Foi em ambiente de profundo pesar que a família do artista angolano Waldemar Bastos realizou a missa de um ano referente ao seu desaparecimento físico em Lisboa.
O ambiente da cerimónia foi marcado pela dor e saudade daquele que ergueu a sua linda voz, para cantar Angola, de forma muito peculiar. Exprimindo sentimentos, descrevendo singularidades da vida angolana, da sua natureza, Waldemar Bastos, impôs-se no mundo da arte musical, cumprindo a promessa de “universalizar o semba”, numa entrevista , que foi tema de capa na revista “África Notícias”, do editor guineense João de Barros em Lisboa, em finais dos anos 80.
Corria o ano de 1989, salvo o erro, quando juntou o brasileiro, baixista e arranjista Jorge Degas e o caboverdiano Ramiro Mendes na produção do álbum “Angola minha namorada”, editado pela Valentim de Carvalho, precisamente de harmonia com as suas idéias. O álbum traduzia aquilo que era o seu pensamento artístico, ao introduzir nas suas composições a sonoridade dos violinos, conferindo-lhe a magnitude da música clássica universal.
A partir daí a moda pegou, permitindo que outros autores africanos se inspirassem no seu chá de modernidade e embelezassem a sua criatividade em torno dessa engenharia sonora. Analisando a discografia de Waldemar Bastos, muito assente na temática popular e moralista, que irritava a classe política nacional engajada, pela veracidade dos seus ditos. A música extraída do seu íntimo, reflecte o estado actual da vida angolana, onde os valores foram invertidos, chocando com as promessas dos que anunciaram uma nova aurora para o país, então sob o domínio colonial.
VIDEOCLIPE DO SHOW DO MÊS 2018, DE WALDEMAR BASTOS, ONDE AMIGOS E ADMIRADORES NÃO FALTARAM – YOU TUBE
A independência chegou a Angola, com a guerra e as divisões ideológicas, de 1975 a 2002, em que se inicia uma nova etapa na vida do país. A era da paz e da reconstrução nacional e dos grandes investimentos milionários, que deram origem ao surgimento de uma classe de novos ricos, alguns por decreto e outros por açambarcamento dos cofres públicos, que a actual liderança política do país tenta combater, com grande esforço e sacrifício, desbaratando aqui e acolá, o emaranhado de situações que todos conhecemos.
É nesta conjuntura difícil que veio a surpresa que ninguém estava à espera. A doença e a morte juntaram-se em simultâneo, não dando tempo ao artista e mentor do hino “Velha Chica” de defender a sua saúde, como seria desejável, quando soubémos pela imprensa portuguesa, nas primeiras horas da manhã, a sua ausência definitiva, deste mundo que ele queria para todos nós: livre e independente.
Ao desembarcar em Luanda, para o grande público que o recebeu com o maior apreço, Waldemar Bastos era um homem feliz, não cabendo em si de contente, sobretudo pelo facto de ser agraciado pelo Presidente João Lourenço, com uma residência em Luanda, onde esteve ausente, num exílio forçado, por motivo da sua música de intervenção, a denunciar as nossas makas.
Que Deus o tenha e o mantenha ao seu lado para todo o sempre!