Como está a decorrer o projecto de massificação do basquetebol em Angola?
Em primeiro lugar, vou falar de uma questão que é muito importante: a massificação por si só não é uma responsabilidade federativa. É uma responsabilidade do Estado, do Ministério da Juventude e Desportos. O que nós fazemos é precisamente o contrário, é a gestão do desporto federado, porque no desporto federado não estão incluídos os jovens que fazem desporto de massas. O desporto federado já é um desporto de rendimento, visando outro tipo de resultados e objectivos.
Mas, na realidade específica do nosso país, dentro das responsabilidades que assumimos, desenvolvemos parcerias com todos os nossos membros, que são as associações provinciais e os clubes que efectivamente acabam por funcionar numa perspectiva também de massificação, promoção da actividade do basquetebol ao nível dos vários pontos do nosso país e acabamos por interferir naquilo que é a massificação. Desta forma, também acabamos por ter alguns benefícios, pois dessa massificação resultam atletas com alguma possibilidade de, depois, jogarem como atletas federados, fazendo parte dos clubes e das nossas selecções.
Pode dizer-se então que a massificação vai bem?
O que temos estado a observar no país e não podemos nos distanciar disso é que a massificação está a viver múltiplos problemas, estou a falar da massificação no geral, não só no basquetebol. Porque há uma crise muito grande a nível das infraestruturas de base. Hoje, felizmente, é de louvar o imenso esforço do Executivo no sentido de se fazerem infraestruturas, de se criarem cada vez mais equipamentos para a prática do desporto e não só, mas a verdade é que o desporto escolar é quase inexistente, os núcleos de organização do desporto de massas nos bairros têm funcionado cada vez menos.
Há a falta dessa estrutura de base e pensamos que, se calhar, o que deve acontecer aqui é dentro do novo plano estratégico que o Ministério da Juventude e Desportos aprovou e se olharmos para atrás tivemos o conselho consultivo alargado que acabou por aprovar a Estratégia de Desenvolvimento do Desporto Nacional. Pensamos que, se cumprirmos com essa estratégia, poderemos, nos próximos tempos, ter uma possibilidade de massificação maior e com isso tornar possível o ressurgimento de novos valores e desta forma enriquecermos o desporto federado.
A federação tem acompanhado os jogadores que participam no Torneio Sprite NBA?
A actividade da Sprite NBA é tripartida e já o era desde o mandato passado. É uma actividade Sprite, FAB e NBA. O suporte da NBA é mais de imagem e marketing, fruto da relação que têm com a multinacional Cocacola. Todo o suporte técnico é dado pela Federação Angolana de Basquetebol.
Para quem esteve no evento na Marginal, no ano passado, percebeu que a mesa, os árbitros, os treinadores que trabalharam com os jovens nas províncias onde aconteceu essa actividade, tudo teve a marca da FAB.
O que aconteceu em Luanda foi a fase final desse trabalho. Este ano já estiveram cá o grupo de avanço da Sprite e da NBA e da NBA África e trabalharam com os nossos técnicos da direcção e, felizmente, no ano passado, em conversa com o pessoal da Sprite e da NBA, disse que o projecto teria maior impacto se o realizássemos numa zona suburbana do que na baixa, então, este ano levamos os técnicos ao Marco Histórico 4 de Fevereiro, Sambizanga, às novas centralidades, à nova arena de Luanda… a ideia é levar a actividade para o município do Sambizanga ou para o Cazenga, numa daquelas grandes praças, para fazermos uma festa maior que a do ano passado na Marginal.
E diz que também se interessa pelo jogo de rua?
A nível dos torneios de rua, nós estamos muito preocupados, fundamentalmente com três situações. Uma que é o mini basquete, os três contra três e a recreação do basquetebol de rua com vários níveis. De facto, existem essas estruturas e hoje estamos mais próximos. Algumas estavam desactivadas.
Estamos a trabalhar com essas pessoas para rapidamente reestruturar e prepararem-se para poder voltar a realizar esse tipo de eventos, que no fundo acaba por dar uma vida diferente ao nosso basquetebol com um carácter independente.
Nós, federação, vamos dar suporte técnico e com os apoios que conseguirmos mobilizar, de modo que organizem a sua actividade. No ano passado, houve uma actividade do mini basquete realizado pelo Kero. Este ano estamos a preparar uma actividade que vai decorrer com o mini basquete e outra dos três contra três a partir dos 16 anos.
São essas as nossas acções e estamos preocupados com a formação de monitores. No ano passado realizámos uma acção de formação de treinadores de nível 1. Priorizámos alguns atletas de nível internacional e que hoje estão a trabalhar com os mais jovens. O Miguel Lutonda, o Baduna, a Irene Guerreiro, a Valódia. Esses ex-atletas estão a transmitir a sua experiência aos mais jovens. É isto que queremos.
Ter muitos monitores e que as coisas aconteçam a um determinado nível e depois dar uma formação contínua às pessoas, no sentido de melhorarem os níveis como treinador para aquilo que o basquetebol já alcançou a nível internacional.
A Federação Angolana de basquetebol (FAB) à luz da Estratégia de Desenvolvimento do Desporto levou as suas contribuições ao terceiro Conselho Superior?
Contribuímos ao nível da própria reforma legislativa, contribuímos com ideias relativamente aos objectivos que se pretende alcançar em termos de praticantes no desporto para os próximos anos, explicámos qual era a nossa visão, qual é o nosso entendimento sobre determinados fenómenos e temos estado a defender muito a questão da verdade desportiva.
O controlo das idades, a questão do rigor nas inscrições dos atletas federados, no acompanhamento das provas, na melhoria das acções de marketing, no aproveitamento das imagens que as próprias modalidades criam no âmbito de desenvolvimento da sua actividade e isto também acaba por reflectir aquilo que é a nossa experiência e do que temos estado a tentar fazer com o basquetebol. Foi a nossa contribuição nestes documentos, que vão ser vitais para o desporto nacional.
