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    Uma rica agenda cultural

    Distante da problematização à volta do conceito de jornalismo cultural, o curso promovido pela organização do Luanda Internacional Jazz Festival inscreveu como dois dos seus objectivos superar o perfil profissional dos jornalistas e instaurar o debate sobre questões que se relacionam com o tratamento da informação artística e cultural, veiculada pela generalidade dos meios de comunicação social.
    Destinado a jornalistas que informam sobre a dinâmica das artes e de aspectos gerais da cultura, incluindo o público interessado, o Curso de Jornalismo Cultural que se realizou de 27 a 31 Julho, no anfiteatro do CEFOJOR, pretendeu dar aos seus participantes noções gerais de jornalismo e cultura, rudimentos de carácter linguístico, história do jazz- desde os primórdios até aos nossos dias – teoria literária e estudo da terminologia específica da dança, teatro, música, cinema e artes plásticas, aplicada ao jornalismo.
    Segundo António Cristóvão, Director do Luanda Internacional jazz Festival, “o curso de jornalismo cultural é uma nova adição ao festival, constituindo um compromisso do certame com o desenvolvimento cultural dos nossos jornalistas profissionais e das franjas do público interessado. O objectivo principal do curso é aumentar as competências dos jornalistas, no tratamento das artes em geral, e do jazz em particular. O curso treina jornalistas e escritores de todas as áreas sobre a importância do jornalismo cultural, e conduz os alunos através da história da música, do jornalismo e das artes. O festival será usado como um trampolim para a arte da escrita criativa e da redacção de relatórios, sendo destinado, de igual modo, aos freelancer’s”.
    Além da audição de peças musicais mais relevantes da história do jazz, quatro, das cinco sessões de três horas, tiveram a exibição de um documentário em DVD, que narra os movimentos mais importantes do jazz, e a biografia artística dos músicos mais representativos deste género musical, ao longo da história social e política dos Estados Unidos.

    Programa do curso

    Dos conteúdos programados constam, especificamente, noções gerais de jornalismo, cultura e linguística, formas de tratamento das artes nos diferentes meios de comunicação social, géneros jornalísticos mais comuns na abordagem do assunto cultural, conceito de cultura – na sua dimensão objectiva e subjectiva – definição referencial de literatura, semiose literária, principais instrumentos musicais do jazz e terminologia mais comum das artes na escrita jornalística.
    Num outro momento do curso foi abordada a génese, evolução e enquadramento histórico do jazz, música religiosa (espirituais e gospels), o carácter profano dos blues de New Orleans, as primeiras gravações em Chicago, no estilo Swing, principais correntes estéticas do jazz, os principais movimentos e correntes estéticas do jazz, que integram: o movimento Bop, o cool e o jazz west coast, os anos da “Blue Note”, o Hard Bop, a dimensão e os contributos do mestre “Miles Davis”, o movimento free, o universo de John Coltrane, o percurso do poeta Bill Evans, a irreverência de Charles Mingus, o jazz rock,  o world jazz, e as novas tendências.

    Documentário

    Um dos principais suportes didácticos utilizado no Curso de Jornalismo Cultural, com enorme sucesso, foi a exibição do documentário “Jazz, um filme de Ken Burns”, do realizador norte-americano, Ken Burns, um dos mais premiados e respeitados documentaristas dos Estados Unidos, com mais de 12 horas e meia de duração, produzido em 2002, e disponível em quatro DVD’s. O referido documentário, uma co-produção da BBC que custou mais de 13 milhões de dólares, e levou mais de seis anos de produção, narra a história definitiva do jazz, desde as suas raízes no século XIX aos nossos dias. Vivamente aclamado pelos formandos, o documento apresenta centenas de momentos raros do ambiente social e político em New Orleans, a cidade americana mais cosmopolita do século XIX, reproduções de clássicos intemporais, gravações e apresentações ao vivo colhidas ao longo de um século inteiro de jazz, além de entrevistas exclusivas, clipes raros e fotografias inéditas.
    “Jazz, um filme de Ken Burns” revela as primeiras raízes musicais do jazz, até ao final de 1920, quando o estilo já conquistava toda a América, e narra a história de Buddy Bolden, que poderá ter sido o primeiro homem a tocar jazz, a aparição do pianista Jelly Roll Morton, o músico que arrogava a si a invenção do jazz, mas que foi, de facto, o homem que transcreveu, pela primeira vez, peças de jazz em partitura.
    Em 1917, narra ainda o documentário exibido no curso, surge a primeira gravação pelo “The Original Dixieland Jazz Band”, e o ano de 1920 é considerado pelos historiadores “a era do jazz”, a época do “Cotton Club”, um espaço dominado por duas figuras extraordinárias: Louis Armstrong e Duke Ellington, entre outras figuras, até às inovações com o trompetista Wynton Marsalis.

    Jornalismo cultural

    A história do jornalismo cultural, em Angola, confunde-se com a aparição dos primeiros jornais impressos, surgidos com o advento da instalação do prelo, em 1845, um século depois do surgimento do jornalismo cultural em França. Segundo Júlio de Castro Lopo (1899-1971), um importante estudioso da história do jornalismo angolano, “o primeiro órgão da imprensa de Angola, intitulado Boletim do Governo-geral da Província de Angola, iniciou, a 13 de Setembro de 1845, o primeiro noticiário mundano, e inseriu o primeiro anúncio comercial e o primeiro noticiário teatral”, o que nos faz depreender que o teatro terá sido a primeira abordagem sobre assuntos culturais nos jornais, no caso, o Boletim do Governo-geral da Província de Angola.
    Mesmo com a dinâmica da imprensa livre, ainda eram escassas as informações sobre assuntos culturais, entendidas como domínio emancipado de tratamento jornalístico, dos factos relacionados com a actividade artística, tal como são abordados nos tempos actuais as artes plásticas, música, cinema, movimentos culturais, teatro e literatura, em suplementos especializados.
    Para além da crítica, a arte de julgar o poder expressivo das obras de arte, a generalidade dos artistas, produtores culturais, curadores, empresários, autoridades do Estado ligadas à cultura, directores de fundações, museus e bibliotecas, têm sido as principais fontes do Jornalismo cultural.

    Fonte: Jornal de Angola

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