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    RD Congo: Entre negociações de paz e o belicismo

    Uma conferência na semana passada em Nairobi, no Quénia, traçou um plano promissor para pôr fim ao conflito sangrento na DRCongo.

    O leste congolês tem sido palco de um conflito sangrento há décadas. Uma conferência na semana passada terminou em Nairobi, no Quénia, com representantes do Governo da República Democrática do Congo e das milícias. O resultado foi um plano promissor.

    Mas o M23, principal grupo rebelde, não se fez presente. E apesar de os rebeldes terem demonstrado a intenção de se retirarem da região e terem concordado com um cessar-fogo no final de novembro, novos combates foram registados. O M23 é acusado de graves violações dos direitos humanos. Segundo um relatório da missão de paz da ONU MONUSCO, os rebeldes mataram mais de 130 civis na província Kivu do Norte.

    Numa entrevista à DW, o ministro da Indústria e ex-governador do Kivu do Norte, Julien Paluku, falou mesmo em “genocídio planeado” no leste congolês.

    O diálogo de paz em Nairobi, a segunda tentativa no espaço de algumas semanas para tentar pôr fim ao conflito, terminou neste clima de violência contínua. E o resultado também desta vez permaneceu vago: o único acordo concreto foi a continuação do diálogo entre o governo congolês e as comunidades locais. O Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, mediador nas conversações em Nairobi, expressou otimismo.

    Cetismo
    Mas Alex Vines, diretor do programa África no instituto Chatham House, vê todo este processo com um certo ceticismo e recorda a ronda de conversações de paz organizada recentemente em Angola.

    “A paz no Congo fez parte de um processo que foi muito acidentado em 2022. O chamado ‘Processo de Paz de Luanda’ deveria reunir a República Democrática do Congo e o Ruanda sob a supervisão angolana. Isto envolveu uma comissão trilateral e um apelo a um cessar-fogo, que não funcionou”, considerou.

    O perito baseado em Londres também considera que o atual “processo de Nairobi” não é muito promissor.

    “Espero aqui muita agitação e desacordo. É do interesse da RDC, do Ruanda e da comunidade da África Oriental chegar a um acordo. A RDC faz agora parte da comunidade oriental, mas a política está muito envenenada, por isso não estou otimista que a situação de segurança no Congo melhore”.

    Crise diplomática
    O conflito no leste congolês também desencadeou uma crise diplomática entre Kinshasa e Kigali. Isto porque, segundo informações da ONU, o M23 é apoiado pelo Ruanda – uma acusação que o vizinho da RDC rejeita.

    Durante as décadas de conflito, o M23 é considerado o grupo mais poderoso. A milícia teve origem durante o genocídio do Ruanda, em 1994, quando o grupo rebelde liderado pelos Tutsi foi equipado pelas tropas do atual presidente ruandês Paul Kagame para perseguir as milícias Hutu que tinham fugido para o leste congolês após as suas atrocidades contra a população Tutsi no Ruanda.

    Kagame acusa agora o seu homólogo congolês Felix Tshisekedi de não ter qualquer interesse na paz na região. Tshisekedi utilizaria a crise no leste da RDC, afirma Kagame, para adiar as eleições previstas para 2023. Felix Tshisekedi tomou posse na RDC em 2019 do seu predecessor de longa data Joseph Kabila e deverá concorrer novamente às eleições de 20 de dezembro de 2023, quando será desafiado pelo político da oposição Martin Fayulu, que é considerado popular no país.

    A troca de acusações entre os dois Presidentes poderia conduzir a um confronto militar entre os dois países, receia Bob Kabamba, professor de ciências políticas na Universidade de Liège, na Bélgica.

    “O receio é que estes discursos aumentem e possam escalar e levar a um confronto militar direto. Então já não estaríamos a falar de grupos como o M23, estaríamos a falar de uma guerra interestatal”, concluiu.

    DW
    Por Martina Schwikowski

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