A FAB sabe que a modalidade está praticamente circunscrita a Luanda, Benguela e Kwanza Sul?
Tenho dito às pessoas uma coisa, nós estamos aqui há um ano e realizaámos já vários ensaios que indicam precisamente aquilo que é a nossa preocupação com o país, aquilo que é a nossa preocupação em levar o basquetebol aos vários cantos do nosso país, mas também é importante que se perceba o seguinte: poderemos porventura, em termos de desporto federado, não chegar com o basquetebol às 18 províncias e, se calhar, temos que ser realistas e assumir isso, mas estamos a fazer um levantamento muito interessante, porque neste mandato temos uma vice-presidência que cuida especificamente da competição interna e da nossa relação com as várias regiões do nosso país, e a pessoa que coordena esta área nem vive em Luanda, porque estamos, de facto, preocupados com isso.
Cada um passa a jogar na sua localidade?
Por exemplo, se o Libolo é uma equipa do Kwanza-Sul, tem que jogar no Kwanza-Sul e isto resulta não só da vontade federativa ou de alguma estratégia, mas resulta dos próprios regulamentos. Olhando agora para o Sporting de Benguela, que subiu para o Campeonato Nacional de Seniores Masculinos, o nosso BAI Basket, a casa do Sporting é Benguela, então temos que caminhar para a normalidade. O que aconteceu é que ao longo desses anos fomos sofrendo um pouco os fenómenos que vivemos com a guerra e as pessoas foram, de alguma forma, sendo desencorajadas a fazer.
Alguns clubes das províncias, fruto das próprias dificuldades, perderam a capacidade de competir a determinado nível e ai é está precisamente a nossa responsabilidade federativa. Temos que perceber porque é que esses clubes perderam capacidade, de que forma é que os podemos ajudar.
E uma das formas, dentro daquilo que é a nossa avaliação, e salvo opinião melhor, é que, de facto, uma das grandes dificuldades que as equipas das províncias têm é a capacidade financeira de suportarem uma prova ao nível do BAI Basket ou ao nível das outras provas nacionais. Nós tínhamos em femininos uma prova que durava também cinco meses.
A nossa prova do BAI Basket demora de sete a oito meses, e uma equipa da província que esteja engajada numa prova dessas, onde, por exemplo, no caso em concreto deste ano, são nove equipas de Luanda e essa equipa se passar as fases todas do campeonato, teria pelo menos que vir jogar 16 vezes em Luanda. Nós sabemos quais são os custos da capital, da acomodação, alimentação, isto quase que seria impraticável.
Ao percebermos isso tomámos duas decisões que foram fundamentais, como faz o andebol: Em femininos, e porque o número de equipas é muito limitado, nós, em vez de jogarmos uma prova de dois meses ou de quatro meses, vamos jogar um sistema de campeonato nacional concentrado em dez dias. Nesses dez dias, as equipas vão jogar no molde que for determinado pela área técnica e acabam por fazer mais jogos do que iriam fazer em quatro meses, porque essa possibilidade de realização do campeonato concentrado permite que as equipas das províncias participem. E é disso que durante muito tempo nos esquecemos. Todos os anos nós realizamos campeonato nacionais de sub-18, quer dizer que todos os anos há atletas deste campeonato que, porque vão fazer 19, passam a seniores.
E a Selecção ganha com isso, ou apenas os clubes?
Se nós só tínhamos no país quatro equipas de seniores femininos: o 1º de Agosto, Interclube, o Maculusso e o Juventude de Viana. Estas quatro equipas não eram bastante para absorver atletas das 12 equipas que normalmente participam num campeonato nacional de sub-18 que ascendam à categoria sénior, porque normalmente esses clubes, por época, têm duas ou três vagas e nós perdíamos ali um leque de atletas muito elevado que poderia no futuro dar mais-valia até para as nossas selecções nacionais.
O que acontece é que nós, ao criarmos essa possibilidade da competição a nível do sistema de campeonato concentrado, facilitámos precisamente que as equipas das províncias pudessem estar representadas.
Vamos realizar agora, no Bié, um Campeonato Nacional de Seniores Femininos em que as equipas das províncias já estarão representadas.
Teremos pelo menos três equipas representadas, estas mesmas equipas irão participar noutras provas, nós temos uma outra competição em Maio e Junho e nessa competição poderemos ainda ter mais equipas.
Então, mais do que a qualidade dessas equipas hoje, porque há de convir que muitas dessas atletas, algumas com 20, 21 anos ficaram um ou dois anos sem competir, e agora vão retomar o entusiasmo, claro que não estão ao nível de um 1º de Agosto, um Interclube, mas irão trabalhar. Se olharmos para o 1º de Agosto e para o Interclube, se olharmos para a Nadir, para a Rosa Gala, para a Luzia, jogadoras das nossas selecções nacionais, de onde é que elas vieram?
Vieram da formação da Huíla, vieram da formação de Benguela. Se essas meninas não tivessem tido a possibilidade de continuar a praticar seriam grandes talentos que teríamos perdido. O exemplo maior que eu dou aos presidentes dos clubes, e daí reconhecer o apoio tremendo que nos têm estado a dar, é o Miguel Lutonda.
O Miguel Lutonda chegou à Selecção de seniores, se não estou em erro, aos 26, 27 anos. O que seria para aquilo que ele hoje representa se não tivesse tido a possibilidade de jogar dos 19 até aos 25 anos? Não seria aquilo que nós conhecemos e é escusado estarmos a falar do legado que o Miguel Lutonda deixou para o basquetebol nacional.
Digo sempre que é responsabilidade de todos, federativa, associativa e dos clubes, que consigamos dar a possibilidade desses jovens continuarem, pelo menos, dos 19 aos 25 anos, mostrando que têm potencial, porque nem todos os atletas aos 18 anos já mostraram todo o seu potencial.
