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    França: Nicolas Sarkozy é criminoso ou vítima de intrigas políticas?

    (Foto: REUTERS/Benoit Tessier)
    (Foto: REUTERS/Benoit Tessier)

    Nicolas Sarkozy se arrisca a uma pena de até 10 anos de prisão e multa de 200 mil euros devido a uma acusação que muitos peritos consideram fictícia. É possível que o ex-presidente francês esteja sendo pressionado para não regressar à política activa.

    Os investigadores supõem que Sarkozy, durante a análise pelo Tribunal de Cassação do chamado caso Bettencourt sobre o financiamento da sua campanha eleitoral, tentou obter através do seu advogado informações protegidas pelo sigilo profissional. Por seu turno, Sarkozy, segundo dados da investigação, podia ter prometido ao juiz do Tribunal de Cassação Gilbert Azibert ajuda na obtenção de um cargo judicial de prestígio no Mónaco.

    O próprio Nicolas Sarkozy está convencido que as acusações apresentadas contra ele possuem uma motivação política. Na sua opinião, o sistema judicial francês é usado para ajustar contas pessoais.

    Sem dúvida que qualquer pessoa sob investigação judicial tenta afastar de si as suspeitas. Contudo, as palavras do político ganham um certo peso perante o fato de o seu caso ser o primeiro na história da Quinta República em que um tribunal autoriza a detenção de um antigo presidente.

    A acusação usa a tipologia de “tráfico de influências”. Os cépticos chamam para isso uma especial atenção. Eis o que diz Yannick Urrien, editor principal da rádio bretã Kernews:

    “Quando se vê essa expressão nas primeiras páginas dos jornais, parece que é uma coisa muito séria. Contudo, todos nós praticamos o “tráfico de influências” desde tenra infância. Se você tem boas relações com o açougueiro e vai fazer uma importante festa de família, você vai ao mercado no domingo de manhã e diz ao vendedor: “Dê-me o melhor bocado que tiver.” Partindo do princípio que, sendo você um cliente habitual, ele deverá guardar o melhor bocado precisamente para você. Isso é “tráfico de influências” e nós assistimos a isso em todos os níveis da sociedade! Não há uma pessoa que nunca o tenha feito. Grosso modo, é disso que Nicolas Sarkozy é acusado. Mas então isso é realmente ilegal e ele deve ser punido por isso, porque ele próprio era a favor de uma completa intolerância perante esse fenómeno e explicava-nos que a justiça devia aplicar um castigo exemplar. Agora ele próprio é disso vítima no caso de uma ilegalidade, que contudo não é muito grave.”

    Em meados de Junho, um dos líderes do centro-direita francês, o presidente da União por um Movimento Popular (UMP) Jean-François Copé, teve de se demitir. Se Nicolas Sarkozy ocupar seu lugar, ele será um dos candidatos mais fortes às eleições presidenciais de 2017. Quase de certeza que o inquérito judicial vai prejudicar esses planos. Por outras palavras, a justiça francesa escolheu um momento muito “propício” para colocar uma cruz nas ambições do político.

    Numa situação semelhante se encontra o diretor do Fundo Monetário Internacional Dominique Strauss-Kahn, o qual era apontado como possível candidato socialista ao cargo de presidente de França nas eleições de 2012. Segundo as pesquisas de opinião, Strauss-Kahn tinha mesmo mais possibilidades de ser eleito que Nicolas Sarkozy ou os seus outros adversários. Contudo, em Maio de 2011, o político foi detido sob acusação de tentativa de estupro de uma camareira do hotel Sofitel, em Nova York. No verão do mesmo ano o caso contra Strauss-Kahn começou se desmoronando e, no início do outono, o Suprema Corte de Nova York retirou todas as acusações contra ele. Porém, o agora ex-presidente do FMI anunciou, na sua primeira entrevista depois de sair da prisão, que se retirava da corrida presidencial.

    Outro escândalo semelhante está decorrendo neste momento na Polónia. O ministro das Relações Exteriores desse país, e um dos pretendentes reais ao cargo de Alto Representante da União Europeia para as Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski teria alegadamente falado abertamente, em conversa telefónica privada, da total dependência do seu país dos EUA. A divulgação da gravação desse telefonema, mesmo que depois este seja reconhecido como uma falsificação, irá quase certamente enterrar as ambições políticas de Sikorski (apesar de o ministro, em bom rigor, não tenha dito nada que os restantes polacos não soubessem). Aqui também, se o desejarmos, podemos ver analogias com o caso Sarkozy.

    Diz o editor principal da rádio bretã Kernews Yannick Urrien:

    “Eu preferiria que Nicolas Sarkozy tivesse de se justificar sobre assuntos bastante mais sérios, como por exemplo quando ele ouviu o conselho de um pseudo-intelectual francês e iniciou uma guerra na Líbia com todas as consequências daí decorrentes. Já quando Nicolas Sarkozy telefona ao juiz para saber como está decorrendo a investigação e o juiz lhe responde: “Veio mesmo a propósito. Tenho um assunto lá no Principado do Mónaco, seria excelente se pudesses telefonar ao príncipe Albert e pedir a ajuda dele”, isso já é ao nível das travessuras de criança. Isso num país em que policiais e juízes liberam assaltantes e traficantes três horas depois da detenção, assim como imigrantes ilegais, dizendo que nada mais podem fazer. Portanto, deter um antigo presidente por um dia inteiro só porque ele fez um telefonema é perder todo o sentido da realidade e da proporcionalidade.”

    Os opositores políticos do antigo presidente francês, negando em geral a teoria da conspiração, supõem que o caso Sarkozy desvenda uma prática corrupta de manipulações e acordos nas altas esferas do poder. Os seus apoiantes consideram que se trata de uma verdadeira perseguição e que isso irá fortalecer ainda mais a determinação de Sarkozy.

    Uma coisa é clara: o antigo presidente de França é tratado como um criminoso de nível internacional sem o mínimo dos fundamentos. Isso cria um sério precedente na prática jurídica da Quinta República e transmite um sinal negativo a todo o sistema político europeu, já de si fragilizado. (ruvr.ru)

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