O director executivo da consultoria Abacus destaca o crescimento que o sector imobiliário continua a registar apesar de ter considerado que existem ainda alguns entraves no mercado.
Jornal de Economia & Finanças (JE) – O sector imobiliário em Angola está dependente do desenvolvimento económico do país. Como avalia o crescimento deste ramo ?
Paulo Trindade (PT) – O sector imobiliário é um dos que à semelhança de tantos outros em Angola, está na fase de crescimento e a caminho da maturação.
JE – Quais são os principais constrangimentos que o sector ainda enfrenta?
PT – Entre outros, evidencio o burocrático, com extrema dificuldade de adaptação da máquina do Estado às necessidades do ideal funcionamento do mercado, provocando constrangimentos no mercado. Havendo dificuldades nos registos, não há hipotecas, nem créditos.
JE – Em Comparação aos anos em que se registaram uma procura intensa, principalmente em 2008/2009, existe uma melhoria em termos de equilíbrio/baixa dos preços?
PT – Em alguns segmentos verificou-se uma redução de valores, especialmente nos edifícios coloniais e moradias no centro de Luanda. Nos edifícios novos não houve redução dos valores, com excepção de alguns. Com a esperada entrada de muitos negócios no sector petrolífero e diamantífero, o crescimento das organizações em Angola, não se deverá esperar reduções de valores, pois os edifícios novos a entrar na cidade são inferiores ao esperado aumento da procura.
JE – Continua o fenómeno “venda de apartamentos na planta” que muitas empresas imobiliárias realizavam em anos anteriores?
PT – Isso acabou há quase dois anos, após as más experiências. Haviam pessoas que já tinham comprado e pago algo, quando terminados os espaços físicos, ficavam àquem em termos de dimensão do que as pessoas esperavam, invariavelmente pequenos demais. Hoje apenas, de forma marginal, se vende em planta.
JE – Qual os segmentos (residencial ou escritório) regista mais procura?
PT – Ambos. As empresas têm dificuldades em encontrar espaços adequados onde trabalhar, em termos de residências, pois há uma procura imensa da classe média. Basta ver as últimas notícias sobre as centralidades.
JE – O que está na base da relativa baixa de preços nos vários segmentos imobiliários?
PT – A pouca maturidade da oferta, pois a procura se mantém. Ou seja, alguns proprietários viram-se privados por algum tempo dos rendimentos a que estavam habituados. E o que fizeram, em vez de esperar um pouco mais, foi baixar o preço.
JE – Existem sinais para que as empresas ligadas ao sector direccionem os seus produtos para as províncias mais carenciadas?
PT – Não. Se não há poder de compra para estes serviços, não há mercado, e não faz sentido.
JE – Com o surgimento das novas Centralidades, quais são os ganhos para o sector?
PT – Dinamização, oferecendo produtos imobiliários a uma nova franja do mercado que, sem estas, não teria condições de aceder à desejada habitação.
JE – Até que ponto a renda resolúvel poderá facilitar a aquisição de residências?
PT – Poder pagar por parcelas mensais é o modelo usado internacionalmente para que todos possam aceder à casa própria. A renda resolúvel pode facilitar a aquisição, visto que é a única forma em que a classe média pode comprar casa dado que não dispõe de dinheiro em mão. ADÉRITO VELOSO (Jornal de Economia & Finanças)