A paciência é o segredo?
Há aqueles que demoram mais tempo e isto não elimina a qualidade, as vezes, diferenciada que eles possam ter no futuro, é importante continuarmos a dar esta oportunidade. Se ao nível feminino fizemos isso, a nível do masculino realizámos, para quem está mais atento, em Janeiro 2013, um campeonato de sub-23, que decorreu em Benguela, com equipas sub-23, já são seniores.
Todas as equipas participantes foram equipas de províncias que não eram Luanda, isto para nós foi um sinal claro de que há essa aptidão dos jovens em continuar a praticar e isto ficou mais marcado quando, em Dezembro, realizámos o primeiro Campeonato Nacional da segunda divisão e neste campeonato apareceram oito equipas, sendo algumas inclusivamente de Luanda. São as tais equipas que supostamente não têm capacidade financeira, criámos um sistema de acesso ao Campeonato Nacional de Seniores Masculinos, BAI Basket, em que as duas primeiras classificadas ascendem ao BAI Basket trocando com as duas últimas classificadas.
Isso passará a ser assim, passaremos nos próximos anos a ter um Campeonato Nacional da Segunda divisão como uma prova regular da FAB. Queremos criar mais praticantes, mais desenvolvimento.
Num ano conseguimos criar mais três equipas de seniores femininos que vão competir agora no Kuito, Bié.
Elevámos o número de equipas a praticar basquetebol federado, em masculinos, para 16. Na Huíla, de facto, compareceram 12 equipas, só jogaram oito, porque nós marcámos 2103 como o ano zero, no sentido do controlo das inscrições, no controlo das idades nas camadas jovens, porque não existe basquetebol federado se as equipas não estiverem inscritas na federação; porque nós somos membros da FIBA, a FIBA tem regras, a FAB tem regras, as provas têm normas, que a dada altura foram desrespeitados e que agora queremos voltar à normalidade. Fruto desse regresso à normalidade quatro equipas foram impedidas de participar. Participaram as oito que estavam legalmente inscritas.
‘Tínhamos situações de atletas que apareciam para a inscrição com Bilhetes de identidade falsos’
“Se olharmos para o Bi, a forma como o nosso Bi está apresentado permite a falsificação, porque a data de nascimento está na parte de trás e os outros dados estão à frente, por isso pode-se fixar na fotocópia a parte da frente de uma pessoa, com a cara, e na parte de trás uma pessoa mais nova, sem haver a possibilidade de confirmar, uma vez que que o número do Bi não está impresso na parte de trás”
Que balanço é que faz do campeonato de juniores que decorreu na cidade do Lubango?
É importante que a federação tenha tempo e eu gostaria que isso ficasse bem frisado: em termos regulamentares, as inscrições para as classes de formação terminam no dia 31 de Agosto, se elas terminam no dia 31 de Agosto e os campeonatos nacionais só são disputados em Dezembro e Janeiro, isto permite que as associações provinciais, ao realizarem os seus campeonatos, os façam já com atletas inscritos e quando chegarem ao nacional não têm problemas e dão a possibilidade à nossa área de elegibilidade da federação confirmar se os documentos que foram apresentados são verdadeiros.
Ao longo dos anos não eram confirmados?
O que se passava era que os atletas chegavam às provas sem estarem inscritos, depois não se tinha como confirmar se efectivamente as idades eram aquelas ou não. Tínhamos situações de atletas que apareciam para a inscrição com Bilhetes de Identidade falsos, porque se olharmos para o BI, a forma como o nosso BI está apresentado permite a falsificação, porque a data de nascimento está na parte de trás e os outros dados estão à frente, por isso pode-se fixar na fotocópia a parte de frente de uma pessoa, com a cara, e na parte de trás uma pessoa mais nova, sem haver a possibilidade de confirmar, uma vez que que o número do BI não está impresso na parte de trás. Acabámos com isso, hoje as inscrições são feitas com documento original e o mesmo tem que ser scaneado e entra para uma base de dados da federação. Não é o bastante, não podemos dizer que o problemas das idades está resolvido, mas há um esforço muito grande para que isto desapareça e consigamos, de alguma forma, controlar.
Há uma resistência grande por parte dos clubes, por parte das próprias associações em respeitar o que está regulamentado e essa resistência nós percebemos, porque deve-se ao facto de terem ficado anos e anos habituados a outros procedimentos. Tivemos nos sub-18 um atleta com 24 anos que jogou sub-16 ou sub-18 a época passada. Isto até põe em risco a própria integridade física dos atletas mais novos.
Um atleta com 24 anos vai jogar com um miúdo de 14, com certeza que se entrarem numa situação de confronto directo, se houver choque pode gerar risco para o mais novo, por isso é que as várias federações mundiais, e a nossa também, regulam que se deve jogar interpares em determinadas idades.
Algumas equipas não estavam organizadas, acredito que, no próximo ano, e porque as inscrições na FAB para as camadas de formação são gratuitas, os assentos de nascimento hoje são gratuitos, não há razão para que não haja rigor no tratamento dessa questão da validação das inscrições a nível das competições. Em termos de resultados estamos satisfeitos, mas em termos de números não, porque sentimos que o nosso rigor acabou por afectar a quantidade atletas que esteve presente na competição, mas acho que não temos outro caminho a seguir.
Se um atleta for mal inscrito, e eu tive uma experiência aquando da minha passagem pela presidência do Conselho de Disciplina da FAB, no mandato de 2008 a 2012, em que uma determinada atleta jogou no torneio de abertura de Luanda a defender as cores de um clube, no provincial apareceu a jogar por outra e finalmente apareceu no Campeonato Nacional a jogar numa terceira equipa…
Na altura, houve uma reclamação por parte da equipa pela qual a atleta tinha jogado no provincial e a nós só nos restou responder que a inscrição que prevalecia era a que nós tínhamos, era da equipa que ela estava a representar no nacional. Os regulamentos obrigam que, mesmo no provincial, a atleta já esteja validamente inscrita. Felizmente, este ano as coisas estão a melhorar .
