O BPN terá sido enganado num negócio de terrenos em Luanda. No fim de 2008, os imóveis acabaram revendidos ao BES Angola por mais de 11 milhões de euros
O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) está a investigar indícios de crimes de burla e fraude fiscal qualificada, abuso de confiança e branqueamento de capitais alegadamente verificados num negócio que envolveu dois terrenos contíguos localizados em Ingombotas, no centro de Luanda, a capital de Angola.
Um despacho do Ministério Público (MP) a que a SÁBADO teve acesso afirma que os gestores portugueses Carlos Marques e Carlos Ortigueira – já constituídos arguidos pelo DCIAP na operação Rollerball (investigação a financiamentos bancários concedidos para negócios alegadamente sobreavaliados ou falsos) -, terão participado num esquema que recorreu também a “financiamentos obtidos junto do BPN de forma fraudulenta e nunca reembolsados”.
SEGUNDO ROSÁRIO TEIXEIRA, o procurador do MP que investiga o caso detectado no processo Rollerball, os imóveis em causa terão, em pouco mais de um ano, duplicado de valor. Acabaram por ser revendidos, no fim de 2008, ao BES Angola (BESA) por 14,5 milhões de dólares (11,3 milhões de euros).
A SÁBADO apurou que terá sido nesses terrenos que foi depois construída a nova sede de 25 andares que o banco liderado por Álvaro Sobrinho inaugurou no fim do ano passado.
Para o MP, uma parte do dinheiro pago pelo BESA terá sido encaminhado pelos dois suspeitos para contas na Suíça. Não o terão declarado ao fisco português nem pago os créditos ao BPN. À SÁBADO, Carlos Marques recusou, através do advogado Paulo Saragoça da Matta, falar sobre este caso. Carlos Ortigueira não respondeu às nossas tentativas de contacto.
Uma fonte que conhece parte do negócio imobiliário garantiu à SÁBADO que Carlos Marques comprou em 2007 os dois terrenos. Um dos imóveis seria propriedade do antigo diplomata angolano Fernando Duarte Silva, e terá custado cerca de 1,5 milhões de dólares (1,2 milhões de euros). Já o outro terá envolvido mais de 5,5 milhões de dólares (4,2 milhões de euros). Este último foi comprado à Forçalis Angola, Comércio e Indústria, SARL, uma empresa revendedora de electrodomésticos registada em 1994 em Luanda pelo português José Nunes Bento.
O empresário, que tem mais de 80 anos e está falido em Portugal desde 2008, já foi ouvido várias vezes pelo MP como testemunha no processo. Segundo a SÁBADO apurou, Nunes Bento terá declarado que também ele foi enganado no negócio e que nunca recebeu parte do dinheiro da transacção. Além disso, indicou ao MP que o negócio terá tido outros intervenientes. À SÁBADO, e através do seu advogado, o empresário recusou prestar declarações: “Não é o melhor momento para falar do caso.”
ANTÓNIO JOSÉ VILELA (revista SÁBADO)