Um cheque de 40 milhões de euros (55 milhões de dólares) foi quanto bastou para o Banco Internacional de Crédito (BIC) comprar o Banco Português de Negócios (BPN) ao Estado português e derrotar as propostas dos restantes candidatos (todos portugueses). “Ao comprar a rede BPN alargámos a oferta, quer em termos de centros de empresas quer em termos de agências. Podemos ter uma cobertura de retalho já afirmada que será estratégica para o futuro do BIC Portugal”, refere Luís Mira Amaral, presidente da comissão executiva do BIC Português e ex-ministro dos três governos do actual Presidente de Portugal, Cavaco Silva.
Corrida pelo BPN: A proposta do BIC foi a vencedora, depois de uma maratona negocial de cinco dias, onde se chegou ao preço final de 40 milhões de euros
Com esta operação, o BIC Português, que tem como accionistas de referência Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, e os angolanos Isabel dos Santos e Fernando Teles, passa da 26.ª para a 13.ª posição entre os maiores bancos a operar em Portugal. Se no final de 2010 o banco detinha 96,5 milhões de euros (133 milhões de dólares) de recursos de clientes, passará agora a deter 2,582 mil milhões de euros (3,545 mil milhões de dólares), segundo os números expressos no balanço dos dois bancos. “Temos agora a ambição de ser players no retalho, sector onde a nossa actividade tem sido incipiente, até agora. Com alguma liquidez também podemos ter uma boa oportunidade nas pequenas e médias empresas”, revelou Luís Mira Amaral.
A rede de 213 agências e centros de empresa do BPN, bem como a totalidade dos trabalhadores a eles afectos, “será transmitida ao comprador que indicou a intenção de proceder à respectiva racionalização”, referiu o Ministério das Finanças de Portugal. Na prática, isso significará o encerramento de 65 balcões e a integração de um mínimo de 750 — dos actuais 1580 colaboradores do BPN — nos quadros do banco luso-angolano. Além disso, se nos próximos anos os resultados líquidos acumulados pelo BPN forem superiores a 60 milhões de euros (82,4
milhões de dólares), o BIC comprometeu-se a pagar 20% sobre o excedente desse montante, a título de acréscimo de preço do negócio. Existem ainda mais duas restrições tornadas públicas posteriormente: a impossibilidade de distribuir dividendos nos próximos seis anos; e a reserva de 5% do capital do banco para os actuais trabalhadores.
O Estado português terá ainda de injectar mais 550 milhões de euros (755 milhões de dólares) para recapitalizar o banco e suportar os custos com a eventual cessação dos vínculos laborais dos trabalhadores das agências que venham a ser encerradas num prazo máximo de 120 dias após a data de transmissão das acções do banco. Isto significa que “o total do custo do Estado português com o BPN, descontado do preço de venda, ascende nesta data a cerca de 2,4 mil milhões de euros [3,3 mil milhões de dólares]”, salienta o Ministério das Finanças.
Enormes desafios pela frente
Mira Amaral, que gere os destinos do BIC Português a partir de um escritório localizado no centro de Lisboa a 200 metros da Avenida da Liberdade, uma das artérias mais emblemáticas da cidade, não tem dúvidas de que o BIC se vai desenvolver. Desde que foi constituído em Janeiro de 2008 o banco não tem feito outra coisa senão crescer: entre 2008 e 2010 os resultados líquidos passaram do prejuízo de 776 mil euros (1 milhão de dólares) para o lucro de 2,378 mil milhões (3,264 mil milhões) e no ano passado as contas foram fechadas com uma margem financeira de 11,7 milhões (16 milhões) e com 49,7 milhões (68 milhões) em caixa e em instrumentos equivalentes. Nos primeiros três meses deste ano, o resultado do exercício do banco registou 1,311 mil milhões de euros (1,8 mil milhões de dólares), que comparam com os prejuízos de 229 milhões (315 milhões) no período homólogo de 2010. Tudo isto com uma rede de apenas sete balcões e de 84 colaboradores, que será alargada em 70% com 151 das actuais 216 agências do BPN.
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Já os números do BPN são bastante diferentes. Desde 2007 que o BPN tem sido um gigantesco “poço de prejuízos”. As perdas médias anuais ascenderam a 304 milhões de euros (417 milhões de dólares) no último triénio. O ano mais dramático da vida do BPN remonta a 2008, que se traduziu em resultados negativos de 575,2 milhões de euros (790 milhões de dólares). Foi também nesse ano que o banco foi nacionalizado, entrando assim para a história do sistema financeiro português como a primeira nacionalização realizada no país desde 1975.
Desde então, as novas administrações do banco têm tentado inverter o rumo. Os três primeiros meses de 2011 revelam essa tendência de retoma: apesar do BPN continuar a registar prejuízos, fechou o primeiro trimestre com um prejuizo de “apenas” 5,4 milhões de euros (7,4 milhões de dólares), menos 85% do que em igual período do ano passado. A margem financeira subiu 67% para os 16,8 milhões de euros (23 milhões de dólares) enquanto o produto bancário cresceu 17,6% para os 22,1 milhões de euros (30,3 milhões de dólares).
Todos estes números deixam bem claro a potencialidade do BPN para a estratégia de crescimento do BIC. Porém, também não há dúvidas de que o banco luso-angolano terá um desafio colossal pela frente. Sobretudo, numa altura em que a economia portuguesa continuará em recessão até ao fim de 2012. Isto se acreditarmos nas palavras de Vítor Gaspar, actual ministro das Finanças português, segundo o qual, a partir dessa data, a economia portuguesa recomeçará a crescer.
Fonte: Exame
Foto: Exame