Qual é a medida que a FAB toma quando um clube ou uma associação viola os regulamentos ou inscreve mal um atleta?
Temos que interpretar várias situações, há situações em que o próprio atleta engana o clube. O atleta chega com documentos falsos. Mas também há situações em que o próprio clube é que produz a documentação falsa para que o atleta possa jogar em determinada categoria, fruto da expectativa e dos interesses do clube relativamente ao resultado.
Nós temos, de facto, medidas disciplinares para sancionar essas situações, mas em todos esses casos, em termos regulamentares, a medida acaba mais por penalizar, e isso é o que os regulamentos dizem, o próprio atleta do que a instituição.
Uma vez identificada a irregularidade, o atleta tem que ser fixado na sua categoria em termos de idade. Os clubes acabam por ser penalizados, foi o que aconteceu no ano passado no campeonato de sub-18, se a memória não me falha, em que o título foi retirado ao clube Vila Clotilde e foi atribuído ao Petro, em função de um atleta do Vila que depois ficou provado que já estava, se não estou em erro, com 21 anos.
Penso que temos que evoluir do ponto de vista regulamentar, aplicar não só sanções desportivas, mas também sanções numa perspectiva financeira.
E ao próprio atleta, em alguns casos, avançar com a responsabilização criminal, porque a falsificação de identidade constitui crime.
Em 2013, o basquetebol angolano conquistou cinco títulos. Três em selecções e dois de clubes. Qual foi a estratégia para se alcançar esses feitos?
O basquetebol é uma das modalidades que mexem com a nação em termos políticos, sociais e, fruto dessa envolvência, existe uma responsabilidade acrescida naquilo que acontece com o basquetebol. Tivemos o insucesso de Antananarivo, Madagáscar, em 2011, e naquilo que era a nossa visão em termos estratégicos, era que deveríamos iniciar um processo de renovação da Selecção Nacional precisamente a partir de 2013.
2015 será um ano em que o campeonato de África atribuirá o apuramento para as olimpíadas do Rio de Janeiro. Mais do que ganhar em 2013, é importante ganhar em 2015. Era importante iniciar-se o processo de renovação em 2013, fruto do insucesso em Antananarivo, tornou-se necessário ganhar o Afrobasket de Abidjan (Cote dIvoire).
Não tivemos alternativa. Tivemos que manter aquilo que era o núcleo central da nossa selecção e lutar pelo título.
Nos femininos, o cenário é relativamente diferente. 2011 foi o primeiro título, com um esforço tremendo, e 2013 era precisamente o ano da afirmação dessa geração de jogadoras fantásticas, também fomos atrás do título. Na formação, iniciámos um projecto de trabalho com os jovens a que chamamos Centro Especial de Treinamento que funciona como um núcleo com cerca de 40 jovens que são recrutados a nível do país, nos campeonatos nacionais das camadas de formação.
Com o apoio de entidades que, feliz ou infelizmente, pedem para não serem citadas, conseguimos ter esses jovens em Luanda para trabalhar com os treinadores das selecções nacionais em vários círculos, sempre que existissem férias escolares, como forma de melhorar a sua prestação, a qualidade do seu jogo, os aspectos de ordem táctica, comportamento desportivo, para que pudéssemos ter uma equipa competitiva ao nível das selecções nacionais. Isto acabou por ser uma realidade. Tivemos sucesso nos sub-16 masculinos.
Houve muita preocupação no controlo das idades. Os atletas foram submetidos a vários exames para determinar as idades, de modo que não fossemos surpreendidos na competição com um exame que depois implicaria a desqualificação do atleta e o país perder os jogos em que o atleta tivesse jogado.
Apesar de muitos dos nossos atletas terem sido várias vezes submetidos a exames para determinar a idade, o trabalho prévio acabou por dar resultados. A nível das meninas, o campeonato teve dois adiamentos e transtornou aquilo que era a sua preparação. Nas camadas jovens há sempre a da escola.
Os adiamentos nem sempre permitiam que as atletas retomassem dentro da programação do treinador e então surgiram vários constrangimentos, de tal forma que, a dada altura, tivemos que dividir a selecção em dois grupos. Um que trabalhava em Benguela e na Huíla e outro que trabalhou em Luanda.
Fomos classificados em quinto lugar, tendo perdido no jogo de apuramento para as meias-finais. Penso que foi uma preparação positiva e o trabalho não fica por ai. Os campeonatos terminaram agora e vamos programar dentro do período de férias escolares a preparação das meninas.
Como é que a federação premiou esses atletas?
Os prémios são da responsabilidade do Ministério da Juventude e Desportos e existe uma lei que os regula. Nas classes de formação essa lei é muito clara.
Não houve qualquer incumprimento relativamente à questão dos prémios dos jovens, muito pelo contrário, sua Excelência o ministro dos Desportos, Gonçalves Muandumba, até atribuiulhes prémios para além daquilo que é o prémio de lei, porque receberam o financeiro que foi entregue aos pais, porque eles eram menores, e, para além disso, receberam um IPAD e um computador, que acabam por ser ferramentas boas para eles que são jovens e acreditamos que estejam a estudar. Alguns pais, olhando para as referências dos masculinos e dos femininos em seniores, pensaram que também se premiava a esse nível. Os jovens estão motivados e estamos a contar com eles.
A FAB tem o controlo académico e social desses atletas, apesar de pertencerem aos clubes?
