A Covid-19 já está a causar impactos psicológicos nos jovens e adolescentes em Moçambique. Alguns violam o decreto presidencial que prevê o distanciamento social, a jogar futebol ou a passear para aliviar a mente.
Jovens e adolescentes moçambicanos têm sido criticados por não cumprirem o decreto presidencial com vista a conter a propagação do novo coronavírus. Muitos são vistos nas ruas a jogar futebol ou a consumir bebidas alcoólicas, sem máscaras e sem observarem o distanciamento físico.
Os jovens justificam esta atitude com o desgaste psicológico causado pelos quase dois meses “presos” nas suas residências e sem actividades. “Ficar em casa é muito difícil”, diz Nelsa Aurélio, estudante de 17 anos. “Já estamos habituados a passar a maior parte do tempo fora de casa, estudando ou trabalhando. Então, ficar em casa tem sido muito difícil, é frustrante”.
Os jovens sentem que há um choque na sua rotina que os está a afectar psicologicamente. “Torna-se meio complicado. É doloroso”, explica Argel dos Santos, de 18 anos. “Para quem não estava habituado a ficar em casa, dois meses não é nada fácil, porque não estávamos preparados para isso”.
O mesmo diz Rafael Simeão, outro estudante de 18 anos, que encontra no futebol e nos exercícios físicos uma forma de aliviar a mente. “Na verdade, não me sinto bem porque estou habituado àquela rotina, acordar e ir à escola. Ficar em casa acaba doendo. Estávamos habituados a encontrar amigos na escola para, de repente, ficar em casa”, lamenta.
Actividade física ajuda
A psicóloga Odete Abrantes, da Associação Braços Abertos, entende que é normal a reacção de frustração, sobretudo quando estão privados das suas liberdades, e sublinha que encontrar uma actividade é o ideal, “porque a falta de ocupação é um dos problemas que os faz sair e procurar um amigo, um vizinho para conversar ou estar à procura de algo para fazer”.
A psicóloga diz que os jovens e adolescentes precisam de praticar alguma actividade, porque é a característica normal desta camada nesta fase da vida: “[O jovem] tem uma energia hormonal diferente. Ele não consegue ficar parado, sentado por muito tempo. Pela idade, ele tem uma energia diferente. Quer estar activo, quer conversar, quer correr. É normal. Só que é necessário haver uma boa explicação, porque sem isso ele vai achar que está a ser obrigado a fazer algo que não quer”, explica.
Neste período em que o coronavírus está a influenciar a rotina das pessoas, os pais têm um papel de sacramental importância para minimizar o impacto psicológico, sugere Odete Abranches: “Os pais devem explicar o que está a acontecer e o impacto que pode causar tanto para eles assim como para a família, porque a Covid-19 está aqui para todos e não para uma pessoa”.