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    Com a Emirates não se brinca!..

    CARLOS ROSADO DE CARVALHO Economista e Docente universitário
    CARLOS ROSADO DE CARVALHO
    Economista e Docente universitário

    O Governo acaba de entregar os comandos da TAAG à Emirates, no âmbito de um contrato de concessão de gestão a 10 anos. A primeira responsabilidade dos novos pilotos será elaborar um novo plano de voo, incluindo os destinos que vai escalar, a frota com que vai operar e os correspondentes meios humanos e financeiros.

    Mas para se perceber para onde vai a TAAG é preciso saber de onde vem. O passado recente da companhia está indelevelmente marcado pela decisão da Comissão Europeia, de Julho de 2007, de incluir da TAAG na lista de companhias aéreas proibidas de voar no seu espaço aéreo alegando um conjunto de não conformidades em matéria de segurança.

    Um ano depois, em Julho de 2009, a UE aliviou o boicote e a TAAG subiu um degrau na lista negra sendo autorizada a voar para um destino europeu à sua escolha, que, naturalmente, recaíu sobre Lisboa, a rota maior e mais lucrativa. No ano seguinte, em 2010, novo alívio com o alargamento da autorização de voar a todo o espaço europeu, na condição de o fazer com aeronaves específicas, situação que permanece até hoje.

    Se é verdade que a TAAG conseguiu ultrapassar a humilhação de ser proibida de voar para a Europa, não é menos certo que as contas continuam no vermelho – os últimos dados conhecidos, referentes a 2012, revelaram prejuízos operacionais superiores a 200 milhões USD, o equivalente a 20 mil milhões Kz ao câmbio actual, para uma facturação da ordem dos 650 milhões USD. Os níveis de eficiência operacional e de serviço ao cliente também terão melhorado, mas não o suficiente para satisfazer o Governo que procedeu a várias mexidas na administração ao longo dos últimos sete anos.

    À boa (?) maneira do futebol quando os resultados não agradam muda-se o treinador. Sem querer pôr em causa a competência dos gestores angolanos que até agora estiveram aos comandos da TAAG e que, seguramente, deram o melhor de si, não tenho dúvidas de que, se o problema estava na gestão, como indicia a decisão do governo, a companhia vai voar mais alto.

    O lugar que a Emirates ocupa no mundo da aviação dispensa qualquer comentário sobre qualidade da sua gestão, ainda por cima de um leigo no sector, como é o meu caso.

    Mas como simples treinador de bancada, receio que os problemas da TAAG extravasem em muito a competência de quem a comanda.

    A entrada da lista negra não foi mais do que um sintoma desses problemas. Para voar mais alto, aproveitando as oportunidades que se abrem, em especial ao nível do continente africano, a TAAG precisa de uma terapia de choque a todos os níveis: desde o financeiro ao operacional, passando pelo humano em especial da mentalidade reinante.

    Por maior que seja o know how dos pilotos que a Emirates vai indicar para a TAAG eles precisam de ter os instrumentos de voo adequados para levarem a companhia ao destino pretendido. Aliás, não é por acaso que a Emirates condicionaou a entrada na TAAG à satisfação de certos requesitos, incluindo a aprovação de novos regulamentos governamentais.

    Com eleições à porta, a terapia de choque necessária a uma empresa mediática como a TAAG pode não vir na melhor altura do ponto de vista político.

    Sabe-se que Emirates é muito selectiva na celebração de acordos com outras companhias e por isso admito que tenha avaliado bem os riscos envolvidos. Porém, ninguém é infalível, incluindo a própria companhia do Dubai.

    Em 1998 a Emirates celebrou um acordo por 10 anos com Sri Lankan Airlines semelhante ao celebrado agora com a TAAG, em que indicou o presidente e ficou com os pelouros operacional, financeiro e administrativo e comercial. A diferença relativamente a Angola foi a tomada de uma participação de 43% no Sri Lanka.

    Dez anos depois o acordo não foi renovado por um motivo surpreendente senão mesmo comesinho.

    Segundo conta a BBC, o Presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, estava em Londres em visita privada. Precisando de regressar de urgência ao seu país para participar numa importante reunião no parlamento, mandou reservar 35 bilhetes no voo Londres-Colombo da Sri Lankan Airlines. O pedido foi-lhe recusado porque não havia lugares para tanta gente. Os gestores da companhia ainda se disponibilizaram para fazer embarcar o Presidente acompanhado de familiares directos. Sem sucesso.

    A conversa terminou com os homens da Emirates a responderem: Não podemos deixar deixar em terra 35 passageiros com bilhetes comprados. Não é assim que as companhias aéreas comerciais gerem os seus negócios e nós somos uma companhia aérea comercial.

    Pouco tempo depois do incidente o presidente indicado pela Emirates viu os vistos de trabalho e de residência serem-lhe retirados.

    O incidente com o Presidente do Sri Lanka dá- -nos uma ideia do profissionalismo com que a Emirates encara o negócio da aviação.

    Em Angola sabemos que o Presidente desloca- -se sempre no avião presidencial, pelo que a probabilidade dum incidente deste tipo ocorrer é remota. Ainda assim, quem recorda, amigo é… (expansao.ao)

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