A FAB orienta normalmente ao treinador das selecções de formação. Às vezes isso torna-se muito difícil, porque os próprios clubes não permitem que o treinador exerça este acompanhamento junto da própria estrutura do clube. A nossa preocupação é tão grande que, vou dar-lhe um exemplo: nos masculinos tivemos cerca de 40 jovens e nos femininos 57, vindos dos vários cantos do país.
Houve uma altura que, pela brevidade do Campeonato Nacional, tivemos as meninas a treinar aqui num período que havia aulas. A FAB conseguiu enquadramento dessas meninas nas escolas e, de modo a não prejudicar a parte académica, defendemos que é importante que nessa fase o jovem tenha a vertente académica, até dizemos aos meninos que o basquetebol foi inventado por um professor universitário e que é dirigido a pessoas também com algum nível.
Para quem anda neste desporto, quanto mais evoluído for o atleta acaba também por ser uma mais-valia em termos de execução. Nessa fase, os atletas devem estudar. O desporto sem formação académica é uma coisa muito má, porque no fim nem todos serão craques, treinadores. É importante que o desporto contribua para a formação do homem e na perspectiva do enquadramento social.
‘existem disparidades muito grandes na remuneração dos atletas’
“O jogador angolano vive na sua própria casa, o estrangeiro precisa de casa, precisa de outras condições para além da remuneração”
É de opinião que a presença de atletas estrangeiros retira a possibilidade aos atletas das camadas de formação de ganharem a titularidade nos clubes?
A inclusão de estrangeiros tem que ser sempre necessária, visando maisvalias. Ajudam os nacionais a trabalhar mais, pelas próprias exigências e as metas que são determinadas pelos seus clubes. Não vejo com bons olhos, às vezes, algumas contratações que são feitas, em que o atleta estrangeiro é inferior ou tem apenas o mesmo nível que o jogador nacional. É que se ele é inferior, ou tem o nível de um jogador nacional, não faz sentido algum ir buscar um estrangeiro e remunerá-lo e dar determinado tipo de condições.
O jogador angolano vive na sua própria casa, o estrangeiro precisa de casa, precisa de outras condições para além da remuneração. Falo com alguns dirigentes e dizem que neste momento o estrangeiro custa mais barato. Mesmo que custe mais barato, na perspectiva salário, na perspectiva custos gerais muito dificilmente poderá ser mais barato que o nacional. Entendo que o mercado precisa de se regular a si próprio.
Existem disparidades muito grandes na remuneração dos atletas e só por essa razão assistimos a atletas que foram estrelas internacionais e em campeonatos até inferiores, em termos de qualidade, ao nosso e que hoje terminam a sua carreira aqui, já muito deficientes do ponto de vista desportivo, porque, de alguma forma, acabamos por pagar bem. Tenho estado a discutir com a área técnica, com os treinadores, porque precisamos de criar termos de referência para as contratações dos jogadores estrangeiros.
Se na Premier League, no futebol, não é qualquer estrangeiro que entra em Inglaterra para jogar futebol, porque eles têm pressupostos para que esse atleta entre na prova, penso que se a nível de África somos onze vezes campeões, e o conseguimos apesar de não termos o biótipo tão elevado, é importante regular a entrada de estrangeiros e definir muito bem os regulamentos necessários.
A Assembleia Nacional aprovou, há dias, na generalidade, a Lei Nacional do Desporto e o Regime Jurídico das Associações Desportivas. Como presidente da FAB e jurista qual é o seu ponto de vista?
É importante que as pessoas percebam e estou sempre a dizer aos meus colegas que, mais do que uma regra má, é mais importante ter regra do a que a não existência da regra. Já tínhamos uma lei de bases e um Regime Jurídico das Associações Desportivas, mas, ao longo desses anos, e fruto de algumas dificuldades, que o desporto vai criando, a perspectiva internacional, fomos identificando determinadas lacunas e penso que o mérito deste novo pacote surge para colmatar essas lacunas que foram criadas ao longo dos tempos, pela ausência de normas jurídicas que tratassem do desporto objectivamente, por aquilo que realmente se passa no país neste momento.
Estávamos a viver com um pacote legislativo com muita influência daquilo que era o regime anterior ao multipartidarismo. Havia muitas coisas que continuavam a ser responsabilidade do Estado. Continuava-se a desrespeitar a própria independência privada das associações desportivas.
Penso que este novo pacote vem colmatar algumas dificuldades a este nível. Digo algumas porque enquanto jurista penso que o pacote devia ser mais ambicioso em relação ao tratamento de algumas matérias, mas pior seria se não existissem as regras.
Temos que felicitar o Ministério da Juventude e Desportos pela coragem que teve em desenvolver este novo pacote e acreditamos que num futuro muito breve irá dar resposta às questões que se levantam aos vários níveis no desporto.
É importante que o Ministério não pare por aqui e continue a desenvolver acções no sentido de melhorar cada vez mais a parte regulamentar e legal do desporto, porque está em permanente evolução hoje. Há novos inputs como marketing, os direitos de televisão, os direitos sobre as equipas, jogadores, as sociedades anónimas desportivas que é importante perceber dentro daquilo que é feito no mundo e ver qual é a nossa perspectiva em termos de visão, não basta copiar o que é feito no estrangeiro. É importante que se copie bem e se adapte à nossa realidade.
Houve alguma polémica na mudança de gestão da federação, os seus oponentes intentaram uma acção. Como está o processo no tribunal?
Evito falar sempre sobre esta questão das eleições, por uma razão muito simples: por respeito àquilo que o tribunal faz. A única coisa que posso dizer é que o processo está em curso, em algum momento vai ter um desfecho. Tal como em Janeiro de 2013, no meio dessa celeuma toda não deixamos de arregaçar mangas e mantivemos a federação a funcionar, realizando as provas com normalidade, permitindo que não houvesse um clima de estagnação a nível daquilo que é a nossa actividade.
