Pelo menos nove pessoas morreram hoje em confrontos entre manifestantes e forças de segurança na capital sudanesa, numa alegada tentativa de dispersar o movimento de contestação, operação negada pelos militares.
Segundo o Comité Central dos Médicos Sudaneses, uma organização próxima do movimento de contestação, foram hoje mortas nove pessoas “na dispersão” do acampamento pacífica em frente ao Quartel-General (QG) das Forças Armadas (FA) em Cartum.
“O balanço dos mártires do massacre de hoje passou a nove, depois da morte de mais quatro pessoas”, declarou o Comité, que horas antes tinha dado conta da cinco mortos na sequência da operação militar.
O Conselho Militar desmentiu entretanto ter dispersado “através da força” a manifestação pacífica que há mais de sete semanas se concentrou em frente ao QG.
“Não dispersámos o ‘sit-in’ pela força”, afirmou um porta-voz do Conselho, o general Shamseddin Kabbashi, à estação de televisão Sky News Arabia, baseada nos Emirados Árabes Unidos. “As tendas estão lá e os jovens podem circular livremente”, acrescentou.
Em resposta à operação militar, os manifestantes, que há quase dois meses reclamam a passagem do poder para os civis, incendiaram pneus e ergueram pequenas barricadas com tijolos nas ruas que acedem ao local do “sit-in” e noutros eixos da capital.
De acordo com o comité central dos médicos sudaneses, uma organização próxima do movimento de contestação, a fonte que está a dar conta do número de mortos até agora, as forças de segurança chegaram a disparar dentro do hospital Charq al Nil, em Cartum, e impediram o acesso a um segundo estabelecimento hospitalar na capital sudanesa, Royal Care.
Segundo a Lusa, as relações entre os dois campos foram ficando cada vez mais tensas após o fracasso das negociações no passado dia 20 de maio, que foi seguido de várias ameaças por parte do Conselho Militar, que dirige o país desde o passado 11 de abril, data da destituição sob a pressão popular do Presidente Omar al-Bashir.
A escalada das tensões culminou hoje na tentativa de dispersão pela força da manifestação pacífica na praça em frente ao QG das FA e na reação do movimento contestatário com o apelo à “desobediência civil” em todo o país e ao “derrube” dos generais no poder.
Disparos provenientes do local do “sit-in” foram ouvidos durante toda a manhã por um jornalista da agência France-Presse, que testemunhou uma deslocação importante das forças de segurança nas ruas da capital.
“Está em curso uma tentativa do Conselho Militar de dispersar o ‘sit-in'”, indicou através de um comunicado e na sequência dos disparos sentidos a Associação dos Profissionais Sudaneses, líder do movimento de contestação.