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    Xanana Gusmão admite dissolução do partido que lidera

    “O partido tem de fazer uma forte reflexão. Quadros e militantes têm de analisar a ética política, sobre as várias manobras, as propagandas que surgem, para compreender melhor as pessoas que gerem a nação, e as suas visões e comportamento políticos”, disse, numa mensagem ao partido.

    Segundo o Jornal Económico que cita a Lusa, Xanana Gusmão pediu aos militantes do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), maior força política da coligação do Governo timorense, uma reflexão sobre o futuro do partido, que lidera, admitindo, até, a sua possível dissolução.

    “O partido tem de fazer uma forte reflexão. Quadros e militantes têm de analisar a ética política, sobre as várias manobras, as propagandas que surgem, para compreender melhor as pessoas que gerem a nação, e as suas visões e comportamento políticos”, disse, numa mensagem ao partido, durante o fim de semana.

    “O que tem acontecido no partido tem de ser mesmo analisado como uma lição para o partido”, disse, numa mensagem em vídeo gravada por ocasião dos 12 anos do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).

    Para Xanana Gusmão, as mudanças verificadas em Timor-Leste entre 2007 e 2017 – com mais investimento privado e uma economia mais robusta – “não são valorizadas” com o partido a continuar a ser acusado de ser “um partido corrupto, que roubou milhões de dólares ao Estado, e que tudo o que o CNRT fez foi errado”.

    Em 2017, quando o CNRT perdeu as legislativas, “o povo demonstrou que não confia no CNRT”, mas “a lição” não foi totalmente compreendida pelo partido, disse.

    “Por isso, companheiros, o partido tem de aprender através destas lições, a não confiar arbitrariamente noutras organizações, cada pessoa tem de os seus próprios interesses”, apontou.

    “O partido tem de considerar discutir ainda mais profundamente o seu futuro. Se o CNRT só promove a corrupção, se só as pessoas e qualquer pessoa do CNRT é que são corruptas, se é necessário salvar a nação, então o melhor é mesmo fechar, dissolver o partido”, afirmou.

    Xanana Gusmão pede, por isso, que os membros do partido se foquem nos problemas internos, deixando de “trocar acusações, trocar invejas e pensar somente nos interesses pessoais”, como, afirma, já está a ocorrer.

    “Alguns já sentem presunção… como veteranos e veteranas do partido. Alguns outros companheiros esquecem-se de defender os direitos do partido e esqueceram que o partido é que lhes deu e dá abrigo”, disse.

    “Se queremos consolidar o partido temos que começar a ter uma autocrítica honesta e franca dentro do partido. Se não pensarmos bem no futuro do partido, na próxima eleição vamos perder novamente, e vamos ter que nos esforçar nos anos seguintes a pagar as dívidas da campanha. Temos que pensar bem no futuro do partido, porque este tem que aguentar tudo isto”, sublinhou.

    A mensagem de Xanana Gusmão foi gravada na semana passada e foi distribuída pela liderança e pelos militantes do CNRT durante o fim de semana, em que se comemoram os 12 anos de criação do partido.

    Fonte do CNRT explicou à Lusa que o objetivo é divulgar a mensagem a nível nacional antes de uma eventual conferência nacional cuja data, para já, ainda não está definida.

    Ao longo de quase 26 minutos de vídeo, Xanana Gusmão referiu que o CNRT apareceu em 2007 “para resolver uma grande crise na qual os timorenses se separaram, se vingaram, fizeram mal uns aos outros, havendo até mortes”.

    Uma referência à crise que assolou Timor-Leste entre 2006 e 2008 e aos anos seguintes em que, garante, o Governo da Aliança de Maioria Parlamentar (AMP) trabalhou para melhorar as instituições do Estado e para “estabelecer um sistema financeiro bom e moderno” no país.

    “Procurou apoiar as empresas locais a desenvolverem-se para desenvolver o setor privado nacional, procurou despertar a despartidarização e o funcionalismo público; procurou dar uma visão abrangente a todos sobre como desenvolver a nossa nação”, disse.

    A eletrificação do país, um esforço para “melhorar o comportamento das empresas nacionais na implementação de projetos e obras” e na correção das “ineficiências nas instituições do Estado, especialmente no Governo”.

    Uma lista de conquistas, explica, que incluíram, entre outros, correções na gestão do apoio dos parceiros internacionais de Timor-Leste e a criação do G7+ (uma organização intergovernamental que reúne países que enfrentam conflitos ativos ou que têm experiência recente de conflito e fragilidade).

    “O CNRT não quer dizer que fez tudo; o CNRT não quer chamar a atenção a todo o povo para avaliar as mudanças desde 2007 até 2017. Caso não existam diferenças, então o CNRT assume esse fracasso”, disse.

    Caso haja diferenças, “mesmo que pequenas”, Xanana Gusmão diz que o CNRT “não fez tudo sozinho” e por isso recorda os partidos que estiveram nas coligações do IV e V Governo e a própria Fretilin.

    “Um partido, que aceitou apoiar o VI Governo de modo a podermos unir esforços, com um propósito único, e assim alcançar uma grande vitória sobre a Austrália, com respeito às fronteiras marítimas, para assim, sermos soberanos das nossas riquezas”, disse.

    “Obrigado à Fretilin por aliar-se ao CNRT na defesa do interesse nacional acima dos interesses de cada partido”, afirmou.

    No discurso, Xanana Gusmão retoma a ideia de que o CNRT deve aprender com as lições do processo de construção do Estado, olhando para o que ocorreu com sinceridade, honestidade e abertura para “reconhecer as fraquezas” internas.

    “Isto é fundamental para o partido, porque se não analisamos estes aspetos, não teremos consciência para melhorar partido, não sentimos a necessidade de melhorar o nosso próprio comportamento, como membro dos quadros ou como militante”, disse.

    “Quando não se faz introspeção, quando a nossa tendência é só trocar acusações, quando só exigimos os nossos direitos e esquecemos que dentro dos quadros do nosso partido também temos deveres para com a nação”, afirmou.

    Timor-Leste, disse, vive ainda uma “situação política confusas”, depois de duas eleições, em 2017 e 2018 que mostraram a fragilidade do Estado e das suas instituições, “desde o Presidente da República até ao Parlamento, desde o Governo até aos Tribunais e todos os setores da Justiça”.

    No capítulo da justiça, Xanana Gusmão disse, ironizando, que todos os membros do partido, incluindo ele próprio, “devem começar a receber “acusações dos tribunais”, de uma justiça “já aprisionou muitas pessoas do CNRT” e que “procuram sempre pessoas do CNRT, quer sejam ou não culpadas”.

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