O petróleo de xisto mudou o mercado mundial para sempre, diz Jeffrey Currie, da Goldman Sachs. Ele acredita que o preço do crude manter-se-á nos 50 dólares este ano e nos 65 em 2016
Jeffrey Currie, doutorado em Economia, pela Universidade de Chicago, lidera a equipa de investimentos globais em commodities do poderoso banco Goldman Sachs. Ele tem a responsabilidade de analisar as tendências de preço das matérias-primas de várias indústrias, desde a extractiva (petróleo e outros minerais) à agrícola. “No caso do Brasil e de Angola, dois países cujo potencial do pré-sal é elevado, há dois cenários importantes. O primeiro, é que o preço do petróleo não deverá voltar tão cedo ao patamar dos 100 dólares. O segundo, é que a exploração futura do pré-sal terá mais dificuldade em ser rentabilizada”, afirmou Currie à EXAME.
Porque é que o preço do petróleo caiu a pique para os 50 dólares por barril nos últimos meses?
A descoberta do petróleo de xisto mudou o mercado radicalmente. Até 2012, ninguém levava esse tipo de exploração a sério. Mas em 2013, a extracção de xisto dos Estados Unidos foi equivalente à produção anual da Líbia no pico da sua capacidade, e a um custo muito menor. Hoje, estima-se que produzir um barril de petróleo à base de xisto possa custar cerca de 60 dólares, enquanto extraí-lo de águas ultraprofundas sai muito mais caro, algo por volta dos 110 dólares.
Porque é que as grandes potências do petróleo ainda não diminuíram a produção de modo a subir o preço?
Os países que dominam a produção mundial, sobretudo a Arábia Saudita, estão a tentar manter a sua quota de mercado a todo o custo. Eles sabem que se reduzirem a extracção de petróleo, os produtores de xisto vão apoderar-se rapidamente dessa quota. Nas contas dos grandes produtores, tem valido a pena vender o petróleo abaixo do custo de extracção. O governo saudita já reservou 750 mil milhões de dólares para suportar essa estratégia.
Essa é a única razão que explica a actual queda?
Além da evolução rápida da tecnologia, que permite extrair xisto a um custo menor nos Estados Unidos, também é importante salientar que o país possui uma capacidade de armazenagem importante — entretanto desnecessária — que tem absorvido o excesso de produção. A nível mundial, a capacidade de armazenamento e de trans- porte também é elevada, dado que ninguém antecipou que os Estados Unidos iriam cortar dramaticamente as suas importações. Por outro lado, continua a haver capital para investir nos projectos de xisto cujo retorno é muito rápido. É como na indústria mineira. Passe o exagero, basta colocar as máquinas no terreno e começar a extrair.
Qual será o ponto de equilíbrio do preço do barril?
Este ano, o petróleo irá manter-se nos 50 dólares. O novo patamar, será de 65 dólares o barril, valor que deverá ser alcançado em 2016.
Que armas podem ser usadas pelos pequenos produtores?
O grande desafio dos pequenos produtores é manterem-se competitivos, apesar do advento do xisto em grande escala. Países como o Brasil, que tinha a vantagem de ter desenvolvido uma das mais baratas tecnologias para a extração em águas profundas, ou de Angola, onde essa produção está agora a começar, podem ter dificuldades. A solução é conseguir produzir petróleo em águas profundas a um custo ainda menor do que o actual.
Mas não foi apenas o preço do petróleo que caiu. O mesmo sucedeu com outras commodities. Porquê?
A queda na cotação das commodities da indústria extractiva (como o minério de ferro) ou agrícolas (como a soja) deve-se ao abrandamento da procura dos países emergentes e à valorização do dólar. Desde 2001 que o dólar estava excessivamente desvalorizado. A partir de 2014, entrámos na fase de ajustamento cambial.
Como prevê a evolução do mercado de commodities?
A boa notícia é que as moedas dos produtores têm desvalorizado (face ao dólar) a uma velocidade maior do que a da queda do preço das commodities. Ainda vale a pena produzir o máximo possível. (exame.ao)