Uma das últimas viagens oficiais de Durão Barroso foi à capital norte-americana, antes de deixar o cargo de presidente da Comissão Europeia, no final de ano.
Falou com membros do Congresso e do Supremo Tribunal e recebeu o prémio de liderança internacional, atribuído anualmente pelo Conselho do Atlântico.
Neste décimo aniversário do maior alargamento da história da União Europeia, Barroso considerou que a segurança europeia melhorou e que a Europa é agora mais forte.
euronews – Senhor presidente, falemos das relaçãoes entre a União Europeia e os Estados Unidos. O escândalo das escutas ilegais da Agência de Segurança Nacional teve muito impacto na Europa, as negociações sobre o acordo de livre comércio e os investimentos são muito complicadas e os dois lados têm objeções, por isso pergunto como estão as relações bilaterais?
Durão Barroso – É importante compreender que a Associação de Comércio e investimento transatlântico pode fazer uma verdadeira transformação no cenário económico global, porque a nossa parceria é, de longe, a maior, em termos de comércio e investimento. Houve e ainda há algumas preocupações, nomeadamente sobre a questão da vigilância feita pelas agências norte-americanas, o que é uma questão muito séria, de que nos queixámos aos nossos parceiros americanos de um modo forte e convincente. Mas também estabelecemos diálos diretos.
euronews – Vamos falar sobre a Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin é cada vez mais popular e as diferentes fases das sanções não mudaram nada, até agora. Quando é que vamos ter sanções que realmente façam a diferença e em que os russos acreditem?
Durão Barroso – O nosso objetivo é mostrar a Moscovo que deve resolver a situação, o que não está a ser feito. Podia tomar, pelos menos, duas medidas. Uma delas, fazer uma chamada pública e inequívoca aos separatistas que estão a causar problemas no leste da Ucrânia para cessar as ações e deporem as armas . E a outra medida é revogar a decisão da Duma para autorizar o uso da força na Ucrânia.euronews – Vai deixar a presidência da Comissão Europeia dentro de meses. Quais são seus sentimentos agora? Quais foram as maiores conquistas, desilusões ou erros?
Durão Barroso – O facto de termos sido capazes, nestes tempos difíceis, de manter a Europa unida, livre e agora ainda mais forte, creio eu, tem um significado enorme e mostra que as forças da integração são mais fortes do que as forças da desintegração. E tenho orgulho da contribuição da Comissão para o conseguir.
euronews – Provavelmente, conhece o seu sucessor pessoalmente. Tem algum conselho para ele ou ela?
Durão Barroso – Bem, geralmente os sucessores não gostam de ouvir os conselhos dos antecessores. Mas, se me permite, eu aconselho a pessoa que me suceda como Presidente da Comissão a ter muita paciência . Não é fácil presidir a uma Comissão com 28 membros, com uma administração importante, e trabalhar em conjunto com os Estados membros, com o Conselho e o Parlamento Europeu. Então é preciso ter paciência e determinação, e espero que boa forma. Mas no geral, o mais importante é ter paixão pela a Europa. Tendo essa paixão e uma boa dose de paciência, tudo é possível. “ (euronews.com)