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    Empresariado em Benguela ganha impulso com investimento português

    Os mais de 200 postos de trabalho criados nos últimos anos, em Benguela, com investimentos das empresas Tendências, Indústrias e Comércio, Ludimat e Oliveira e Ligeiro, expressam o ‘peso’ dos portugueses no tecido empresarial da região, que continua a ‘piscar o olho’ aos investidores privados.

    “Quando recebi o convite, aceitei por gostar de Angola, por ser um país com muita potencialidade, apesar desta crise que vivemos recentemente”, referiu à reportagem da Angop o cidadão luso Mário Rebelo, de 49 anos de idade, sócio-gerente da empresa Oliveira e Ligeiro (OL), que começou em 2001, fruto de uma parceria entre um sócio português e um angolano.

    O foco da mesma é a venda de material escolar e mobiliário de escritório tanto em Benguela, quanto nas províncias circunvizinhas do Cuanza Sul, Huambo, Bié e Huíla. Hoje, Mário Rebelo, a viver em Angola desde 2005, diz-se orgulhoso do crescimento do projecto, que tem quatro lojas (duas delas no Lobito), um armazém de distribuição e outro de retém.

    Além de papelaria, a firma também tem, na Canjala, uma fazenda de mil hectares, dos quais 20 dedicados ao cultivo da banana, e virou-se ao ramo da manutenção de viaturas, como conta, em declarações à Angop, Mário Rebelo, natural de São João da Madeira, cidade industrializada a 30 quilómetros do Porto e tida como a “capital” do calçado em Portugal.

    O empresário garante que, ao longo destes 14 anos, a empresa sempre primou por reinvestir todos os lucros em Angola, começando por melhorar as instalações das lojas, bem como a apostar na agropecuária na Canjala, onde tem mais de 100 cabeças de gado bovino, e no ramo automóvel. Ao todo, foram criados cerca de 100 empregos.

    O também director-executivo da Oliveira e Ligeiro afirmou que a empresa tinha facturado, em 2013, um montante na ordem dos 12 milhões e meio de dólares norte-americanos, valores que em 2018 baixaram para dois milhões e 200 mil dólares, devido às condicionantes da crise económica.

    Os objectivos para este ano passam por regularizar os atrasados com os fornecedores e também começar a recuperar a capacidade de stock que a empresa já tinha e permitia fornecer qualquer revendedor em 24 horas, em qualquer quantidade.

    Exemplificou com o concurso ganho para fornecer material ao CFB (Caminho de Ferro de Benguela) no sentido de mobilar as estações e apeadeiros do Lobito ao Luau. E Mário Rebelo lembra que a empresa tinha em armazém todo o material necessário para fazer o apetrechamento, quando foi adjudicado.

    Porém, não esconde o seu optimismo porque “já se começa a conseguir divisas para contentores novos e para amortizar os antigos”, apesar dos prejuízos cambiais na empresa, que, segundo a fonte, se situaram em cerca de 70 milhões de kwanzas, em 2018, face à desvalorização da moeda nacional.

    Mercado angolano apetecível

    O cidadão português Eduardo Seabra, de 40 anos e sua família, originária da zona da Bairrada, na freguesia do Distrito de Aveiro, também não resistiram à apetência pelo mercado angolano e expandiram a empresa Ludimat, presente há mais de 40 anos no sector de materiais de construção e artigos de lar, com a “Casa Ezequiel”, no Norte de Portugal.

    E tudo começou em 2008, com a abertura no centro da cidade de Benguela da primeira das actuais duas lojas daquela firma portuguesa, num investimento privado que rondava, na altura, os 100 mil dólares norte-americanos. A isto soma-se um armazém no vale do Cavaco.

    Eduardo Seabra era dono de um bar em Coimbra, antes de deixar Portugal e rumar para Angola, onde hoje, passados 10 anos, é o director comercial da Ludimat e olha na expansão dos negócios para o mercado angolano como uma estratégia para consolidar a presença da empresa de matriz portuguesa, através de artigos de qualidade.

