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    Grupo empresarial que recebeu fundos públicos em fábrica têxtil acusada de pagar “salários de miséria”

    VOA | João Marcos

    Sem salários há seis meses, trabalhadores da fábrica têxtil de Benguela, objecto de providência cautelar devido ao não reembolso de empréstimos solicitados pelo Estado angolano, revelam que os gestores vendem uma falsa imagem ao país, quando a realidade é de sofrimento para a maioria e enriquecimento para um pequeno grupo.

    Paralisada por falta de matéria-prima, à semelhança das duas outras na mira da Procuradoria-geral da República (PGR), em Luanda e no Kwanza Norte, a fábrica poderá ter de indemnizar 15 funcionários expulsos por terem lutado contra “salários míseros e gestão danosa”.

    Beneficiário de um investimento público de 480 milhões de dólares, o grupo Alassola, uma sociedade anónima que estará a esconder o rosto de altas figuras do regime angolano, apontou sempre para a falta de algodão para conter o clima de insatisfação que enfrentou em cinco anos na gestão da fábrica.

    À espera de indemnização, Avelino Bueno, do grupo dos expulsos, faz o retracto de uma situação que nem a exportação de fios de algodão atenuou.

    “Fomos recebendo salários míseros (35 mil) até acontecer a situação dos descontentes. Chegou uma fase em que a fábrica rebentou, nem sequer dinheiro para salários tinha. Nós víamos exportações através do Porto, mas nada recebíamos, por isso pensamos que eles, os sócios, dividiam tudo”, denuncia.

    Também de olhos em indemnizações, mas há mais de 20 anos, estão centenas de antigos operários da velha África Têxtil, anterior denominação da fábrica que levou o Estado a accionar a linha de crédito do Japão para o projecto de reabilitação e modernização.

    O sindicalista Rogério Cabral salienta que o quadro vigente alimenta a revolta de um colectivo que merece apenas 945 milhões de Kwanzas, pouco mais de 3 milhões de dólares.

    “Fizemos directamente uma carta ao senhor Presidente da República, estamos à espera de resposta há um mês. Enquanto isso, é esta badalada da PGR. O sentimento é de desagrado, por isso esta carta é uma queixa para saber porquê que ninguém foi ao tesouro’’, sustenta o antigo operário.

    Quanto à solução, extensiva às fábricas do Dondo e Textang II, o jurista Eurico Bongue aponta para a responsabilização civil dos implicados.

    ‘’No sentido de trabalharem, junto do Estado, para a devolução gradual da dívida. Deve-se evitar que a balança da dívida seja tão alta, motivada por créditos a privados. Se os seus projectos são viáveis, então devem trabalhar para o reembolso’’, aponta Bongue.

    Apesar das várias tentativas, a VOA não conseguiu uma reacção do presidente do Conselho de Administração, Tambwe Mukaz, apontado como um dos proprietários da Alassola, a braços com a PGR após ter fechado um negócio para receber algodão da Namíbia.

    As três firmas representam um investimento superior a mil milhões de dólares, publicamente criticado pelo Presidente João Lourenço, e duas receberam do Banco Africano de Investimentos (BAI), mediante garantia soberana do Estado, mais 12 mil milhões de kwanzas.

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