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    Divergências e desilusão: Rui Rio ‘perde’ vice-presidente a três meses das eleições

    Expresso | DAVID DINIS

    Castro Almeida era um dos mais próximos aliados do líder do PSD. Mas não vai às reuniões da direcção há um mês. Disse a Rui Rio que não contasse mais com ele. As razões passam por reuniões onde nada se discute, por opções políticas contestadas e muita desilusão pessoal.

    Na actual direcção do PSD, há seis vice-presidentes, mas um deles não vai a qualquer reunião há um mês. Manuel Castro Almeida foi uma das pessoas no partido que mais incentivou Rui Rio a avançar para a liderança, que mais o apoiou durante a campanha – e depois dela. Mas a sua ausência das reuniões da direcção não são uma coincidência, mas uma desistência, confirmou este domingo o Expresso.

    A três meses das eleições legislativas, Rui Rio perdeu um dos seus pesos-pesados da sua equipa. Já não será candidato a deputado, não estará na campanha, nem irá a mais nenhuma reunião na sede nacional do partido. Foi isso que disse ao próprio Rio, depois do último encontro na São Caetano à Lapa, logo após as europeias – onde não se discutiu sequer o porquê da derrota naquelas eleições, que atirou o partido para o seu pior resultado de sempre.

    Não foi, segundo confirmou o Expresso, a primeira vez que a Comissão Permanente passou ao lado do tema político mais sensível (e premente) da actualidade. De resto, essa é uma das razões para que Castro Almeida tenha sentido uma “desilusão brutal”, conforme relata ao Expresso uma fonte próxima do social-democrata. Um exemplo: ali não é discutida a agenda parlamentar do partido, nem a maior parte dos temas que marcam a agenda mediática. E quando são, Rui Rio não fecha lá as decisões. “Não ouve ninguém. A Comissão Permanente tornou-se um órgão unipessoal”, acrescenta a mesma fonte. Não raras vezes, os que deviam ser braços-direitos do líder sabiam as posições dele “como qualquer cidadão. Pela imprensa”.

    Foi assim, por exemplo, na sequência da crise dos professores, que levou António Costa a ameaçar demitir-se: aí, no fim de semana, Rio convocou a sua direcção para decidir o que se faria – manter a votação inicial que aprovaria os mais e nove anos de carreiras dos docentes, ou recuar. Lá dentro, Castro Almeida lembrou o que já tinha dito a Rui Rio, que era contra a posição do partido. O líder ouviu-o, como ouviu dessa vez os restantes vice-presidentes (alguns dos quais favoráveis à medida, como David Justino). Mas saiu sem dizer o que ia fazer.

    As divergências estratégicas entre os dois acumularam-se ao longo dos meses. Às vezes com muito ténues sinais públicos, que só eram percebidos pelos (muito) poucos que já as conheciam. Por exemplo, sobre a excessiva colagem ao PS, Castro Almeida chegou a dizer numa entrevista ao Público e Renascença (em Abril de 2018, logo após os acordos com Costa) que “a partir de agora, o PSD tem que intensificar a oposição”. Só que isso tardou. Assim como tardaram as propostas alternativas, que Castro Almeida vinha pedindo ao líder há cerca de um ano – e só esta semana este decidiu começar a tornar públicas.

    Já mais perto do final do ano, em plena guerra interna, Castro Almeida deixou outro sinal de alerta, numa outra entrevista. Disse que teria “de haver um esforço de aproximação de ambas as partes” – acrescentando que “o primeiro responsável por garantir a unidade do partido é o presidente e a direcção.” E em Fevereiro, já depois de resolvida a chamada ‘crise Montenegro’, arriscou um prognóstico ambicioso: “Se o PSD não ganhar as eleições é por culpa própria porque o Governo está a fazer o necessário para as perder”.

    As europeias estavam ao dobrar da esquina. E o tom da campanha foi de novo tema de uma conversa entre os dois. O ex-secretário de Estado, ex-deputado e ex-autarca achava que o tom pessoal que o PSD tinha imprimido, desde logo contra o adversário Pedro Marques, poderia ser prejudicial. Na noite das eleições, quando fez o discurso final, Rio parecia ter reconhecido o erro. Mas na reunião seguinte, surpresa, não houve conversa sobre o tema – o líder não quis.

    O afastamento de Castro Almeida não é só um processo político. É também “uma desilusão pessoal”, assume um amigo, contactado pelo Expresso. A palavra usada é “desconsideração”, porque havia entre os dois uma relação de pessoal, de lealdade. Ao Expresso, Castro Almeida não quis falar sobre o que aconteceu. Mas ao Público, que noticiou o afastamento esta manhã, usou palavras escassas: “Não quero falar sobre esse assunto”.

    Segundo conseguiu apurar o Expresso, Castro Almeida não estará sozinho nessa desilusão (mesmo dentro da direcção). Em Setembro do ano passado, uma investigação do Expresso já dava conta de um estilo de liderança muito particular, que deixava desconforto na São Caetano (“Evita Lisboa, esconde informação dos seus vices, desconfia da sua direcção. Acredita em si e nuns poucos amigos”, contava já esse texto). Mas o afastamento deve ser caso único. Até 6 de Outubro.

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