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    Historiador: papel dos movimentos anticolonialistas não é reconhecido

    Rui Lopes disse que o papel global dos movimentos anticolonialistas não é reconhecido em Portugal e lamentou a ausência da memória pública de figuras como Amílcar Cabral.

    O historiador Rui Lopes disse que o papel global dos movimentos anticolonialistas não é reconhecido em Portugal e lamentou a ausência da memória pública de figuras como Amílcar Cabral, o líder lusófono com maior projeção internacional no século XX.

    “Muito recentemente [Amílcar Cabral] foi eleito pela revista BBC World History como o segundo maior líder mundial de todos os tempos, algo que causou alguma surpresa em Portugal onde não existe disseminada a noção de que foi, porventura, a figura do mundo português com maior projeção internacional na história política do século XX”, defendeu Rui Lopes.

    O investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade nova de Lisboa falava, em entrevista à agência Lusa, a propósito do projeto “Amílcar Cabral, da História Política às Políticas da Memória”, que coordenou e que, ao longo de três anos e meio, envolveu 14 investigadores de vários países.

    Para o historiador, esta ausência é tão mais “impressionante” quanto o colonialismo português é uma “questão com muita presença no espaço público”, ainda que mais ligada às figuras da então metrópole do que às que promoveram a luta conta o colonialismo.

    “É muito curiosa a relativa ausência da memória, da discussão pública e dos currículos em Portugal onde não é relembrado e não é reconhecido o papel dos movimentos anticolonialistas e de figuras como Cabral do ponto de vista internacional”, apontou.

    Por isso, adiantou o historiador, o projeto que liderou teve como ponto de partida procurar “uma resposta a esta ausência” que, segundo disse, não se verifica apenas no discurso público, mas também na academia e na própria historiografia do colonialismo português.

    A dimensão internacional e o “alcance” do fundador do Partido para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), Amílcar Cabral, foi, segundo Rui Lopes, o aspeto mais surpreendente deste trabalho.

    “Tínhamos alguma noção de que Amílcar Cabral e o PAIGC tinham feito um hábil trabalho diplomático, com contactos um pouco por todo o mundo, mas concluímos que era muito mais vasto e muito mais longe do que alguma vez podíamos imaginar”, afirmou.

    Rui Lopes apontou como um dos “elementos mais impressionantes” a quantidade de países, de movimentos e de partidos mobilizados por Cabral, pelo PAIGC e pelos outros movimentos de libertação para este conflito.

    “É impressionante como um grupo de pessoas, que estavam à partida numa posição completamente subalterna nesta história, que são sujeitos de colónias num contexto altamente repressivo, num país sem grandes meios e com políticas particularmente violentas consegue chegar desde as Nações Unidas até ao Papa, desde os movimentos que estão na rua no Maio de 68 em Paris até à Organização da Unidade Africana, de Cuba à Suécia”, frisou.

    “Conseguem de facto um nível de diálogo e de ligações à escala planetária”, acrescentou Rui Lopes, considerando que a projeção alcançada pelos movimentos de libertação só foi “possível através de um enorme trabalho de circulação internacional”.

    Para o historiador, “Amílcar Cabral e a luta de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde fazem parte de uma história, que não é apenas destes dois países e de Portugal, mas de uma história global e transnacional que mobilizou a circulação de pessoas, ideias, bens, armas, medicamentos, livros e filmes, desde Cuba até a China, desde os Estados Unidos até à Europa e um pouco por toda a África”.

    Em consequência, recordou, “Cabral e as suas ideias tornaram-se numa referência para movimentos revolucionários um pouco por todo o mundo e ainda hoje são uma referência importante no movimento afro-americano que tem estado nas notícias”.

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    FonteSábado

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