Numa cerimónia comemorativa do 38º aniversário do PSD, realizada neste sábado na Figueira da Foz, o primeiro-ministro afirmou “não querer dourar a pílula” das dificuldades. Num encontro com militantes social-democratas, Pedro Passos Coelho defendeu a acção governativa e sublinhou que o Executivo “não se anda a chorar”.
“Vivemos muitos momentos de muitas angústias e dificuldades”, admitiu Passos Coelho referindo-se aos que “no futuro mais imediato não vêem oportunidade de emprego”. Depois deste reconhecimento de épocas difíceis, o líder do PSD garantiu: “É preciso dizer que não nos deixamos vencer pelas dificuldades”.
A alternância nos momentos discursivos, do reconhecimento dos problemas à certeza da sua superação, marcou o improviso na sessão da Figueira da Foz. “Precisamos lutar contra as injustiças na repartição dos rendimentos”, disse, sem esconder que Portugal é um dos países da União Europeia onde essa injustiça é mais pesada. “Sabemos que não o podemos fazer de um momento para o outro”, admitiu, em contraponto. Para depois enunciar: “Temos que fixar objectivos intermédios”.
Anunciada a metodologia, o primeiro-ministro fez o elenco das tarefas. Nada de novo. “O nosso objectivo mais imediato é colocar as nossas finanças em ordem porque sem isso não é possível crescer e criar emprego”, afirmou. Neste ponto, respondeu às críticas que acusam o Governo de, com os pacotes de austeridade, esquecer as medidas de crescimento económico. “Quem hoje aparece a dizer que é preciso acentuar mais o investimento que a austeridade não ignora que a disciplina das contas públicas é indispensável”, sublinhou.
A 24 horas das eleições presidenciais francesas e das legislativas gregas, Passos não evitou a polémica austeridade versus investimento que tem marcado a disputa política europeia. Deu-lhe, mesmo, importância maiúscula. Não se ficou pelos argumentos próprios. Invocou as explicações do presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mário Draghi, sobre a necessidade da Europa fazer reformas estruturais. “Ou seja, a estratégia que está a seguir Portugal”, disse o líder social-democrata. E prosseguiu na mesma senda: “Também disse (Draghi) que o mercado de trabalho e o mercado interno se devem aperfeiçoar, tal como nós dizemos”.
Se o primeiro objectivo é a luta contra as injustiças, a segunda meta é preparar o país para crescer e criar emprego. “Esta estratégia não é apenas nossa mas de toda a Europa, os europeus chegaram à conclusão de que as suas finanças não estavam em ordem, que era preciso fazer reformas importantes”, disse. Porque, como enfatizou, “onde hoje falta dinheiro já no passado não tínhamos e não se vive indefinidamente com o que não se tem”.
Novamente, Passos Coelho recorreu à situação internacional. Nomeadamente à da Europa. “Sabemos que muitos países na Europa estão a perder a competitividade”, alertou. Para, depois, garantir que “Portugal coloca-se no pelotão dos que começam a exportar cada vez mais para fora da Europa e estão a ganhar competitividade”.
De novo, recorreu ao exemplo externo. Assinalou o sucesso dos países emergentes. Destacou a China, a Índia e o Brasil, para fazer um novo contraponto. “Quando olhamos para a Europa vemos que a crise vem criando uma angústia muito grande e que muitos estão iludidos de que a Europa permanecerá rica, com sistemas sociais financiados para sempre”, alertou. E para que não restassem dúvidas de que o declínio não é impossível, lembrou alguns casos: “Países que eram muito ricos hoje debatem-se com grandes dificuldades, como a Argentina”.
Para, depois, regressar à política doméstica. “Estamos interessados em não esconder as dificuldades, não queremos dourar a pílula”, garantiu. “Governar é fazer escolhas, se remendar o que está ou refazer as perspectivas para o futuro”, enunciou. Uma opção que, assegurou, conta com tranquilidade externa e interna. Externa, o apoio da troika. Interna, o acordo social de Janeiro passado.
“Para viver melhor é preciso mudar muito”, salientou. Uma máxima que referiu como prova de realismo. Um conceito que foi, aliás, uma constante da sua intervenção. E, também, de acordo com a imagem que desenhou do seu partido, o PSD: humanista e realista. “Queremos viver com realismo, verdade, o que não nos impede de sonhar”, garantiu. “Quem está no Governo não se anda a chorar, deve mobilizar”, anunciou.
Fonte: OPUBLICO