Fórum internacional sobre arquitectura realizado no Sumbe apelou aos participantes para criarem políticas exequíveis que permitam garantir uma maior mobilidade nas cidades.
Os arquitectos presentes no fórum Internacional do Sumbe, província do Kwanza-Sul, que decorreu de 8 a 10 deste mês, reconhecem que esforços, da parte das autoridades angolanas, estão a ser feitos no sentido de garantir que os novos aglomerados habitacionais em construção respondam aos padrões modernos da arquitectura internacional.
O tema “Cidades, vilas e património”, que centrou as discussões dos arquitectos provenientes de Angola (que albergou), Brasil, Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Macau serviu para abordar acerca da cidade que se pretende e a que se tem, neste momento. Outro fundamento da realização do encontro é avaliar-se “a tendência de crescimento versus atropelamento do existente e a ênfase que se está a dar ao património”, visão que tem orientado a actividade dos profissionais de arquitectura em Angola, segundo o bastonário da da ordem, Victor Leonel.
Origem histórica
Uma voz autorizada, presente no Sumbe, para esta reflexão é a do arquitecto António Gameiro, consultor do ministro do Urbanismo, para quem as cidades actuais são produtos de muitos anos de história, com uma enorme carga cultural e arquitectónica, resultantes de iniciativas da época colonial e um pouco da era pós–independência.
O arquitecto António Gameiro disse ser importante a definição de uma política urbanística nacional e o aproveitamento da capacidade de auto-construção das famílias angolanas para uma maior orientação do que se pretende como urbanização das cidades, vilas e bairros. Para ele, as centralidades não devem ser edificadas longe dos actuais aglomerados populacionais para se permitir que a mobilidade urbana se faça de forma dinâmica e com maior celeridade.
O projecto de requalificação da Baía do Mindelo, em Cabo Verde, no contexto de desenvolvimento da ilha de São Vicente foi uma excelente amostra de como iniciativas privadas podem interagir com os poderes públicos na procura de melhores soluções para problemas comuns, uma vez que a questão da arquitectura e da urbanização afecta a todos sem excepção. Apresentadas pelo bastonário da Ordem dos Arquitectos desse país do arquipélago africano, César Freitas, as experiências cabo-verdianas valem para a realidade angolana, porquanto o turismo tem provado, também, ser uma fonte de geração de emprego e de recursos financeiros, o que passa pela concepção de projectos atractivos, dinâmicos e bastante modernos.
Reacções
O jovem arquitecto Agilson Gustavo disse que a Centralidade do Kilamba é uma verdadeira amostra de como o Executivo tem procurado respeitar as normas internacionais, uma vez que nela se ressalta um cumprimento em mais de 90 por cento dos parâmetros do urbanismo, no caso a previsão de estacionamento, para os moradores, espaçamento entre vias com dimensão aceitável, além dos espaços verdes que abundam e as quadras desportivas que estão em cada bloco de edifícios que constituem a cidade.
“Os asmáticos devem estar muito contentes quando vão para o Kilamba, pois é, neste momento, dos poucos, se não o único, lugar da cidade em que se observou ao rigor o princípio de gestão do microclima e defesa contra o aquecimento global”, disse.
Desconhecendo a organização de uma grande parte das cidades africanas, o arquitecto Agilson Gustavo disse que, dependendo da organização urbana, a Centralidade do Kilamba pode competir com muitas outras do continente, tendo ainda enaltecido o facto de neste assentamento as escolas estarem fixadas também nos respectivos blocos, permitindo assim, quando em funcionamento efectivo, que as crianças, sobretudo, deixem de percorrer longos quilómetros ao encontro destas instituições. “Isso diminui a fuga escolar e motiva o aumento dos níveis de aprendizagem dos meninos, que não sentem a pressão de atravessar longas avenidas”, lembra.
Por sua vez, a arquitecta Fábia Lubaque disse que Angola precisa tão-somente de seguir os caminhos definidos pela arquitectura internacional e, uma vez terminado o conflito que levou à pressão demográfica na capital Luanda, há necessidade de voltar-se aos programas originais. Para ela, a requalificação ou renovação assume-se em muitos casos como o melhor caminho. Contudo, lembra que a arquitectura apesar de buscar o belo tem de priorizar o funcional. Nisso, ela enaltece o facto de as centralidades estarem já ajustadas à realidade nacional.
“Como sabe, as nossas famílias são numerosas em grande medida. Vale o facto de as tipologias serem em T3, o mínimo, e T5, o máximo, o que permite que as famílias coabitem harmoniosamente, evitando que o interior das habitações respeitem os padrões de divisão de espaço para evitar-se que outros compartimentos sejam alterados para fins de dormitórios”, disse.
O também arquitecto Leandro Sicato disse que as nossas cidades, hoje por hoje, perderam parte da sua essência antropológica. Os modelos africanos foram sendo substituídos por estilos europeus, medida que tem forçado as famílias a uma adaptação agressiva.
Leandro Sicato é de opinião que as centralidades precisam de melhorar a acessibilidade, pois os actuais modelos não são inclusivos, sendo a dificuldade de lá residirem portadores de deficiência uma clara referência desse pormenor.
“Há muito pouco enquadramento entre o tipo de habitação disponível com os modelos de comportamento das famílias que vão lá habitar”, afirma. (Jornal de Economia & Finanças)
Por: Isaque Lourenço