Os sucessos musicais das Gingas são revividos quinta-feira às 20h00 na Piscina de Alvalade em Luanda, num espectáculo de gala realizado para comemorar os 30 anos de carreira do grupo.
A directora artística das Gingas, Rosa Roque, disse ao Jornal de Angola que o espectáculo é uma oportunidade única de reunir as integrantes do grupo, desfeito há algum tempo por motivos profissionais e pessoais. Durante o espectáculo, adiantou, são feitas projecções de imagens com fotografias, retratando os 30 anos de carreira das “Meninas do Maculusso”. A apresentação do espectáculo está sob responsabilidade dos jornalistas Ladislau Silva e Maria Luísa Fançony, por estarem ligados ao percurso histórico do grupo.
Organizado pela empresária e promotora de eventos Aurora Lopes, o espectáculo, que tem a duração de duas horas e meia, é feito à base de um repertório com mais de 25 canções, seleccionadas com critério. “Primamos por aquelas músicas que a banda tem a capacidade de tocar, visto que o repertório do grupo é composto por mais de 60 canções”. Rosa Roque garantiu que qualquer um dos cinco discos, “Mbanza Luanda”, “Malange-Natureza e Ritmos”, “Xiyami”, “Muenhu” e “Luacthimo”, serve para realização de um grande espectáculo, mas optaram pelos temas mais conhecidos das três décadas de carreira do agrupamento.
Rosa Roque lamentou o facto de muitos admiradores não poderem assistir ao espectáculo em função da limitação do espaço. “A intenção é realizar o mesmo espectáculo no Cine Atlântico dentro de um mês, para mais pessoas o poderem assistir. Mas a falta de patrocínio tem condicionado este projecto.”
A directora artística adiantou que o espectáculo conta com as participações do grupo carnavalesco União Jovens da Cacimba, vencedor desta edição do Carnaval de Luanda, que actua na abertura e do grupo de dança tradicional Kilandukilo. Durante o concerto, disse, há um momento de serenata, onde as Gingas são acompanhadas pelos antigos integrante da banda Avilupa Boss, como Figueira, Kizua Gourgel e Nguabi, que também participaram nos discos do grupo.
O concerto, acrescentou, tem também a participação dos filhos de cada integrante das Gingas, que interpretam os antigos temas infantis do grupo. “O propósito é alternar o espectáculo entre os grandes bailados tradicionais e alguns temas internacionais”, disse.
Entre as músicas propostas para o guião artístico constam os temas “Kizomba”, “Filhas de África”, “Panguila”, “Pérola Azul”, “Embondeiro de Luanda”, “Nova Luanda”, “Mbanza Luanda”, “Kaluanda”, “Mussulo”, “Luanda Mulher”, “Canta não chora”, “Encosta na parede” e “Luanda tal e qual”. “Pedi a elas que dessem o seu máximo e mostrassem aos presentes que o grupo hoje já é uma marca incontornável no mercado musical angolano”, disse Rosa Roque.
Apesar dos altos e baixos do grupo no decorrer destas três décadas, Rosa Roque sublinhou que, mesmo “amputados”, nunca deixaram de realizar espectáculos no país e no estrangeiro. “Hoje estou solidária com estas meninas que abraçaram de novo o seu próprio projecto. Lamento apenas que a falta de apoios não permita desenvolver outros projectos do grupo”, desabafou. Rosa Roque anunciou também que está a ser preparado para o mês de Maio a apresentação de um livro com os principais momentos do percurso histórico das Gingas através de fotografias e uma colectânea com os cinco discos das “Meninas do Maculusso”.
O semba no feminino
Gersy Pegado disse que ao longo do espectáculo interpretam principalmente os temas que privilegiam o semba, kilapanda e kizomba. “Queremos mostrar o quanto as mulheres conseguiram afirmar-se no semba e contribuíram para o crescimento da música angolana.”
Ao longo desses anos, disse, foram feitos investimentos, com base num padrão de produção muito alto, que permitiu ao grupo existir actualmente. “O conteúdo das músicas ainda é tão actual e com características próprias, que muitos angolanos se revêem nelas.”
Por sua vez, a cantora Paula sustentou que o momento deve servir para se render uma homenagem a todas integrantes do grupo e nos que acreditaram no projecto. O reconhecimento das entidades angolanas e principalmente do público que acompanhou fielmente “As Gingas”, ao longo dos anos, é considerado como um dos maiores ganhos do grupo para Paula. Josina Stella, outra integrante das Gingas, disse que o maior reconhecimento foi poder contribuir para a divulgação de vários estilos tradicionais nacionais. Josina Stella lastimou alguma discriminação sofrida pelas Gingas nos últimos anos, por alguns círculos sociais. “Ajudar o grupo não é nenhum favor, devido ao contributo que demos na divulgação e preservação da música tradicional angolana, assim como para a valorização das línguas nacionais”, defendeu.
A caminhada
“As Gingas do Maculusso” começaram o seu percurso em Março de 1982, com o duo das primas Gersy Pegado e Ruzena. O grupo apresentou-se pela primeira vez em palco com 12 integrantes, num espectáculo infantil da Rádio Nacional de Angola, sob o comando da jornalista Amélia Mendes. Destacaram-se na altura as artistas Gersy Pegado, Ruzena, Anagui, Victória, Belinha, Mena, Anita e Cila.
Em 1985, a professora Rosa Roque passou a integrar os quadros da Secretaria de Estado da Cultura, onde foi nomeada dinamizadora de Arte. Nesta função criou os corais “Patinhos” e “Gigantes”, de onde partiram as célebres “Gingas”, com a Paula, Daniela, Josina, Celma, Aniceta e Patrícia Faria.