    De igual modo, estima que, de 2008 até hoje, o investimento da empresa já é superior aos dois milhões de euros, o que resulta da visão de reinvestir os dividendos no próprio mercado angolano e assim ir melhorando cada vez mais. Hoje, são 40 postos de trabalho directos.

    Até 2016, a Ludimat teve anos de crescimento. Contudo, Seabra assume que 2017 e 2018 foram dois anos difíceis, por impossibilidade de efectuar os pagamentos aos fornecedores de material no exterior do país. Como empresa importadora, grande parte do material não é produzido em Angola.

    Ainda assim, diz não ter sido feito nenhum despedimento de trabalhador e acrescenta que a estratégia comercial agora é reatar as vendas, voltar a ter alguma oferta e equilibrar a empresa a nível financeiro. “Ainda temos valores de facturas antigas para pagar”, disse.

    “Sempre acreditei no futuro de Angola”, admitiu Eduardo Seabra, argumentando ter uma ligação especial a Angola, isto porque seus avós afinal são de Benguela. A mãe também nasceu nesta província angolana.

    Dinamização da indústria de mobiliário

    Desde 2009 que António Carvalho, 40 anos, natural do Distrito do Porto, está em Angola, onde dá “a cara” pela Tendências, Indústrias e Comércio, empresa de direito angolano, com capitais portugueses, instalada no Polo Industrial da Catumbela. No total, emprega 80 pessoas e factura em média três milhões de dólares norte-americanos/ano.

    Sócio-gerente, António Carvalho aponta a indústria e o comércio de mobiliário como principal aposta. Mas há mais. “Temos a Fast-car, uma oficina de automóveis e a serralharia Sagermar”. E lembra: “Numa fase inicial, apostamos apenas no comércio e ao longo dos anos temos investido muito no ramo industrial, com linhas de produção nacional”.

    Acrescentou que a produção nacional contínua de mobiliário por medida ainda só representa cerca de 30 porcento de todo o produto que a Tendências distribui por quase todo o país, a partir da base logística no Polo Industrial da Catumbela.

    “Importávamos tudo para comercializar, mas nos últimos três anos temos estado a investir na área industrial”, frisou, destacando ter sido investido mais de 350 mil dólares norte-americanos na aquisição de mais três equipamentos de última geração, entre orladores e multi-furadores para aumentar os níveis de produção e dinamizar a indústria nacional de mobiliário.

    Quando a empresa surgiu eram três sócios portugueses, mas ao longo dos anos António Carvalho adquiriu a cota dos outros e hoje é o único dono da Tendências. E considera que o projecto de construção da refinaria do Lobito foi, no fundo, o chamariz para vir investir na área de mobiliário em Benguela.

    “Somos uma referência na província na área de mobiliário, tanto pela qualidade, como pela diversidade dos produtos”, explicou, antes de acentuar a ideia de querer ser mais competitivo com essa vertente na produção nacional, de maneira a baixar os preços dos produtos em cerca de 40 porcento.

    No entanto, o empresário luso olha para Angola como um país de futuro e defende que os empresários devem ter coragem e acreditar no novo foco do Executivo Angolano voltado à área produtiva.

    “Angola é um país praticamente virgem. Há ainda muito trabalho por fazer”, sublinhou, optimista com as previsões que apontam para muitas oportunidades de negócio em várias áreas em Angola, entre as quais a construção, imobiliária, infra-estruturas e agricultura.

    Contudo, nem tudo vai bem. O empresário aguarda por melhorias no sistema de concessão de vistos de entrada para Angola. “Temos necessidade de trazer mão-de-obra qualificada principalmente para dar formação e para trabalhar com mecanismos novos. Temos encontrado esse problema”, lamentou.

    “Para tratar de um visto de uma pessoa ou por vezes de duas pessoas, demora três meses. É demasiado tempo”, concluiu.

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