Dulcineia de Sousa entra para a história da aviação policial angolana ao tornar-se, aos 25 anos, a primeira mulher a levantar voo num aparelho pertencente ao comando da Esquadra de Helicópteros do Comando-Geral da Polícia Nacional. A pioneira faz parte de um grupo de 13 pilotos e 20 técnicos de manutenção que terminaram recentemente a sua formação em pilotagem, no Brasil.
Os novos pilotos, com idades entre os 20 e os 27 anos, contaram ao Jornal de Angola que o curso foi marcado por muita ansiedade, devido ao meio ambiente, clima, alimentação e saudades da família. No entanto, depois de terminado o curso, a satisfação, o sorriso, a alegria, a emoção e o sentimento do dever cumprido apossaram-se de todos eles.
Para Dulcineia, ser piloto é a concretização de um sonho que alimentou desde pequena. Um dia, quando menos esperava, surgiu a oportunidade e aproveitou-a da melhor forma. Passou nos testes psicotécnicos e foi enviada para o Brasil. No entanto, no início as coisas não foram fáceis e o primeiro obstáculo foi mesmo o mais inesperado: o medo de voar. De estatura baixa e corpo franzino, Dulcineia arranjou coragem e quando ultrapassou o medo de voar, conseguiu também ultrapassar outros obstáculos que tinha pela frente.
Agora, sente-se capaz de rasgar os céus e regressar a terra, mesmo com mau tempo. Os dois anos que passou no Brasil deixaram-na preparada para enfrentar qualquer adversidade.
Dever cumprido
O comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-geral Ambrósio de Lemos, visivelmente emocionado, confessou que gostava de ser transportado num helicóptero pilotado pela única mulher piloto, desejo que foi prontamente aceite. Para ele, Dulcineia pode tornar-se uma referência e motivo de incentivo a outras jovens mulheres dentro da corporação. “É um exemplo de igualdade de género. O que faz a igualdade de género é a capacidade, a vontade e determinação da pessoa independentemente do sexo”, sublinhou Ambrósio de Lemos durante o acto de apresentação do grupo de pilotos, assistido igualmente pelo segundo comandante da Polícia Nacional, comissário-chefe Paulo de Almeida, e pelo comandante da Esquadra de Helicópteros, João Lello. Todos tinham a satisfação estampada no rosto, denunciando a convicção da missão cumprida.
O comissário-geral adiantou que os novos pilotos vão contribuir para uma maior operacionalidade das missões que lhes são incumbidas pelo Comando. “Com o reforço de pessoal, podemos perseguir criminosos à noite, que tenham roubado, por exemplo, uma viatura, perseguindo os seus movimentos”, explicou Ambrósio de Lemos.
Aptos para voar
O comandante da Esquadra de Helicópteros da Polícia Nacional disse que os pilotos e técnicos receberam formação no Brasil durante dois anos e meio e estão prontos para voar, inclusive, durante a noite. Adiantou que existem outros 20 elementos a frequentar o curso de técnicos de manutenção e nove na especialidade de pilotagem.
O comissário João Lello, piloto instrutor há mais de 30 anos, adiantou que a formação vai continuar, tendo em vista o crescimento daquela Esquadra e para ser dada resposta policial com os aparelhos actualmente disponíveis.
“Os pilotos formados estão prontos a voar, porque tiveram a qualificação que os habilita a voar à noite com mau tempo, faltando apenas, neste momento, ganharem experiência”, disse.
Dentro em breve vai ser enviado para fora do país um outro grupo de jovens para frequentarem o curso de pilotagem de aviões, tendo em vista o plano da Polícia Nacional de adquirir um aparelho, adiantou o comandante da Esquadra de Helicópetros da Polícia Nacional.
O curso de pilotos de helicópteros teve o seu início em Janeiro de 2009 e terminou em Julho de 2011.
A importância da formação
Durante a formação, foram ministrados disciplinas como matemática, trigonometria, física, aerodinâmica, teoria de voo, regulamento de tráfego e navegação aérea, segurança de voo, psicologia e medicina aeronáutica, regra de ar e inglês de aeronáutica, num total de 500 horas. Os pilotos tiveram quatro meses de prática de pilotagem privada de helicóptero, com 40 horas de voo. Fizeram ainda o curso de piloto comercial de helicóptero durante seis meses e cada instruendo voou 65 horas.
Do lote de pilotos, três são agentes e dez civis. Os civis vão fazer formação policial básica para enquadramento no quadro da corporação. A Polícia está a trabalhar na construção de um hangar e o objectivo é a colocação de três helicópteros em cada hangar. Os recém formados também vão trabalhar no socorro a catástrofes com os helicópteros ambulância, para remoção de sinistrados.
Os helicópteros da Esquadra
O Comando possui actualmente 19 aparelhos de marca Ecureil B3, B2, Allouette e Delfim N2, dos quais dois prestam serviço de ambulância. Os helicópteros têm capacidade para transportar seis pessoas: um piloto, um mecânico e quatro passageiros. Existem aparelhos que são monomotores, com uma velocidade de 220 quilómetros por hora e uma autonomia para duas horas e 40 minutos de voo. Os Dalfim N2 funcionam com dois motores. Têm a velocidade de 250 quilómetros por hora e capacidade para transportar dez pessoas.
A Polícia tem utilizado o helicóptero ambulância para socorrer vítimas de acidentes de viação e pessoas adoentadas em diversas partes do país. Os helicópteros contribuem para o combate à criminalidade e são um valor acrescentado para as forças que se encontram em terra, devido à sua rápida mobilidade para a localização de viaturas furtadas ou na perseguição de grupos de marginais.
A Esquadra de Helicópteros apoia ainda o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional e a Brigada Especial de Trânsito (BET) no patrulhamento aéreo, cujo aparelho, para não depender da torre de controlo do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, está em prontidão na Escola Nacional de Polícia de Protecção e Intervenção, conhecida por Capolo II.
O Comando da Esquadra de Helicópteros foi fundado no dia 4 de Junho de 1992 com o objectivo de apoiar a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) na cobertura da visita do Papa João Paulo II e nas eleições gerais de 1992.