Luanda – Assinala-se domingo, 23 de Março, o vigésimo sexto aniversário da Batalha do Cuito Cuanavale, considerada a maior de forças regulares ocorrida na África Austral.
A efeméride marca a derrota imposta, em 1988, pelas ex-Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), conjuntamente com internacionalistas de Cuba, contra militares do antigo regime sul-africano do apartheid, que, na altura, invadia Angola a partir desta região sudeste do país.
A derrota das então forças militares sul-africanas obrigou o regime do apartheid a promover conversações quadripartidas, que levou a assinatura do Acordo de Nova Iorque (EUA) e, consequentemente, a independência da Namíbia e a democratização da África do Sul, com o fim do regime do Apartheid.
A intervenção sul-africana em Angola teve início no período colonial português, com o objectivo de ajudar os colonialistas na luta contra os grupos de guerrilheiros que na altura existiam. A principal base da África do Sul na altura estava localizada na região do Cuito Cuanavale.
Após a independência, estas forças voltaram a invadir o país, posicionando as suas tropas até ao sul do Ebo, província do Kwanza Sul, de onde sofreram uma derrota e tiveram de se retirar.
Após este recuo, instalaram-se na Namíbia e daí realizavam incursões no território angolano, sempre com o pretexto de que combatiam os militantes da Swapo e do ANC.
Durante quase mais de uma década, o regime sul-africano tinha como objectivo manter um território no sul de Angola, onde operariam livremente contra o exército angolano.
Ainda durante este tempo, o exército angolano realizou várias operações ao sul do território, com o objectivo de destruir as bases da Unita, e nela foram empregues quatro brigadas (16, 21, 45, 59), que avançaram até às margens do rio Longa.
A ofensiva das FAPLA estava a ser coroada com grandes êxitos até os sul-africanos introduzirem directamente forças como a brigada 61 motorizada, batalhão búfalo e outras que conseguiram, na altura, parar a ofensiva do Governo angolano.
Animados com este resultado, resolveram realizar outra operação denominada “Hooper”, cujo objectivo era destroçar as brigadas das FAPLA e tomar o Cuito Cuanavale.
Decidiram então abrir duas frentes, sendo uma no Cuando Cubango e outra no Cunene, com o objectivo de realizar uma ofensiva em direcção à fronteira namibiana.
Após grandes combates de artilharia, tanques e bombardeamentos aéreos, que duraram oito horas, as FAPLA conseguiram derrotar as tropas sul-africanas, obrigando-as a se retirar.
Nesta batalha, segundo fontes militares, foi quebrado o mito de invencibilidade do exército racista da África do Sul e alterou, “de uma vez por todas”, a correlação de forças na região austral do continente.
A superioridade alcançada pelas ex-FAPLA no campo de batalha fez com que o regime do apartheid, temendo uma derrota mais pesada, aceitasse a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU.
A resolução 435/78 ditava a independência da Namíbia e consequentemente o desmantelamento do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.
Numa declaração dirigida à nação, em 2008, por ocasião da data, o Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, enalteceu este feito, por constituir, sem dúvida, a premissa fundamental para a paz e a reconciliação nacional de Angola.
“A Batalha de Cuito Cuanavale foi, assim, o ponto de viragem decisivo numa guerra que se arrastava há longos anos e na qual o jovem Estado angolano teve de sofrer as pressões e ameaças de grandes potências e a agressão directa de forças militares que elas financiavam, apoiavam e armavam”, lê-se na mensagem.
Segundo o presidente, “com a vitória do Cuito Cuanavale e as medidas tomadas posteriormente foram eliminados os principais factores externos que ainda condicionavam o conflito em Angola e abriu-se uma via favorável à sua resolução interna”.
Para honrar a memória de todos os que lutaram para defender aquela localidade da ocupação sul-africana, o governo angolano ergueu, à entrada da sede municipal do Cuito Cuanavale, um edifício de aproximadamente 35 metros de altura, sob a forma de pirâmide, denominado “Monumento Histórico”.
A infra-estrutura comporta dois pisos, um terraço e sustentada por três vigas de betão armado, que lhe conferem a forma de uma pirâmide, está equipada com um elevador com capacidade para transportar cinco pessoas.
Logo à entrada do pátio do monumento histórico, encontra-se uma estátua de dois soldados, sendo um combatente das ex-FAPLA e outro cubano, com os punhos erguidos em sinal de vitória no fim dos combates da já conhecida, no mundo, “Batalha do Cuito Cuanavale”.
No mesmo perímetro, encontra-se uma biblioteca e um museu, este último, onde estão expostas algumas das armas capturadas durante os combates e do material utilizado pelas extintas FAPLA e pelas tropas cubanas.
O nome Cuito Cuanavale, um dos municípios da província do Cuando Cubango, tem origem dos rios Cuito e Cuanavale, que convergem nesta região.
O Cuito Cuanavale possui uma superfície de 35.610 quilómetros quadrados, onde se estima que habitem 94.743 pessoas, que se dedicam essencialmente à agricultura e criação de gado. (portalangop.co.ao)