Três dias antes do anúncio do acordo do resgate para a banca espanhola, Mariano Rajoy enviou uma carta urgente a Durão Barroso e Van Rompuy em defesa de uma maior integração fiscal e bancária na Europa.
O presidente do Governo espanhol disse hoje no Congresso de Deputados ter remetido uma carta aos líderes europeus em que defende “claramente” uma maior integração bancária e fiscal na Europa.
A carta endereçada ao presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e ao presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, data de 6 de junho, três dias antes do anúncio de que Espanha iria avançar com um pedido de ajuda externa para a recapitalização da sua banca.
No texto, Rajoy considerou que a Europa “está a atravessar a crise mais grave desde a sua criação” com o euro “em risco”, sendo urgente “atuar de forma decidida, a nível nacional e como unidade, para enfrentar uma situação cujo desenlace é imprevisível”.
Mercados nacionais continuam “excessivamente segmentados”
O chefe do Governo espanhol afirmou que se está perante uma “fragmentação do mercado financeiro comunitário” e, como consequência, “uma fuga de liquidez dos países da periferia para o centro”. “Esta situação é insustentável, imprevisível e poderá levar o euro ao limite”, escreveu.
“Resolvê-la requer uma ação decidida para superar as deficiências de desenho da união, dotando-a de mecanismos de ajuste necessários”, afirmou.
Para concluir esse objetivo, Rajoy defendeu uma atuação em vários âmbitos, o primeiro dos quais o processo de “consolidação fiscal” para que a Europa regresse ao “caminho do crescimento equilibrado e sustentável”.
Recuperar o crescimento e o bem-estar requer também que os Estados-membros “reformem os seus mercados em profundidade”, dando à união monetária a flexibilidade necessária para funcionar corretamente.
O líder espanhol defendeu ainda que a UE e a zona euro, em particular, devem continuar a avançar no processo de “integração dos mercados nacionais”, que continuam “excessivamente segmentados”.
Entre as questões específicas, neste campo, Rajoy pediu “mais atenção à liberalização dos serviços” e “fomentar a mobilidade do trabalho”.
“Assegurar a estabilidade financeira é essencial”
A curto prazo, o governante espanhol afirmou serem necessárias medidas para “garantir a estabilidade financeira da zona euro”, garantindo que “as empresas e as famílias têm acesso a liquidez”.
“Isso é impossível se persistirem as dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida dos Estados soberanos”, disse.
“A única instituição que tem hoje a capacidade para assegurar essas condições de estabilidade e liquidez é o BCE. Assegurar a estabilidade financeira é essencial para mostrar o compromisso dos Estados-membros com a irreversibilidade do euro”, escreveu Rajoy.
Finalmente, Rajoy afirmou que devem ser exigidos “objetivos a médio prazo” para responder às expetativas dos investidores, nos quais devem ser apresentadas garantias de “que tem sentido apostar no euro como área estável e fiável”.
Europa deve ter uma autoridade fiscal
“Por isso, é necessário que os líderes europeus cheguem a acordo no compromisso decidido e contundente com a moeda única, reforçando a arquitetura institucional comum da união”, referiu.
O líder espanhol defendeu ainda a criação de uma autoridade fiscal na Europa, “que possa dar uma orientação à política fiscal na zona euro, que harmonize as políticas fiscais e que permita um controlo das finanças, centralizado, além de ser gestora da dívida pública”.
“No âmbito bancário é necessário contar com uma supervisão a nível comunitário e um fundo de garantia de depósitos comum”, considerou. Mariano Rajoy, que falava na sessão do controlo ao Governo, explicou que levará a mesma mensagem na reunião que manterá com os líderes da Alemanha, França e Itália em Roma, no próximo dia 22 de junho.
“É preciso que se diga que o euro é uma moeda irreversível”
O chefe do Governo explicou o conteúdo da carta numa resposta ao líder da oposição, Alfredo Pérez Rubalcaba, no âmbito do debate sobre o resgate à banca espanhola, na sessão do controlo ao Governo.
Rajoy garante que levará a mesma mensagem na reunião que manterá com os líderes da Alemanha, França e Itália em Roma, no próximo dia 22 de junho e na próxima reunião do Conselho Europeu, a 28 e 29 de junho em Bruxelas.
“Creio que a Europa deve ter uma maior integração fiscal e bancária. Defendo a resolução dos problemas de financiamento e liquidez que, neste momento, estão a afogar muitas economias e defendo que tudo isto seja debatido e as decisões sejam tomadas rapidamente”, afirmou.
“Neste momento, para resolver os problemas das economias da zona euro, o mais urgente é que haja muita claridade sobre a zona euro e que se diga que o euro é uma moeda irreversível”, sublinhou.
FONTE: Expresso