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    Relâmpagos tiram sono aos lobitandas

    Populares do município do Lobito, em Benguela, manifestaram, Quartafeira, 11, a O PAÍS a sua preocupação por causa da falta de orientações sobre as precauções a serem tomadas, antes, durante e após às chuvas com trovoadas, devido à morte de Aldina Suzana, vítima deste fenómeno, que dizem os ter marcado para toda vida. Os receios são extensivos aos moradores dos Bairos da Luz, Compão, Restinga, Caponte e zona Comercial, visitadas por este jornal.

    Ana Maria Paula, 59 anos, nasceu na Canata e vive há muito tempo na Caponte. Considera o fenómeno como sendo próprio da natureza, mas não se recorda de ter ocorrido uma situação do género em toda sua vida no Lobito, com mortes à mistura.

    “Aqui o que nos tira o sono, de quando em vez , é a carga das águas das chuvas, mas trovoadas nunca foi preocupação dos lobitangas”, disse, realçando que com enchurradas com trovoadas como as de Sexta-feira, 6, todo cuidado é pouco para qualquer morador.

    Ana Paula afirmou que o mais preocupante é a falta de informação sobre as medidas de prevenção para os casos do género.

    Em relação à primeira morte por relâmpago no Lobito, Ana Maria Paula considera ser um caso inédito cá, mas desconfia da aproximação de outros, por causa da localização geográfica da cidade, construida quase por cima da água do mar.

    A nossa interlocutora recomenda aos citadinos a exigirem dos governantes informações sobre as formas de prevenção.

    “Era bom que todos nós pedíssemos aos dirigentes do município ou da província para nos anunciarem os cuidados que devemos ter nesses ambientes”, rematou.

    Por seu lado, Ananias Simão aprendeu durante a formação no ensino médio que deve desligar totalmente o telemóvel quando chove.

    O estudante não conseguiu explicar devidamente a influência da activação do meio de comunicação, dizendo, entretanto, que os relâmpagos entram em contacto com o chamado celular daí que aconselha os outros lobitangas a seguirem essas medidas de segurança.

    Ananias Simão espera que o corpo de bombeiros ou os especialistas do ramo criem alguns programas de rádio e televisão para sensibilizarem e mobilizarem a população.

    O estudante, que estava em direcção a Universidade Católica, pólo do Compão, no Lobito, apressou-se em lamentar a forma como Aldina Susana perdeu a vida na noite de Sexta-feira, 6. “Morrer já é uma pena, tratando-se ainda mais desta maneira é muito lamentável”, disse o estudante da Católica.

    Caboverdiano de Nacionalidade, Pires Santos, há um ano no Lobito, assegurou nunca ter ouvido de seus amigos nativos sobre casos semelhantes, mas ressuscitou as alegações defendidas por Ana Maria Paula, segundo as quais “o mar joga bastante influência para tal”.

    “Na minha terra tem ocorrido isso e quando assim acontece, os serviços metereológicos chamam a atenção de todos, principalmente aos responsáveis de embarcações, já que o mar influencia”, assegurou o jovem.

    Natural da Iha de São Vicente, Pires Santos informou que em Caboverde os marinheiros são obrigados a contactar sempre as capitanias, que recebem informações contínuas dos “assistentes do tempo”.

    Sublinhou ainda o cuidado com o telefone móvel, referindo-se ao já defendido por alguns, que recomendam desligá-lo tão logo se advinhe a aproximação de chuvas.
    Morte estranha

    Os vizinhos de Aldina Suzana classificaram o incidente mortal acontecido no bairro São Miguel como “estranho”, porque foi de uma forma jamais vista, em todos os anos de convivência nessa área residencial dos Caminhos de Ferro de Benguela(CFB), de modo particular, e no Lobito, em geral.

    “Esta é uma morte muito estranha, porque nunca vimos ninguém morrer assim com trovoada”, desabafou um velho cuja casa estava ligada à da malograda.

