Um dos assuntos em destaque na imprensa nesta terça-feira, 7 de Janeiro de 2014, é a mobilização do governo francês para tentar proibir o novo espectáculo do humorista Dieudonné. Acusado de anti-semitismo, ele começa nesta quinta-feira uma turnê pelo país em à polémica.
Na segunda-feira o ministro do Interior, Manuel Valls, publicou uma circular indicando aos prefeitos franceses quais são as medidas jurídicas que eles podem tomar para proibir o show de Dieudonné em suas cidades.
O humorista já foi condenado pela justiça várias vezes por incitação ao ódio. Mas o seu caso coloca a França diante de um dilema, já que a proibição do espectáculo também é vista por muitos como um atentado à liberdade de expressão que poderia abrir um perigoso precedente.
Libération dedica sua capa ao tema, com uma reportagem sobre a trajectória do humorista e suas relações com a extrema-direita francesa.
O jornal progressista também entrevistou espectadores dos shows de Dieudonné. Eles defendem seu “humor negro”, que passa longe do politicamente correcto. Mas alguns admitem que se sentiram desconfortáveis quando o humorista se aproximou do partido Frente Nacional.
Apesar de denunciar com firmeza o discurso anti-semita de Dieudonné, Libération afirma em seu editorial que a solução não é proibir os espectáculos, mas sim impedir que o humorista escape das condenações que a Justiça já pronunciou contra ele por incitação ao ódio, injúria e difamação.
Segundo o diário, Dieudonné deve 90 mil euros de multas e indemnizações, mas conseguiu até agora evitar o pagamento graças a subterfúgios jurídicos e fiscais. Uma manobra que pode acabar levando o humorista à prisão.
Liberdade de expressão
O jornal popular Le Parisien entrevistou a ministra da Cultura, Aurélie Filippetti, sobre o assunto. Ela não exclui a possibilidade de fechar o teatro da Main d’Or, quartel general do humorista em Paris.
Ela considera que Dieudonné deixou de ser um artista ao se tornar um militante “revisionista”, que nega o Holocausto e faz apologia da extrema-direita. Aurélie Filippetti também se diz favorável à proibição da turnê do comediante e não vê nisso um atentado à liberdade de expressão.
Já o conservador Le Figaro questionou sobre o tema o novo presidente da ordem dos advogados de Paris, Pierre-Olivier Sur. Ele diz que em vez de proibições municipais para cada espectáculo da turnê, o melhor seria processar Dieudonné com base em uma lei que prevê até um ano de prisão para os acusados de incitação ao ódio em caso de reincidência.
O advogado lembra que toda medida preventiva – que é o objectivo da circular enviada pelo ministro do Interior – é contestável no que diz respeito à liberdade de expressão.
(rfi.fr)