Histórias de indecisos. O trabalho mudou-lhe a visão política. Votará em quem melhor defender a ciência, os direitos dos gays e das mulheres.
Indeciso até ao momento de pôr a cruz no boletim de voto. E não é por falta de informação. “Interesso-me muito por política. Leio os jornais, vejo as entrevistas e os debates. Estive na associação de estudantes, mas não estou envolvido em nenhuma estrutura partidária nem pretendo estar.” Manuel Mateus, 22 anos, vota pela segunda vez nas legislativas, na primeira tinha acabado de fazer 18 anos. E até foi fácil a escolha, no PSD, talvez por influência da família, admite. Nestas, as opções são mais à esquerda porque começou a trabalhar e mudou.
“É interessante, identifiquei–me mais com as políticas de esquerda a partir do momento em que comecei a trabalhar. A minha família é católica, conservadora, e talvez por isso tenha votado no PSD. Agora devo ser o único elemento de esquerda da família”, diz, divertido. É licenciado em Biologia Celular e Molecular, está a fazer um estágio numa organização não governamental como técnico de rastreio através do Instituto do Emprego e Formação Profissional. A profissão mostrou-lhe as dificuldades da comunidade LGBT ( Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgéneros) em fazer valer direitos, tal como as das mulheres. E a formação revelou-lhe o panorama, igualmente difícil, da investigação em Portugal. A defesa destas três questões são fundamentais para Manuel Mateus entregar o seu voto a um partido.
“Nas eleições de 2011, Passos Coelho tinha dado uma entrevista em que era a favor da coadoção. Dizia, inclusive, que a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo era ilegal por não estar incluída a adoção. E o que aconteceu na Assembleia da República foi vergonhoso”, adianta, não poupando críticas aos partidos com mais deputados. “As questões LGBT marcaram esta legislatura e estão ausentes do debate. E o mesmo acontece com os direitos das mulheres. Aliás, os debates entre Passos Coelho e António Costa foram muito frustrantes, falou-se pouco do futuro. Por exemplo como se vai travar a hemorragia de jovens para o estrangeiro? Pensei: “O que me interessa são as políticas na área da investigação, ciência e do ensino superior, os direitos de LGBT e das mulheres e isso está ausente do debate, pelo menos na coligação [PAF] e no PS.”
Resta a CDU, mas Manuel Mateus não concorda com a saída do euro, além de que considera o PCP “homofóbico”. A sua indecisão está entre o BE e o Livre, mas terá de ser resolvida antes de 4 de outubro, por voto antecipado. Manuel Mateus é mais um licenciado a emigrar. Parte amanhã para Inglaterra, para fazer o mestrado em Medicina Molecular na Imperial College London. E depois dos estudos não pensa regressar. “Quero fazer investigação e cá não há bolsas, e as que existem são muito poucas. Portanto, ficarei em Londres ou noutra cidade europeia.” (dn.pt)