário das 18h, como “O feijão e o sonho” (1976), “Maria, Maria” (1978) e “Terras sem fim” (1981), foram muito importantes. Destaco ainda “Roque Santeiro” e “A viagem”. Até hoje as pessoas pensam que sou espírita por causa dessa trama.

    Como entrou para o TBC mesmo sendo mais novo que os outros atores da companhia?

    Eu fazia parte de um grupo de teatro amador durante o segundo ano científico, quando abriram testes para o TBC. O Ítalo Rossi chegou vestido de japonês e me perguntou se eu já havia feito teatro. Fui orientado a mentir no teste, mas disse que não. No palco, ele me deu uma bola imaginária. Botei a bola para rodar. Ali, aprendi que ser ator não era só chegar, abrir o pano e se divertir.

    A carreira do senhor no cinema ficou marcada pelo episódio “Vereda tropical” da pornochanchada “Contos eróticos” (1977), em que seu personagem faz sexo com uma melancia. Como vê esse trabalho?

    Até hoje me dizem: “Cuidado com a melancia”. Sempre levei as piadas numa boa. À época das filmagens, o (diretor) Joaquim Pedro de Andrade ficou preocupado com uma frase em que o personagem falava da sua ejaculação precoce. Esse é o menor dos problemas! Ele era um cara que transava com uma melancia (risos).

    O senhor estará em “Sessão de terapia”. Já fez análise?

    Teve uma época que fiz análise, mas fiquei inteiramente curado (risos). Eu faço teatro, que também é uma forma de terapia. Mas essa série para mim foi uma catarse. Tenho um trato comigo mesmo: não ficar barrigudo, não ficar careca e não chorar na frente dos outros. Mas chorei ao ver o Selton e a equipe chorando depois de gravar uma cena minha.

    É difícil envelhecer na televisão?

    Envelhecer é inevitável. Claro que na comparação física você perde. Mas é preciso se manter com dignidade. Acho importante um ator de determinada idade fazer papéis da idade dele. Querer parecer mais jovem é mentiroso e ridículo. Vocês nunca não vão me ver de cabelo pintado. E sempre vai ter o papel de um velho bruxo para fazer. O que não quero é forçar a barra para estar no ar ou na mídia. Tenho que me guardar. Em respeito a mim mesmo. (globo.com)

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    UE lança reflexão para rivalizar com o vasto plano de investimento global da China, especialmente em África

    O financiamento do Global Gateway da UE tem sido “muito disperso” e deve ser concentrado se quisermos ter alguma...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema