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    Presidenciais Francesas: Marie Le Pen distribui as cartas

    É obviamente importante saber se o próximo presidente francês se chamará Nicolas Sarkozy ou François Hollande. Mas o acontecimento de domingo – o de maior alcance – foi o resultado de Marine Le Pen. Para ela, as presidenciais não terminaram. Tem como objectivo a derrota de Nicolas Sarkozy.

    A razão é transparente: a eliminação de Sarkozy dar-lhe-ia uma oportunidade dourada que dificilmente se repetirá. As presidenciais são o trampolim para as legislativas de Junho. Le Pen aposta numa vaga decorrente da campanha das presidenciais e na ruptura do partido presidencial que domina a direita, a UMP.

    O objectivo estratégico é “fazer implodir” a direita tradicional. O segundo objectivo é dinamitar o “consenso europeu” da França. O que está em jogo é muito mais do que a xenofobia. É a Europa.

    1. Voltemos atrás. Os 18 por cento apenas surpreendem os amnésicos. Marine Le Pen assumiu a presidência da Frente Nacional em Janeiro de 2011. “Desdiabolizou” a imagem do partido. Em três meses, o índice de apoio às “ideias da FN” passou de 22 para 28%. Um ano depois, subia para 33%. Concordância com ideias não é equivalente ao voto mas constitui uma reserva eleitoral.

    Tão ou mais importante é a baixa da taxa da sua rejeição. A “desdiabolização” funcionou. O voto na FN tende a banalizar-se. Aos temas tradicionais – imigração, segurança, identidade nacional – acrescentou ou acentuou a hostilidade a Bruxelas e à globalização. Deu passos simbólicos como a condenação do anti-semitismo ou na invocação da “laicidade republicana” contra os muçulmanos. Escolher a FN já não é só um voto de protesto, começa a ser um voto de adesão.

    A campanha presidencial de Sarkozy em 2007 e a sua política de recuperar os temas da FN fez baixar a votação de Jean-Marie Le Pen. Se nas presidenciais de 2002 ascendera aos 16,8%, beneficiando de uma forte abstenção, recuou para 10% nas presidenciais de 2007 e para 4,3 nas legislativas de 2008. A seguir, o voto FN recomeçou a crescer sustentadamente, recuperando os “desiludidos do sarkozismo” e capitalizando o suplemento de respeitabilidade que Sarkozy lhe ofereceu.

    Dispõe de uma base eleitoral popular que está longe de esgotada. Grande parte das classes populares não se sente representada pelos partidos tradicionais e muitos exprimem o sentimento de abandono.

    A FN é o primeiro “partido operário” (seguida pelo PS e pela UMP) e confirmou-o nesta eleição. Implantou-se nos antigos baluartes comunistas e nas bacias industriais devastadas pelo fim da segunda industrialização. A frustração serve de caldo de cultura da xenofobia.

    Mantém a base tradicional entre pequenos comerciantes e artesãos, tal como em zonas rurais. Está agora à conquista das classes médias baixas. Começou a mobilizar os jovens, essencialmente dos “meios modestos”, de famílias operárias ou da “pequena classe média” dos serviços. Quanto menos diplomados mais votam na FN. São seduzidos pelo lado anti-sistema e pela denúncia das elites, escreve Le Monde.

    É revelador o contraste com Jean-Luc Mélenchon. A extrema-esquerda apenas atraiu o voto de dez por cento das classes populares, residindo a sua força nas classes médias e, sobretudo, entre os mais diplomados.

    2. O sistema eleitoral francês (maioritário a duas voltas) impõe a necessidade de alianças e de acordos de desistência mútua, à esquerda e à direita. François Mitterrand usou habilmente a ascensão da FN para enfraquecer a direita. A “diabolização” de Le Pen impedia acordos entre direita e extrema-direita. Os casos de triangulação – segunda volta entre candidatos da esquerda, direita e extrema-direita – traduzem-se quase sempre na derrota da direita.

    Só passam à segunda volta candidatos com mais de 12,5%. A votação de Marine Le Pen ultrapassou esta fasquia em 353 circunscrições e em 23 como primeira força. São eleições diferentes e a FN não é “dona” dos eleitores. Mas aposta na dinâmica criada pela campanha e na derrota de Sarkozy, que deixaria à deriva o partido governamental, partido e em crise de identidade.

    FONTE: Público

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