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    Galp reitera “total afastamento de Isabel dos Santos”

    Andy Brown, presidente do conselho de administração da Galp, garante que a petrolífera está totalmente desligada das empresas acionistas da empresária angolana. E realça o interesse da empresa no gás de Moçambique.

    A insegurança na região norte do país impede a Galp de avançar já com os projetos para a produção de gás, nomeadamente nas áreas do Coral Sul. O local está definido (onshore) mas, questionado pela DW, o presidente do conselho de administração da empresa portuguesa, Andy Brown, expressou ainda hesitação quanto ao projeto.

    “Acho que essa é a parte mais importante: restabelecer a segurança e voltar ao trabalho depois disso. O mais cedo que eu consigo prever para uma decisão final para investimentos da Galp em terra será em 2024, para o projeto na área 4 – dentro de dois anos porque temos de fazer o projeto de design (arquitetura) e depois a parte dos contratos”, justificou.

    Brown falava à imprensa estrangeira acreditada em Lisboa, esta quinta-feira (07.04), no dia em que a Galp, parceira de um consórcio de gás liderado pela Exxon Mobil, anunciou que espera construir fábricas terrestres em Moçambique em 2024.

    “Construir uma comunidade estável [em Cabo Delgado] é bastante importante”, diz Brown
    (DR)

    Investir nas comunidades
    O projeto está, entretanto, condicionado às garantias de segurança local devido à ação de grupos terroristas na região de Cabo Delgado, no extremo norte daquele país da África Austral.

    Andy Brown admite que “a situação é grave” no terreno, mas reconhece o esforço do Governo de Moçambique com vista a criar condições de segurança para viabilizar a exploração dos recursos naturais existentes.

    “Muitas pessoas perderam a vida. O número de refugiados foi devastador. Por isso, considero que a segurança tem de ser garantida. Acho que há bons indicadores, mas penso que vai levar algum tempo. Precisamos investir nas comunidades”.

    Segundo o responsável, a Fundação Galp está a fornecer apoio e ajuda às populações. “Primeiro, é preciso construir uma comunidade estável e dinâmica, isso é bastante importante, e só depois se deve começar a levar dezenas de milhares de pessoas para construir as fábricas”, sublinha.

    Andy Brown, presidente do conselho de administração da Galp
    (DR)

    “À distância” de Isabel dos Santos
    A Galp, que já opera em Angola na exploração de petróleo, mantém a “joint-venture” com a Sonangol, que tem uma participação acionista na Amorim Energia. Brown reafirmou à DW que a empresa portuguesa tem uma boa relação com a petrolífera estatal angolana.

    “Produzimos petróleo em Angola, temos uma joint-venture no retalho com a Sonangol. Eles realmente participam na Amorim Energia, mas isso é controlado através da família Amorim e as nossas interações são com a família Amorim, não com a Sonangol. Por isso, a nossa relação com a Sonangol é muito mais uma relação de negócios em torno do que fazemos em Angola.”

    Entretanto, o administrador garantiu que a Galp está totalmente desligada das empresas acionistas da empresária angolana Isabel dos Santos, depois de uma sentença nesse sentido do Tribunal Arbitral holandês.

    “Sim. A sua participação foi removida, uma participação acionista que era bastante afastada da executiva da Galp. Agora, de acordo com a decisão tomada no ano passado, foram retirados os direitos na participação a Isabel dos Santos. Sempre a mantivemos à distância, mas agora parece que temos um total afastamento de Isabel dos Santos”, sublinha.

    Galp elogia relação com a Sonangol, mas distancia-se “totalmente” da empresária Isabel dos Santos
    (DR)

    Hipótese de voltar à Galp?
    Já Rui Verde, investigador do Centro de Análise de Assuntos Políticos e Económicos de Angola (CEDESA), não crê que a Galp se tenha totalmente libertado da filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

    O jurista lembra que, há mais de meio ano, o Tribunal Arbitral holandês decidiu entregar à Sonangol a totalidade da participação acionista indireta da empresária angolana e, “no dia seguinte, Isabel dos Santos anunciou que iria recorrer dessa decisão”.

    “Em primeiro lugar, o que eu não sei – não encontrei informação suficiente e adequada – é se houve recurso; em segundo lugar, não sei se há qualquer decisão”, acrescenta.

    Rui Verde considera que, se houve recurso, existe ainda no ar “uma possibilidade de Isabel dos Santos ‘voltar’ à Galp”.

    Rui Verde, investigador e professor universitário.
    (DR)

    Parcerias estratégicas
    Por outro lado, o investigador do CEDESA entende que a petrolífera angolana Sonangol deve reavaliar a relação que tem com a Galp, uma vez que a parceira portuguesa vai deixar de estar virada apenas para o setor do petróleo e passar a focar-se no setor das energias alternativas.

    O analista refere que a Sonangol assinou protocolos com a ENI italiana, com a Total francesa e com empresas alemãs, e “não há conhecimento” de qualquer relação estratégica da petrolífera com a Galp virada para as energias alternativas.

    “A Sonangol parece estar na Galp apenas para receber dividendos, quando teria todo o interesse em ter uma parceria estratégica com a Galp sobre as energias alternativas. Portanto, a questão que se coloca é porque é que não tem?”, questiona Verde.

    Se a Sonangol não tem essa estratégia no horizonte, Rui Verde é de opinião que a petrolífera angolana devia vender a posição que detém na Galp.

    Será que a crise energética constitui um motivo forte para levar a Galp a rever a sua estratégia e apostar mais no mercado lusófono, nomeadamente em Angola, Moçambique, Brasil e em São Tomé e Príncipe?

    Rui Verde admite essa possibilidade e indica que tem que haver um equilíbrio entre as energias renováveis e a busca de petróleo, pelo menos numa fase de transição prolongada. O analista acredita que a Galp terá de rever esse posicionamento.

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    FonteDW

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