Esse espirito também mantem-se. As pessoas ficam preocupadas, mas não estou preocupado, por duas razões muito simples: a primeira é que, efectivamente, não sinto que alguma coisa de fraudulenta tenha sido feita por nossa parte, no sentido de alterar a verdade daquilo que produziu os resultados eleitorais; e, por outro, que a minha envolvência na gestão do basquetebol e no basquetebol em si, não enquanto presidente, mas enquanto pessoa, permite-me andar este país todo e ter uma relação com as pessoas que estão nos cantos onde há basquetebol. Tenho uma excelente relação de camaradagem com essas pessoas.
A motivação para mim não é desempenhar as tarefas da federação é ser um agente do basquetebol que vai dando a sua contribuição. Isto não começou a ser feito depois de estar sentado nesta cadeira.
Isto começou a ser feito desde que me conheço, enquanto jogador, depois enquanto dirigente, treinador, amigo e alguém que vive o basquetebol todos os dias. No fim, as coisas serão esclarecidas e a verdade virá à tona.
No âmbito da pergunta que me colocou anteriormente, não enquanto presidente, mas como jurista, há ineficácia dos tribunais comuns para a solução de questões do desporto, porque o desporto tem especificidades diferenciadas do Direito Civil comum e daí que as soluções normalmente apontadas para a solução de conflitos no desporto seja uma estrutura de tribunal arbitral.
O tribunal arbitral permite que as respostas aconteçam dentro de um determinado período, o tribunal comum não, e, depois, quando a decisão existir já não vai produzir a eficácia e o resultado que se pretende. É um dos problemas que o novo pacote legislativo vem prevenir.
Acho que a nossa experiência acabou também por chamar a atenção ao ministério para mexer nesse sentido, porque tanto a FIBA como a FIFA têm um tribunal arbitral e o que elas aconselham em termos de organização daquilo são as federações internas é que as situações sejam resolvidas por via de um tribunal arbitral, fruto das próprias características do funcionamento de um tribunal normal.
Depois da tomada de posse, no espirito de irmandade, ainda não conseguiu manter contacto com os seus oponentes para trocas de experiência e desenvolver o basquetebol?
Algumas pessoas ligadas aos outros grupos de trabalho têm estado connosco. Têm participado. Temos noção da imensa responsabilidade que temos em estar a dirigir o basquetebol nacional e também percebemos que ninguém tem que estar à margem desse processo. Tenho dito, em várias ocasiões, que todos somos poucos para dar algum tipo de contribuição àquilo que é o basquetebol nacional, mas a verdade é que não podemos cá estar todos ao mesmo tempo.
As pessoas que se sintam, apesar de estarem fora, responsáveis pelo basquetebol, que arranjem forma de transmitir a sua preocupação, experiência, as suas ideias, porque eu digo sempre que o basquetebol não é do Paulo, do Gustavo, do Jean Jacques, do Ângelo, o basquetebol nacional é de todos os angolanos. Como pessoas mais próximas do jogo, temos mais responsabilidades do que aqueles que só assistem ao jogo.
Não ficaria bem se amanhã tivesse aqui outro presidente e achasse que estivesse a seguir por um trilho errado e eu não tivesse a ousadia de chegar aqui e dizer presidente desculpa, acho que aqui está seguir por este caminho, mas preste atenção a isso, porque se o basquetebol estiver bem, todos acabam por ganhar.
E quem pensa de forma contrária não é uma pessoa boa para o basquetebol. Não aceito que pessoas que, em determinado momento, se assumiram com pretensão de dirigir o basquetebol nacional, que numa competição apareçam a torcer contra a Selecção Nacional do país, quer dizer, há aqui um contra-senso naquilo que é a própria idoneidade das pessoas e o que pretendem. Uma pessoa que se comporte dessa forma não está preocupada com o basquetebol, está preocupado com outras coisas.
E há quem assim haja?
Essas pessoas são más para o basquetebol. Muitas pessoas que estiveram nas duas listas hoje têm estado a falar connosco de forma permanente e alertam para determinadas situações. Alguns não se sentem motivados para agir dessa forma, temos que respeitar. Vou chamar a atenção para um pormenor, mas sem citar nomes.
Algumas das pessoas que se propuseram a fazer parte dos órgãos sociais e concorreram são pessoas que em determinada altura, e alguns quando eu jogava já eram dirigentes, pura e simplesmente se vocês forem ao campo para ver o jogo nunca os irão ver lá.
Penso que estar no basquetebol não é só ouvir o que a rádio diz para quem almeja ser dirigente do basquetebol, não é apenas ler os jornais, ouvir esta ou aquela fofoca. Importante é também as pessoas participarem nos processos e eu que me sinto parte, vou estar no mini basquete, porque gosto de basquetebol, porque não pode ser agora sou presidente e tudo o que é evento estou presente, amanhã não sou presidente da federação e já não conheço o basquetebol e vou esperar quando concorrer, passam doze anos sem ir ao basquetebol, não sei o que se passa e depois quero voltar, não. Penso que as pessoas têm que ser coerentes, há muita gente que está aqui a vida toda e nunca foram dirigentes, dão o seu sangue, para usar um termo popular. Esta gente é que tem que ser valorizada.
Tem tido contacto com os antigos presidentes da FAB
Com certeza. Aproveito a ocasião para dizer que vamos fazer o primeiro Encontro Nacional do Basquetebol no dia 15 de Março e todos os presidentes serão convidados. Por isso, esse contacto é permanente. Alguns têm maior afinidade comigo do que outros.
O presidente Gustavo da Conceição foi quem me convidou em 2004 para fazer parte do elenco federativo, trabalhamos juntos até 2012. O presidente Carlos Teixeira Cagi foi o meu primeiro patrão. O meu primeiro emprego foi na Hidroportos, unidade económica estatal, na altura, estava na tropa e fui requisitado para trabalhar na área de informática. Estava cá uma empresa holandesa a fazer a dragagem da Ilha de Luanda e ele era o director geral, por isso temos também alguma afinidade.
