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    A Rússia é de Putin

    Os dados são inequívocos. O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, regressará à Presidência após as eleições deste domingo, apesar da inédita vaga de protestos contra a dança de cadeiras protagonizada pelo ex-espião soviético e pelo Presidente cessante, Dmitry Medvedev.

    A mais recente sondagem do centro independente de pesquisas Levada indicava uma vitória folgada para Putin, com 66% dos votos. O segundo candidato mais votado seria, a grande distância, o comunista Guennadi Ziuganov (15%). O ultranacionalista Vladimir Jirinovski recolheria 8% dos votos, enquanto o multimilionário Mikhail Prokhorov, o grande enigma da campanha, não iria além dos 6%.

    Os números podem surpreender o leitor da imprensa internacional, onde ao longo dos últimos meses se repetiu a ideia de que a Rússia poderia também ter a sua Primavera de contestação após as manifestações de Dezembro contra a suspeita de fraude eleitoral em massa nas legislativas.

    A votação de Novembro, recorde-se, deu ao partido Rússia Unida uma magra maioria parlamentar. Pelo menos oficialmente, já que a contagem de votos começara por indicar uma perda de maioria, até que os números chegados de repúblicas como a Chechénia e o Daguestão, e de outras regiões distantes de Moscovo e São Petersburgo, com triunfos acima dos 90% para a força de Putin e Medvedev, acabaram por compor o resultado.

    Milhares de casos irregulares foram então reportados por observadores e pela oposição. Os Estados Unidos e a União Europeia declararam mesmo que as eleições não tinham sido justas nem livres. E centenas de milhares de pessoas saíram às ruas, enquanto Putin era criticado abertamente pela imprensa.

    Três meses depois, o Kremlin concluiu uma operação de contenção de danos em múltiplas frentes, a começar pela divisão da oposição. Persistem rumores de que Prokhorov será um falso candidato presidencial destinado a dividir o voto dissidente. Questiona-se porque é que o terceiro homem mais rico do país, que goza de boa imprensa no exterior, nem chegou a aquecer os motores durante a campanha.

    Putin, por seu turno, fez o possível por preservar a imagem. Não participou em qualquer debate e optou por fazer campanha através de extensos artigos de jornal – nos quais explorou o tradicional receio dos russos face ao exterior, com referências directas à intervenção externa nos conflitos líbio e sírio. Identificou ainda a vaga de contestação russa com interesses estrangeiros – norte-americanos à cabeça – e prometeu um investimento bilionário nas forças armadas, para defender a soberania e os recursos nacionais.

    O antigo e futuro Presidente também abriu os cofres: decretou aumentos de salários, pensões e bolsas de estudo, ao ponto da Rússia ter entrado em défice orçamental pela primeira vez em dez anos. Em Fevereiro, esta fatia da despesa do Estado atingiu o valor recorde de 12% do PIB.

    Moscovo é uma ilha

    Assim consolidou o apoio junto dos mais pobres, dos funcionários públicos, dos idosos e do mundo rural. O factor geográfico e demográfico é incontornável: por muito que cresça a contestação entre os jovens urbanos de formação superior, há um imenso país envelhecido e inóspito onde Putin é o herói que resgatou a Rússia do caos financeiro e que esmagou a revolta chechena.

    Houve ainda o que os mais cépticos garantem ser o tradicional golpe de Putin: uma falsa ameaça à segurança nacional. Na segunda-feira, a televisão estatal noticiava que tinha sido abortada uma conspiração terrorista que teria como alvo o ex-KGB. Na verdade, os dois supostos militantes chechenos foram detidos há um mês.

    «É melhor fingirmos que acreditamos, senão começam outra vez a rebentar prédios», satirizava um cidadão russo na rede social Twitter, citado pelo The Guardian. O eleitor referia-se à antiga suspeita de que os atentados que mataram 293 pessoas em 1999 foram perpetrados pela ‘secreta’ russa para promover Putin.

    Outra suspeita a persistir é a da manipulação eleitoral. As milhares de queixas de Novembro não resultaram em muito mais que 30 processos. Alexander Veshnyakov, até 2007 presidente da comissão de eleições, afirma que boa parte dos russos já não acredita na democracia. Perante os alertas da oposição, Putin adverte: «A minoria terá que se submeter à opinião da maioria»

    Fonte: SOL

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