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    Economia 100 Makas: Orfandade económica mundial

     

     

    CARLOS ROSADO DE CARVALHO Economista e Docente universitário (Foto: D.R.)
    CARLOS ROSADO DE CARVALHO
    Economista e Docente universitário
    (Foto: D.R.)

    O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de divulgar as perspectivas económicas mundiais de Outono e as notícias não são boas.

    A economia mundial vai crescer menos 0,2 pontos percentuais (pp) do que o previsto este ano e no próximo, desacelerando para 3,3% e 3,6% respectivamente.

    A ‘culpa’ dos cortes no crescimento económico mundial não morre solteira. O crescimento global reduziu-se no primeiro semestre de 2015, reflectindo uma maior desaceleração das economias emergentes e uma retoma mais fraca nas economias avançadas, justificam os técnicos da instituição de Washington. As economias avançadas, que representam 42,9% do PIB mundial, deverão crescer 2% este ano e 2,2% no próximo, menos 0,1 pp e 0,2 pp, respectivamente, do que estava previsto.

    Nas economias emergentes, que valem 57,1% da economia global, o corte é de 0,2 pp nos dois anos, para 4%, em 2015, e 4,6%, em 2016. O sincronismo entre os dois blocos coloca- -nos numa espécie de orfandade económica mundial. Em meia dúzia de anos os BRICS, acrónimo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passaram de bestiais a bestas. Na sequência da crise financeira de 2008, foram apresentados como os salvadores da economia mundial, face à letargia em que se encontravam as principais economias.

    A crise teve epicentro nos EUA, mas rapidamente atravessou o Atlântico, contagiando a Europa, e chegou ao Pacífico, nomeadamente ao Japão. Volvidos pouco mais de seis anos, com algumas feridas da crise de 2008 ainda por sarar, os mesmos BRICS são apontados como os principais culpados da degradação da situação económica mundial.

    Em termos de dinâmica de crescimento, só a Índia, a segunda economia mais pequena do quinteto, se salva. O crescimento indiano vai estabilizar face ao ano passado nos 7,3% e acelerar 0,2 pp para 7,5% no próximo.

    A China, vai desacelerar de um crescimento de 7,3% no ano passado para 6,8% este ano e 6,3% no próximo. A África do Sul vai diminuir a passada em 0,1 pp por cada ano, passando de uma taxa de 1,5% em 2014, para 1,4%, em 2015, e 1,3%, em 2016. As duas primeiras letras do acrónimo, Brasil e Rússia, registarão recessões este ano e no próximo. A economia russa deverá recuar 3,8% em 2015 e 0,6% em 2016. Já a brasileira, deverá contrair 3% e 1%, respectivamente. Apesar do (ainda?) apreciável crescimento que vai registar este ano – praticamente o dobro da média das previsões para Angola, que se mantiveram nos 3,5% este ano e no próximo -, é na China que todos os olhos estão postos.

    A desaceleração da segunda maior economia do mundo não só constitui surpresa como era esperada e até desejada. A economia chinesa está em transição para um novo padrão, com crescimento mais lento mas também mais saudável e sustentável, resume FMI no comunicado de imprensa datado de 14 de Agosto que anuncia a conclusão das consultas com o governo de Pequim no âmbito do artigo IV dos estatutos da organização.

    “Desde a crise financeira internacional, o crescimento baseou-se num mix insustentável de crédito e investimento, o que conduziu ao aumento do endividamento governamental e empresarial, à pressão acrescida sobre o sistema financeiro e à redução da eficiência do investimento”, reforça o Fundo.

    “Transitar para um modelo menos arriscado e mais sustentável requer reverter as tendências recentes. Mas fazê-lo vai reduzir a procura e inevitavelmente o crescimento no curto prazo”, alerta o FMI, acrescentando que “gerir o abrandamento é o principal desafio”. A agência de rating Fitch aponta para um “longo período” de menor crescimento “bem abaixo” dos referidos 7%.

    “A enorme dívida acumulada após a crise financeira de 2008 e o sobreinvestimento no imobiliário residencial têm de ser enfrentados, o que exercerá algum travão na economia durante vários anos”, justificam os analistas da agência. O travão chinês está a contagiar as economias africanas, que foram mesmo as que registaram maiores cortes nas projecções de crescimento para este ano e no próximo: 0,6 pp para 3,8% e 0,8 pp para 4,3%, respectivamente.

    É em Angola que os cortes no crescimento foram maiores. Em Abril, o FMI previa que a economia nacional crescesse 5,5% em 2015 e 5,9%, em 2016 e agora aponta para 3,5% nos dois anos, menos 2 p.p. e 2,4 p.p., respectivamente. É neste quadro difícil que o Governo está a ultimar a proposta de OGE para 2016. Esperemos o melhor, mas preparemo-nos para o pior. (expansao.ao)

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