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    Pequenos ofícios estão em extinção

    A dificuldade de acesso ao crédito às pequenas e médias empresas tem afectado a produção e desenvolvimento de algumas profissões, muitas delas em vias de extinção, na cidade de Ndalatando, como as sapatarias e alfaiatarias, integrantes da cooperativa Maria Nguabi.
    “Vontade de fazermos mais não nos falta, mas não temos por onde começar, visto que o material que temos é insuficiente e adquirido com muito esforço”, lamentou o sapateiro Jerónimo Manuel Sebastião, responsável da cooperativa.
    Mais conhecido por “Man Gegé”, de 60 anos, Jerónimo Manuel Sebastião iniciou a sua profissão em 1965. Centenas de jovens já passaram por ele, como ajudantes e aprendizes, mas todos trocaram a profissão por outra ocupação mais rentável.
    “Man Gegé” revela que a sapataria que dirige emprega seis pessoas, entre mestres e ajudantes, que no dia-a-dia enfrentam muitas dificuldades.
    Para rentabilizar o negócio, tenciona obter crédito bancário. “Pretendemos pelo menos 10 mil dólares. Caso esse dinheiro seja disponibilizado, deixaríamos apenas de consertar sapatos e passaríamos igualmente a fabricar”, disse.
    A falta de valores, segundo disse, não possibilita a compra de sola seca e de borracha, capas de homem e mulher, cabedal com diferentes cores e qualidades, fivelas, botões rápidos, furadores para os cintos, protectores de sapatos e outros meios.

    Rendimentos baixos

    Jerónimo Manuel Sebastião diz que o material é na sua maioria adquirido em Luanda. A caixa de fivelas de calçado, composta por 200 unidades, custa três mil kwanzas, ao passo que dois metros de cabedal e material para o fabrico de solas custam 30 mil kwanzas.
    Apesar das dificuldades, que vão desde a falta de matéria-prima, condições de trabalho e dívidas dos clientes, os seis artesãos continuam a realizar o seu ofício, como coser, colar, colocar novas solas, ou mesmo furar um cinto, a fim de ganharem diariamente entre 1.000 e 2.000 kwanzas.
    Pela reparação de sola seca cobram 200 kwanzas. A sola de borracha custa 1.500 kwanzas, a costura varia entre 300 e 600 kwanzas, a colocação de fivela ou botão rápido custa 100 kwanzas.
    As únicas máquinas para coser sapatos são de pedal e neste momento encontram-se avariadas.
    José João Francisco, 44 anos, e Pedro Pereira Manuel, 35 anos, estão enquadrados na cooperativa Maria Nguabi. Os sapateiros dizem que o dinheiro que ganham não é suficiente para cobrir as despesas familiares.
    O material que possuem, composto por solas, cabedal, cola e linhas, foi adquirido recentemente, graças à ajuda financeira do Ministério da Assistência e Reinserção Social, no valor de 40 mil kwanzas.
    Além deles, Joaquim Sebastião, 68 anos, deficiente físico, conserta sapatos defronte ao portão da sua residência, na rua da Missão, por ser mais movimentada e angariar mais clientes. Pertence à cooperativa de moto-táxi da associação Maria Nguabi, mas como a motorizada encontra-se avariada preferiu voltar a trabalhar como sapateiro, profissão que conhece deste 1974, com o objectivo de ganhar algum dinheiro, entre 200 e 500 kwanzas diariamente.
    Os artesãos, na sua maioria deficientes físicos, dizem que este ofício está ameaçado de extinção, porque os jovens não querem abraçá-lo, achando que é para velhos e deficientes.
    “Eles querem apenas ter dinheiro o mais rápido possível, não gostam de aprender nenhum ofício e não suportam esperar o salário até ao fim do mês”, disse o sapateiro “Man Gegé”.
    A cooperativa Maria Nguabi também possui alfaiataria, relojoaria, técnico de rádio, artesanato e um salão de beleza, que enfrentam problemas financeiros.

    Costureiros perdem clientes

    De acordo com o alfaiate Celestino Cabango, 47 anos, as roupas confeccionadas localmente são pouco procuradas, pois as pessoas preferem o pronto-a-vestir importado, o que deixa preocupados os costureiros. Celestino Cabango confecciona roupas de estilo africano, como “boubous”, fatos para senhoras, camisas, batas escolares, saias e de vez em quando também é solicitado para fazer alguns apertos, diminuir tamanhos, colocar botões e fechos.
    “Trabalho quase todos os dias”, diz Celestino Cabango, acrescentando que a entrega de uma obra depende muito do estilo do traje que o cliente solicitar. “Se for um fato ‘boubou’, por exemplo, são necessárias duas semanas para a confecção”, adiantou.
    Os preços praticados pelos costureiros da cidade oscilam entre os 250 e os 5.000 kwanzas. “Do pouco que conseguimos, dá para sustentar a família, manter a máquina a funcionar e caso haja boa gestão somos capazes de mensalmente angariar 50 mil kwanzas”, revela.
    A jovem Teresa Dias é cliente assídua de uma das boutiques da cidade, que vende roupas provenientes do Brasil. Segundo ela, os preços praticados nesses locais são altos, o que força as pessoas com poucas posses a recorrer aos préstimos das costureiras.
    Outros jovens e adultos afirmaram que já não existe o hábito de comprar tecido e mandar confeccionar qualquer tipo de roupa, a julgar pelo número de boutiques a venderem roupas da moda, provenientes da Europa e até do Congo Brazaville.

    Roupa e calçado usado

    O aumento do comércio de roupa e calçado usado no mercado informal do município de Cazengo, Kwanza-Norte, está a criar embaraços aos alfaiates e sapateiros locais, uma vez que a população opta por produtos acabados.
    Os baixos preços dos artigos usados fazem com que a população dispense os serviços dos alfaiates e sapateiros, pondo em risco as suas profissões, pois a concorrência retira-lhes a capacidade de subsistência.
    Preocupados com a situação, solicitam a concessão de micro-crédito, para manter a sua actividade e garantir o sustento das famílias, porque os trabalhos de alfaiataria, por exemplo, resumem-se a pequenos arranjos de costura.
    A fim de colmatar a situação, recomendam a reactivação das fábricas de tecidos na província do Kwanza-Norte, porque permitiria a execução de obras com qualidade e a baixo custo.

    Fonte: Jornal de Angola

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