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    Cinema: Cowboys à Angolana


    (Video.Filme “Os odiados sem culpa”)
    Avelino Firmino Humba, também conhecido por ‘Cowboy’, lançou recentemente o primeiro filme de cowboys angolano, com o sugestivo título de Os odiados sem culpa. O filme custou apenas 45 mil dólares, apesar de contar com centenas de pessoas. Metade dos DVD já estão vendidos.

    A história acompanha um grupo de cowboys malfeitores que descobre uma aldeia, em Mazozo, no Catete, onde as pessoas vivem felizes mas são obrigadas a percorrer 50 quilómetros quando precisam de consultar um médico. A população da aldeia e os sobas procuram alguém com poder económico que possa resolver a questão do saneamento básico na região e instalar um hospital, uma vez que as mortes são frequentes.

    Os boiadeiros simulam disponibilidade para ajudar, mas rapidamente se transformam em vilões e acabam por tomar a região com violência, fazendo reféns os autóctones da região. O projecto, que se queria socialmente relevante, acaba por cair nas mãos de um grupo de 39 cowboys que apenas pretende vigarizar a população.
    À chegada à aldeia, ‘os maus da fita’ começam a roubar o gado, a violar mulheres, a matar e torturar jovens e a aplicar regras sem lei. A situação acaba por causar a fúria entre os nativos ao sentirem-se enganados por estranhos que montam cavalos e usam armas de fogo.

    Em reuniões secretas, os locais planeiam diversas formas para acabar com a ocupação, ao ponto de solicitarem apoio junto de povoados vizinhos, que também se sentem ameaçados. A história acaba, invariavelmente, como todos os westerns: os maus são mortos e expulsos e a liberdade e a paz regressam à aldeia. Mas o hospital, os médicos e a saneamento básico continuam por fazer.

    Filme custou 45 mil dólares
    Segundo o realizador e mentor do projecto, Os odiados sem culpa, com a duração de 80 minutos, foi lançado em meados do mês passado e contou no elenco com 39 protagonistas e 300 figurantes.
    Avelino ‘Cowboy’ disse ao SOL que teve a ideia no ano de 2000, mas sem capacidade financeira para concretizar o projecto, este foi adiado praticamente 15 anos. «Não foi fácil, mas realizei o sonho», disse, com um sorriso.

    A materialização só foi possível com «o patrocínio das claques do 1.º de Agosto, Petro de Luanda, Kabuscorp do Palanca e da própria Polícia Nacional».
    Explicou que, enquanto adepto ferrenho do clube militar [1.º de Agosto] e responsável pelo núcleo da claque em Viana, conseguiu conquistar amizades que «felizmente têm sido muito úteis para ajudar à materialização de alguns sonhos».

    Do filme foram reproduzidas mais de cinco mil cópias e em menos de um mês mais de metade já encontrou dono, ao preço único de mil kwanzas. «Foram comercializadas cópias na Casa da Juventude de Viana, no Jango do Artesanato e no Benfica. Em finais de Março, vou levar os DVD ao Uíge e ao Zaire. Três mil exemplares foram para os adeptos das claques que me apoiaram», esclareceu. O realizador desconhece ainda se o filme acabará ou não por entrar no circuito comercial.

    Os odiados sem culpa foi produzido pela empresa angolana NG-Filmes, com um orçamento de cerca de 4,5 milhões de kwanzas, (45 mil dólares). ‘Cowboy’ revelou que o alto custo da produção o levou a contrair uma dívida de aproximadamente nove mil dólares. O filme tem a participação especial de Patrick Wanga e Elísio Basílio.

    Vida de cowboy
    Avelino Humba é um dos rostos mais sonantes da claque do 1.º de Agosto. Em qualquer parte do país é reconhecido com facilidade pela imagem de marca: Veste-se a condizer com a alcunha, desde 1994.
    Certo é que a imagem a lembrar os «duros do Oeste americano» acabou por, também ela, interferir na sua vida privada, segundo contou. «Adiei o sonho muitas vezes por estar em algumas ocasiões na iminência de perder a minha mulher. Ficava doente e dizia sempre que a culpa era minha, porque estava a levar a vida de cowboy muito a sério. Acabámos por nos separar. Mas não me arrependo, até porque os cowboys nunca se entregam de corpo e alma a uma mulher», ‘disparou’.

    O filme contou com o apoio da Polícia Nacional, principalmente a cavalaria. As autoridades disponibilizaram 16 cavalos para as filmagens da longa-metragem. «No início as pessoas colocavam em causa a capacidade de realizar o filme, ainda por cima só tinha dois cavalos. Quase todos diziam que seria impossível. Mas felizmente contei com o apoio da Polícia Nacional e rodámos com 18 cavalos», explicou o realizador.

    Tudo começou no Huambo, terra natal de Avelino. Aos 12 anos, em 1994, foi assistir ao jogo do Girabola entre Mambrôa e o 1º de Agosto, sem a autorização dos pais. No final, triste pela derrota da equipa caseira, viu um dirigente do 1.º de Agosto vestido à cowboy. «Foi amor à primeira vista», lembra.

    Nessa fase da vida decidiu imitar o look do «novo ídolo», apesar de reprovado pelos pais. Para Avelino ‘Cowboy’ a persistência venceu «a teimosia» deles, que acabaram por lhe dar o pseudónimo. Com a alteração do nome, Avelino resolveu também aderir ao 1º de Agosto, com a despromoção da equipa do Huambo.

    Assegura ter «muitos projectos em carteira», ainda não concretizados por falta de apoios financeiros. Contudo, garantiu que nos próximos três anos serão gravados outros tantos filmes: O Regresso dos demónios, Noite Branca, (outro western, mas de terror), e a comédia O Coleccionador de cuecas.
    «Pretendemos gravar em várias regiões do país, principalmente na zona Centro Sul», esclareceu. E deixa um desafio a si próprio: «Desejo que até 2020, quando estiverem a falar de cinema em Angola, o meu nome e o dos outros cowboys sejam tidos em conta». (jose.mauricio@sol.co.ao)

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