O mais velho Zé Guimarães é já doutra geração, mas é uma pessoa com a qual tenho lidado cordialmente sempre. Pires Ferreira também. Não há animosidade e há um respeito muito grande por aquilo que é o legado que qualquer um deixou nesta casa. Digo até que o quinto presidente da FAB acaba por ter um peso terrível, porque os que me antecederam foram pessoas que conseguiram elevar o basquetebol para níveis muito altos e a responsabilidade de manter este nível é mais difícil do que pegar num projecto e começar a levantar, aprendemos sempre alguma coisa com essas pessoas.
Jean Jacques, nosso cartão-de-visita em África e no mundo, tem tido, na sua visão, o tratamento merecido?
O Jean Jacques deve ser das figuras desportivas de Angola mais homenageadas, não só em termos internos, como também externamente, por aquilo que foi a sua prestação enquanto jogador. Estamos a preparar um documento que vai ser discutido na próxima Assembleia-geral para atribuir um estatuto ao Jean Jacques.
Esse estatuto é formal. É importante que o reconhecimento daquilo que ele fez não parta apenas da federação. Há uma responsabilidade social de todos relativamente a isso. Vamos assumir a nossa parte, a sociedade deve sentir necessidade de alguma forma manter esse reconhecimento àquilo que o Jean Jacques fez. Enquanto presidente da FAB não olho apenas para o Jean Jacques. Às vezes nos esquecemos muito de um outro monstro do basquetebol angolano que é o Ângelo Victoriano.
Para aquilo que são as conquistas do basquetebol angolano, é o jogador mais importante do basquetebol em termos de selecções nacionais, pelo número de títulos que conquistou. Da mesma forma, na próxima assembleia iremos deliberar sobre a atleta Maria Afonso (Manu), porque também estamos atentos ao feminino, e é importante não haver qualquer tipo de discriminação e darmos o valor que as pessoas efectivamente possuem.
Digo algumas figuras, mas não se constrói um legado de onze títulos só com três nomes, e às vezes se manifesta injusto darmos um tratamento diferenciado a uns quando aquilo que é o tratamento de equipa cada um que lá esteve contribuiu para aquilo que é a conquista da nação. Vai ser um processo que passará a ser regular de homenagem não só aos atletas, mas também àqueles dirigentes que tiveram a sua mão marcada naquilo que foi o desenvolvimento do basquetebol nacional.
Alguns serão homenageados a título póstumo.
BAI Basket, Campeonato Nacional, há algum projecto para transformar a prova numa liga?
O movimento liga na Europa partiu dos clubes para a competição e não da federação para a competição. Antes de pensarmos em liga é importante que alguns factores que têm a ver com a estabilidade financeira das equipas e a capacidade de investimento das equipas na sua própria actividade e que deste investimento exista alguma retorno.
Se olharmos para o BAI Basket veremos que o retorno que existe da realização das provas e da gestão do próprio evento não possibilita a manutenção financeira das próprias equipas, pelo menos as equipas de nível mais elevado. A federação, a determinado momento, e fruto das dificuldades financeiras que vive, abriu mão da gestão directa do campeonato em si e criou um modelo que atribui aos clubes uma comparticipação nessa gestão, sempre que o clube está na condição de visitado é o responsável pelo evento bilhética, iremos perceber que abrimos mão de uma fatia geradora de benefícios.
Esta figura da premiação surgiu fruto do acordo que a federação tem com o patrocinador que é o Banco BAI que tem direitos sobre a prova. Este valor não nos permite ter uma premiação maior do que a que realizamos. Vou dar-lhe o um exemplo, não vamos falar dos números: Hoje, só em termos daquilo que são os custos de suporte da parte técnica do campeonato, os recursos do BAI já não são bastantes.
Os custos com a arbitragem ultrapassam o valor disponibilizado pelo BAI. Se tomarmos como referência que deste valor ainda tiramos uma parte para premiar as equipas, mais pequeno se torna o valor do patrocínio, mas a verdade é que o BAI tem sido um patrocinador estável, presente e temos todo o interesse em manter a relação. Precisamos de novas formas de patrocínio. Mas também precisamos de dar um tratamento diferenciado ao próprio jogo em si.
Houve o jogo entre o Libolo e o Petro e já existe, quem viu pela televisão, as nossas marcas no jogo, o BAI no campeonato passado não estava tão presente como agora. Temos uma nova direcção de marketing e relações internacionais. Essa direcção tem a responsabilidade de acompanhar essas questões e acaba por ser um esforço dentro daquilo que perspectivamos, no sentido de mudarmos aos poucos o quadro daquilo que é hoje o BAI Basket e torná-lo num produto mais vendável do ponto de vista da imagem, marketing, publicidade.
Isso passa por melhorar a qualidade do evento, profissionais na FAB, os comissários, a arbitragem, isto não acontece de forma automática. Isto irá melhorar a entrada de recursos e ai os prémios poderão mudar. A FAB organiza por ano 12 provas, todas com premiação.
Quais são as ambições de Angola no mundial de 2014?
Já começámos a falar com os treinadores das três selecções que vão aos mundiais. Ao nível dos sub-17 o cenário é o mesmo: continuar a fazer evoluir os meninos, fazer um bom estágio e ter uma boa prestação.
Os meninos têm que melhorar a sua qualidade. Nos seniores femininos e masculinos criámos uma comissão técnica nacional e ela vai apresentar a sua visão, no fundo é um órgão de consulta da federação. Temos estado a tratar as competições africanas como filhos e os mundiais como enteados, temos que traçar, nas olimpíadas e mundiais, metas para a melhoria das nossas participações.
