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    Jovens querem novas oportunidades, mas não acreditam nos políticos

    Manuel terminou o curso há dois anos e continua desempregado, Eunice “vende saldo” há oito. Os dois desesperam por uma nova oportunidade, mas apesar das promessas eleitorais sobre o emprego duvidam que seja desta que a coisa mude.

    Manuel Marques, 28 anos, um filho, um curso de radiologia na Universidade de Cabo Verde, um estágio no principal hospital do país e nenhum emprego que garanta o sustento da família.

    “Terminei o curso de radiologista em 2014. Fiz um estágio de seis meses no Hospital Agostinho Neto (Praia) e até agora estou desempregado”, contou Manuel Marques à agência Lusa.

    A procura de trabalho é diária e, para se manter ocupado, Manuel vai fazendo algumas ações de formação na sua e em outras áreas, mas nem mesmo assim a tão desejada oportunidade de trabalho surge.

    “Em Cabo Verde faltam radiologistas. Na ilha de São Vicente, Sal e Boavista sei que estão a precisar de técnicos para trabalhar na área de saúde, mas não sei porque [não consigo emprego], conta visivelmente frustrado com a situação.

    “É uma situação muito difícil. Um jovem que termina o curso não conseguir o seu primeiro emprego. Espero que a situação melhore porque cada vez que um jovem acaba o curso e não consegue emprego vai gerar mais violência no país”, disse.

    Manuel Marques entende que, independente de quem ganhar as próximas eleições, a situação tem que mudar.

    “Eles é que mandaram formar urgentemente porque estavam a precisar de técnicos e agora terminamos e não temos nenhuma garantia de que podemos trabalhar, nem quando”, disse, assinalando que esta é uma situação que atinge jovens de todas as áreas de formação.

    “É triste”, considerou, lembrando que há muita gente em Cabo Verde que está reformada e continua a trabalhar ocupando lugares que podiam ser destinados aos jovens quadros.

    Manuel, que é filho de pai português, está a aguardar a documentação portuguesa para procurar o estrangeiro o que não consegue em Cabo Verde.

    Eunice Tavares, 25 anos, terminou o 12º ano em 2008 e desde então que vende saldo para telemóveis nas imediações do mercado Sucupira, o maior mercado informal do país.

    Trabalha 10 horas por dia para ganhar uma comissão de 2% sobre as vendas e se não vender não ganha. Com ela, diz à agência Lusa, conhece mais de 100 pessoas na cidade da Praia, mas garante que há mais de 400 em toda a ilha de Santiago.

    São na maioria raparigas que não conseguiram ir além dos 12 anos de escola.

    “Vimos vender saldo para não morrer de fome. Acabei o 12º ano e não tinha dinheiro para pagar o curso [na universidade]. Foi a única oportunidade que me apareceu na hora”, disse.

    Sozinha com dois filhos “para dar de comer”, Eunice não tem salário fixo e o sustento da família depende das vendas diárias.

    “Podemos vender 5 ou 10 mil escudos por dia, mas com essa crise, não vendemos nem 10 mil por dia. Se não vendemos, não ganhamos e os nossos filhos padecem”, afirmou.

    Com as eleições à porta, no próximo dia 20, e os partidos a prometerem criar mais empregos, Eunice não se deixa convencer e garante que já viu esse filme antes.

    “Não confio nos partidos. Prometem muito na campanha eleitoral para os jovens, mas quando ganham as eleições não nos ligam. Há muito jovens desempregados. Não vou votar por nenhum partido político nestas eleições”, garantiu.

    Diz que adorava ter outro emprego e até mesmo sair para trabalhar para o estrangeiro, mas não tem muita fé que isso venha a acontecer.

    “Com essa crise e do jeito que o país está nem os jovens sonham mais. Está muito mau em Cabo Verde”, lamentou.

    A criação de emprego é assumida como prioritária pelos partidos candidatos às eleições legislativas de 20 de março em Cabo Verde, país onde a taxa de desemprego é superior a 15 por cento da população ativa, e 36 por cento destes são jovens. (Noticias ao Minuto)

    por Lusa

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