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    Assim, Dr. Job Graça, crescemos 7,4% ou 6% em 2013?

    CARLOS ROSADO DE CARVALHO Economista e Docente universitário
    CARLOS ROSADO DE CARVALHO
    Economista e Docente universitário

    São desoladoras as notícias que vêm de fora sobre o desempenho da economia angolana, medido pela variação real anual do produto interno bruto (PIB), em 2013. Começando por 2013, na semana passada, o Banco Mundial (BM), no Angola Economic Update de Junho de 2014, estima que a economia angolana cresceu apenas 4,4% em termos reais no ano passado, desacelerando 1,4 pontos percentuais (pp) face aos 5,8% estimados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) para 2012.

    O Fundo Monetário Internacional (FMI) ainda é mais pessimista avançando uma taxa de crescimento de apenas 4,1% em 2013. A confirmarem-se as estimativas e previsões do BM e do FMI, a economia angolana está a enfrentar dificuldades para se reerguer do trambolhão provocado pela crise financeira internacional de 2008. Segundo o INE, entre 2003 e 2008, a economia angolana cresceu à impressionante taxa média anual de 10,9%.

    Entre 2009 e 2011, triénio a seguir à crise, o ritmo de crescimento real da economia angolana travou acentuadamente, não ultrapassando os 2,5% também de acordo com o INE. Uma taxa que não deu sequer para cobrir a taxa de crescimento da população, estimada em cerca de 3% ao ano. Em 2012, o crescimento da economia angolana acelerou para 5,8%, ainda segundo o INE, indiciando que a retoma tinha, finalmente, chegado.

    A divulgação do relatório e contas do Banco Nacional de Angola, na segunda quinzena de Junho, deu alento às perspectivas mais optimistas sobre a evolução da economia angolana. Citando dados do Ministério do Planeamento e Desenvolvimento Territorial (MinPlan), o BNA revelou que, em 2013, o ritmo de crescimento do PIB angolano acelerou 2,6 pp, para 7,4%, a taxa mais elevada do pós-crise. Contudo, uma análise mais fina dos números do ministério tutelado por Job Graça revela incongruências matemáticas que, a confirmarem-se, são pouco abonatórias para quem os calculou.

    O BNA justifica a aceleração da economia para uma taxa de crescimento de 7,4% com a performance favorável do sector não petrolífero, que terá crescido 11,5% no ano passado, mais do que compensando a quebra de 0,33% do sector petrolífero. A maka é que os números do crescimento global e dos crescimentos sectoriais não batem certo.

    Numa economia com dois sectores, o crescimento global é a média ponderada do crescimento desses dois sectores. Segundo o relatório e contas do banco central, citando o MinPlan, em 2012, o sector não petrolífero pesava 53,1% do PIB, sendo os restantes 46,9% assegurados pelo sector petrolífero. Aplicando a média ponderada aos dados do MinPlan, concluímos que o sector não petrolífero contribuiu com 6,1% para o crescimento da economia em 2013.

    Já o contributo do sector petrolífero foi negativo em 0,1%. Somando o contributo dos dois sectores, chegamos a uma taxa de crescimento global da economia angolana de 6%, isto é, menos 1,4 pp do que os 7,4% avançados pelo MinPlan e que o BNA repete. Os dados são do MinPlan.

    Por isso, é ao ministério que cabe explicar eventuais incongruências nos números. Contudo, espera-se que uma instituição com a responsabilidade do BNA não se limite a repetir números, acriticamente, ainda que citando a fonte. Ao banco central exige-se, no mínimo, que teste os dados que utiliza em relatórios oficiais e que só os publique se forem validados por esses testes, o que, aparentemente, não sucedeu.

    A política monetária é definida com base em estimativas e projecções sobre a evolução da economia. Se a informação em que se baseiam as decisões de política monetária do BNA, nomeadamente sobre as taxas de juro, não é a mais fiável, corre-se o risco de as decisões não serem as mais correctas. Por isso, os bancos centrais em (quase) todo o mundo têm gabinetes de estudo que elaboram as suas próprias estimativas e previsões que, depois, são confrontadas com as de outras fontes.

    Quando é que o BNA passa a fazer o mesmo? Além da sua eventual incongruência matemática, os números do MinPlan são contraditórios com os do Banco Mundial e os do FMI. Enquanto as duas instituições internacionais dizem que a economia angolana desacelerou em 2013 face a 2012, o MinPlan diz que acelerou. Diferenças entre estimativas e projecções de crescimento são o pão nosso de cada dia.

    É natural que fontes diferentes apresentem números diferentes. O que é menos natural é que a tendência seja diferente, isto é, que uns digam que a economia vai acelerar e que outros apontem em sentido contrário. Por isso muitos economistas, entre os quais me incluo, mais do que os números em concreto valorizam a tendência. Quando as diferenças são nos números e na tendência, instala-se a confusão. Que é como eu estou relativamente à evolução da economia angolana em 2013.

    Enquanto não chegam os números do INE, os primeiros dados preliminares serão divulgados apenas em Dezembro, cabe ao MinPlan explicar o que se passa, em nome de uma correcta gestão das expectativas dos agentes económicos… (expansao.ao)

     

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