Temos que começar a olhar para o mundo para conquistar aquilo que a escala permite e para subir temos que criar estratégias e recursos. Vamos ouvir conselhos e ouvir as orientações do Executivo. E definir dois caminhos. Ou introduzir o processo de renovação ou manter o nível competitivo. Se renovarmos vamos perder alguma qualidade, mas vamos trabalhar para irmos às olimpíadas do Rio de Janeiro.
O ministro da Juventude e Desportos, Gonçalves Muandumba, disse, no último Conselho, que as federações que se candidatarem para acolher um evento internacional devem avisar antes. A possibilidade da FAB organizar o Afrobasket 2015 não é uma falácia?
Concorremos para três competições em 2015 e às vezes as pessoas, a opinião pública, pensam que se concorremos já temos a competição, não é assim.
Concorrer é como a própria palavra diz, é tentar trazer para Angola essas competições. Foram precisamente o Campeonato do Mundo de sub-19, que é um processo que nos antecede, quando nós tomámos posse Angola já tinha a realização do campeonato do mundo, fazia parte de uma estratégia da direcção passada e reiteramos essa posição e mantivemos o processo em curso; e a realização do campeonato de seniores femininos ou de seniores masculinos, isto porque existem outros candidatos.
O que pretendemos é trazer para Angola alguns desses eventos. O campeonato de sub-19 foi-nos comunicado por sua Excelência o senhor ministro, que achou por bem que deveríamos nos concentrar mais nas provas africanas, uma vez que elas são mais importantes na perspectiva daquilo que são as nossas aspirações nas olimpíadas do Rio de Janeiro.
Estamos a trabalhar para que uma dessas candidaturas passe, até para valorizar os investimentos que o Executivo tem feito. As nossas selecções já não jogam em casa há muito tempo, acho que iria mobilizar o país, tanto o masculino quanto o feminino. São esses objectivos, dos dois vamos tentar realizar um em 2015.
‘Valorizo muito o angolano’
Como antigo praticante e agora presidente da FAB acha que Portugal é o melhor país para se contratar treinadores?
Na minha humilde visão, o nosso campeonato acaba por ser muito mais competitivo do que o campeonato português. O campeonato português, em determinados momentos, tem evoluído, fruto da qualidade de alguns jogadores estrangeiros que têm e de alguns jovens, porque Portugal neste momento também tem aí três ou quatro jogadores com alguma qualidade. Nós acabamos de alguma forma a olhar para esse cenário e achar que aquilo é um cenário de mais-valia para nós.
A verdade é que valorizo muito o angolano, aquilo que nós fazemos. Se olharmos para atrás, grande parte desse nosso percurso foi feito a custa de angolanos. E quando falo de angolanos vou aproveitar a incluir o professor Mário Palma, porque, apesar de ter nacionalidade estrangeira, é uma pessoa que esteve cá connosco desde 1975.
Viveu a fase evolutiva e da fundação daquilo que é o nosso basquetebol hoje, participou daqueles fenómenos de controvérsia, discussão que determinaram a evolução do basquetebol. Momentos protagonizados pelo professor Victorino Cunha, professor Vladimiro Romero, Óscar Fernandes, Beto Portugal e o Tonecas. Foi, mais ou menos, este leque de treinadores que, nas suas discussões e diferenças, fizeram com que se definisse o que era importante. Todo o mundo assumiu esse compromisso a nível do seu clube e fomos trabalhando com pormenor para chegar até aqui.
Hoje, qual é o raking de Portugal? Qual é o raking de Angola? Quais são as competições em que Angola participa, qual o nível das competições em que Portugal participa? Não podemos esquecer de um aspecto: do ponto de vista de formação, Portugal tem escolas do desporto já a funcionar há muito tempo, o que nós não temos.
É natural que existam treinadores com formação superior e com nível que de facto nós ainda não temos em quantidade. Se, por um lado, isso é verdade, ao irmos buscar em Portugal estes treinadores de qualidade e de nível superior, tal como penso relativamente aos jogadores, também é importante que os nossos treinadores que já tenham este nível não estejam no desemprego. Isto é que é razoável, principalmente quando esses nossos treinadores já deram provas claras daquilo que é o seu valor e continuam a ser estudiosos e dedicados ao basquetebol.
Temos treinadores de nível superior. Já foram campeões de África, já participaram em olimpíadas, campeonatos do mundo. A questão que coloco é a seguinte: apesar de terem esse currículo, se chegarem a Portugal e forem em busca de emprego, serão contratados pelas equipas portuguesas com a mesma facilidade com que os portugueses são contratados aqui? Isto é uma questão que gostaria de deixar no ar.
Será que estes treinadores que vêm de Portugal têm de facto a qualidade superior à dos nossos angolanos que já têm os créditos firmados? Penso que enquanto presidente da FAB não será correcto pronunciar-me sobre isso, mas é importante deixar essas questões no ar para que as pessoas reflictam. Temos neste momento, infelizmente, alguns treinadores de grande valia que não estão no activo e a federação está preocupada com isso, vamos tentar colocá-los em projectos para que mantenham a sua actividade. Não temos disponibilidade financeira para remunerá-los à luz do valor que têm no mercado.
Penso que os clubes têm uma responsabilidade grande nesse processo. A nossa visão é precisamente de que podemos ir buscar mais-valias ao estrangeiro, mas têm que ser diferenciadas e acima daquilo que é a nossa qualidade.
Um treinador estrangeiro tem que trazer alguma contribuição em termos de desenvolvimento e antes de se instalar perceba aquilo que é a nossa filosofia de jogo, o que é o nosso basquetebol, e de que forma devemos continuar a praticar, visando aquilo que são as responsabilidades da Nação e com as selecções nacionais. Em determinado momento, alguns treinadores estrangeiros esqueceram-se, tentaram criar as suas filosofias de jogo e fico muito satisfeito, quando os nossos treinadores, apesar das dificuldades que vivem, continuam a realizar o excelente trabalho e conseguem alcançar o sucesso nas competições em que estão engajados. (opais.net)