    Um ancião conta que, enquanto chovia na noite de Sexta-feira, 6, ouviram um grande estrondo. Mas o barulho não preocupou muito os moradores que cogitavam tratar-se da queda de um contentor no porto seco, localizado nas proximidasdes da área habitacional dos funcionários dos Caminhos-de-Ferro.

    Outros anda pensavam que vinha da música na festa de troca de presentes entre os referidos trabalhadores, que se realizava no centro social da empresa ferroviária, curiosamente o local onde Aldina Suzete estava momentos antes de se dirigir à casa.

    “Ela saíu da festa apenas para levar um dos filhos à cama, fê-lo . Ao regressar ao convívio foi surpreendida pelos raios aí mesmo ao lado deste coqueiro”, contou um popular, apontando o dedo para uma palmeiras que ainda conserva os sinais deixados pelos raios.

    O coqueiro apresentava uma espécie de queimadura diferente dos habituais desgastes que sofrem com o tempo. Alguns jovens, que se intitularam como testemunhas oculares do sucedido, tentaram ajudar alguns dos presentes no local para que fossem mais precisos nos depoimentos. Um detes disse até que a “tia Suzete”, estava a falar ao telefone, quando foi surpreendida por algo estranho que a queimou.

    Na verdade, todas as pessoas ouvidas no bairro são Miguel não passaram desta versão, ao ponto de ressaltarem o facto de terem encontrado o telemóvel próximo do corpo inanimado.

    “Depois dos estrondos, a vizinha do outro lado e eu saímos a questionar a origem, entretanto ninguém conseguiu explicar-nos, nem mesmo os nossos filhos vindos do serão habitual dos jovens do bairro”, avançou uma senhora. E nas primeiras horas de Sábado foram obrigados a despertar mais cedo devido aos choros, gemidos e clamores: “aíwe, tia Suzete foi”.

     

    Sinais de Suzete

    Desde 1966 que foi destacada no local, a regedora do bairro, conhecida com por Dona Genoveva, revelou que a morte de Aldina Susana lhe terá marcado bastante, devido aos últimos sinais por si apresentados nos periodos antes, durante a cerimónia e depois de se ter ausentado da festa.

    Para justificar o seu profundo sentimento, começou por salientar a voluntariedade da companheira em dirigir o grupo que organizou o festival, para depois tocar no pormenor de serventia, durante a actividade, onde se aproveitou a realizar o chamado jogo do “amigo oculto”.

    “Foi ela que estava à frente da equipa da organização, cozinhou, ainda serviu para algumas pessoas, comeu também ao lado do seu sobrinho e entreteve-se no jogo do amigo oculto”, assegurou, revelando que a colega veio com os seus filhos e preparada até para os fazer adomercer num dos compartimentos do recinto, porque trouxera cobertores e lençois consigo.

    Diz que não percebeu nada quando ficou a saber que a falecida tinha ido à sua residência, a fim de fazer adormecer uma criança que sonegava em pleno ambiente festivo. Em relação às alegações sobre o uso do telefone, Dona Genoveva confirmou que Aldina Susana recebeu uma chamada, tendo preferido abrigar-se por baixo da palmeira, onde foi surprendida pelo fenómeno.

    Quando os socorristas da vítima dos raios abordaram os funcionários do CFB, que se encontravam em ambiente festivo no centro social da companhia, foram repelidos pelos trabalhadores da ferroviária.

    A regedora justificou a atitude dos seus colaboradores, socorrendo-se no tipo de comportamento que os jovens locais têm tido, que consiste na vontade colectiva de forçar a entrada nas festas da área.

    Por isso, nem mesmo os gritos de socorro mereceram atenção, até que um dos quatro filhos de Aldina Susana apareceu à porta a chorar e a implorar ajuda.

    “Mesmo assim, todos os esforços foram feitos para se ter a colega com vida e, infelizmente, não tivemos sorte”, lamentou a senhora, pedindo a Deus que dê um lugar condigno à alma de Suzete.

    Alberto Bambi em Benguela
    Fonte: O País

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