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Segunda-feira, Outubro 7, 2024

Um festival emotivo e tocante

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 - portal de angolaMesmo com os últimos concertos ainda por cumprir no momento em que se escreve esta crónica de cacimbo com muita, muita música, não hesito em afirmar que, além de ter sido um momento importantíssimo da crónica nacional do jazz, a realização desta terceira edição do Festival Internacional de Jazz de Luanda não pode passar à história como um caso feliz, mas isolado. O Festival tem funcionado como um guia de extrema utilidade para se aprender a amar o jazz e para um acompanhamento mais cuidado dos concertos.
Hoje, nada pode ser considerado no jazz como um dado antecipadamente garantido. A experiência ensina que só um persistente esforço de audição da música produzida em concreto pode ajudar a avaliar e a compreender os surpreendentes caminhos que são percorridos pelo talento e as múltiplas capacidades de invenção deste ou daquele músico.
Foi, por isso, muito estimulante e enriquecedor “ouver” sem fundamentalismos redutores da imaginação e da criatividade alguns dos grupos que estiveram nos dois palcos do Atlântico, que, é preciso sublinhar, muito dificilmente “suportou” tanta gente ávida de música “ao vivo”.

A ponte entre o Jazz e o Rock

Partindo da poderosa herança de Miles Davis, especialmente através de dois discos seminais no seu longo e invejável percurso, “In a Silent Way” (1968) e “Bitches Brew” (1969), o anúncio do universo electrificado que faria a ponte para os futuros meteorologistas do jazz-rock e a explosão que abalou o rosto dos anos 70, a banda americana Spyro Gyra formada em meados dos anos 70 na cidade de Buffalo – Jay Beckstein (saxofones), Julio Fernandez (guitarras e voz), Tom Schuman (teclados), Scott Ambush (baixo eléctrico) e Bonny B (bateria, percussão e voz) – pode resumir-se a uma única palavra: arrebatadora. É a definição que melhor serve a estes músicos competentes e cumpridores. Uma comunidade criativa de personalidades fortes.

Democrática no reportório, distribuído pelos cinco, o Spyro Gyra criou uma música forte, de grande intensidade rítmica e forte expressividade, com um Julio Fernandez magistralmente bluesy, um Tom Schuman pigmentando os temas com cintilações rápidas e fulgurantes, um Boney B exemplar na plasticidade percussiva e um Bechstein soberbo e inspirado. E Scott Ambush muito seguro, discreto, mas muito eficaz.
Os temas (“A quote from Mr. Z”, “Catching the sun”, “De la Luz”, “On Liberty Road for south Africa”, “Morning dance”, entre outros) aqueceram os corações, inundando a plateia com enorme beleza musical e foram o território ideal para a energia e criatividade de um quinteto impecável.
E o jazz voltou a dançar. E a modernidade do jazz continua a ter muitos caminhos.
E agora, depois da música generosa do Spyro Gyra, pode-se reafirmar a velha máxima: no rock, poucos voltaram a ser como dantes; e no jazz, só os veteranos de outras gerações não mudaram.
E ainda houve tempo para dois dedos de conversa com a banda: gente simpática, com ideias claras sobre o futuro do jazz e da música.

Fonte:  Jornal de Angola

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