O coronel que montou a estratégia militar da revolução do 25 de Abril de 1974 e que liderou o COPCON estava internado no Hospital Militar, segundo o Observador.
Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu a 31 de Agosto de 1936, em Moçambique.
Iniciou a formação como cadete-aluno em 1955 e quatro anos depois foi promovido a aspirante oficial. Chega a alferes do Quadro Permanente do Exército (QPE) em Novembro de 1960 e cerca de um ano depois é mobilizado para a primeira comissão em África, rumando a Luanda. Fez mais duas comissões, a última das quais na Guiné, já como capitão de artilharia.
Após o regresso a Portugal e face ao fracasso do Levantamento das Caldas, Otelo Saraiva de Carvalho começou a arquitetar o plano militar de operações que deu origem ao golpe militar de 25 de Abril, tornando-se no seu principal estratega.
Otelo Saraiva de Carvalho, Garcia dos Santos, Vítor Crespo e Sanches Osório subiram, lado a lado, a rua do quartel da Pontinha em direcção ao “barracão”, onde há 40 anos, e em 48 horas, mudaram o destino do país.
Dia 25 de Abril de 1974
No dia da Revolução dos Cravos, foi Otelo quem dirigiu as operações do 25 de Abril, a partir do posto de comando clandestino instalado no Quartel da Pontinha, de 24 a 26 de abril de 1974. E entre as decisões que teve de tomar nesse dia esteve a aceitação de que fosse Spínola a receber o poder das mãos de Marcelo Caetano, em vez de alguém do Movimento das Forças Armadas.
Já em Junho de 74 e após a revolução, foi nomeado por Spínola comandante-Adjunto Comando Operacional do Continente (COPCON), estrutura que passa a assumir plenamente a partir de setembro de 1974. Foram depois surgindo divisões no seio do MFA e Otelo foi-se tornando num dos militares mais radicais do movimento.
É com o 25 de novembro de 1975 que é afastado de todos os cargos, nomeadamente o papel do comando efectivo do COPCON.
Em 1984, foi julgado e preso pelo seu papel nas FP-25, tendo cumprido cinco anos de prisão efectiva. Em 1996, a Assembleia da República pôs fim a todos os processos relacionados com as FP-25, aprovando um indulto aos envolvidos.
Costa evoca “a capacidade estratégica e operacional” de Otelo
O primeiro-ministro reagiu numa curta nota à morte de Otelo Saraiva de Carvalho recordando-o como “o coordenador operacional” que pôs fim “à mais longa ditadura do século XX na Europa”.
O primeiro-ministro António Costa entende que “a capacidade estratégica e operacional de Otelo Saraiva de Carvalho e a sua dedicação e generosidade foram decisivas para o sucesso, sem derramamento de sangue, da Revolução dos Cravos”. E “tornou-se, por isso, e a justo título, um dos seus símbolos”.
Numa nota enviada às redações, o Chefe do Executivo frisa que “o Governo lamenta o falecimento do coronel Otelo Saraiva de Carvalho e endereça as mais sentidas condolências à sua família, assim como à Associação 25 de Abril”.
“Otelo Saraiva de Carvalho foi o coordenador operacional da ação militar do Movimento das Forças Armadas, que, no dia 25 de abril de 1974, derrubou o regime do Estado Novo, pondo fim à mais longa ditadura do século XX na Europa e abrindo caminho à democracia”, resume o primeiro-ministro.
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António Costa refere também que” neste dia de tristeza honramos a memória de Otelo, como um daqueles a que todos devemos a libertação consumada no 25 de Abril e, portanto, o que hoje somos”.
Otelo Saraiva de Carvalho morreu este domingo aos 84 anos, após ter estado internado no Hospital Militar.