
No antigo terminal de Friedrichstrasse, conhecido como o “Palácio das Lágrimas”, há uma exposição que pretende recriar as dolorosas despedidas vivida na estação de comboio com a construção do Muro de Berlim, há 50 anos.
“Isto é a história alemã no seu estado puro para qualquer visitante de Berlim”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, ao inaugurar a exposição. Ao mesmo tempo, Merkel destaca o ambiente de intimidação que reinava no antigo terminal, lembrando que ela já experimentou nesse local a dor de se despedir de um ente querido sem a certeza de que voltaria a vê-lo.
Organizada pela fundação Casa da História da Alemanha, a exposição reúne objectos originais, como uma cabine de controle, documentos, fotos, gravações de áudio e imagens, e muito exemplos biográficos e testemunhos da época.
Entre 1962 e 1990, o terminal era o principal lugar em que os alemães do Leste e do Oeste tinham que se despedir dos seus familiares e amigos. “Apresentar a história em lugares reais é um dos objectivos da fundação. O ‘Palácio das Lágrimas’ traz-nos uma lembrança histórica como nenhum outro lugar da Alemanha”, afirma Han Walter Hütter, presidente da fundação. O director da exposição, Jürgen Reiche, acrescenta que “muitas histórias, tanto dramáticas como quotidianas, entre elas também muitas fugas fracassadas, estão ligadas a este lugar único situado entre o Leste e o Oeste”.
Com uma superfície de 550 metros quadrados e um total de 570 objectos expostos, a Casa da História ilustra o sofrimento dos que saíam e dos que eram obrigados a permanecer em Berlim Oriental. “Era um lugar triste, onde muitas pessoas traziam a expressão do medo escrita no rosto”, diz a chanceler alemã em mensagem por vídeo.
A chefe do Governo federal espera que a exposição atraia “não só visitantes que ainda se lembram do ‘Palácio das Lágrimas’ e das suas vindas ao Ocidente”, mas também jovens que não viveram a experiência do muro e da fronteira entre as duas Alemanhas.
Muitas pessoas, sobretudo cidadãos orientais e idosos, pessoas a quem o regime socialista permitia uma estadia limitada na Alemanha Ocidental, não puderam suportar a carga psíquica e física à qual se viram submetidos por causa do extremo controle. Assim, entre 1962 e 1990, mais de 200 pessoas morreram ao passar pela estação de Friedrichstrasse.
Ao mesmo tempo, a exposição, intitulada “Experiências Fronteiriças: o Dia a Dia da Divisão Alemã”, reflecte a intensidade e a diversidade das relações entre os cidadãos das duas Alemanhas durante os quase 30 anos em que o “muro da vergonha” esteve de pé.
O processo de reunificação também aparece como um dos focos da exposição, que pretende realçar a dimensão internacional desse acontecimento. Após a queda do bloco socialista, o terminal da estação de Friedrichstrasse, um moderno pavilhão de vidro e aço, deixou de ser o “Palácio das Lágrimas”. Sob ameaça de demolição, o simbólico lugar foi declarado um Património Nacional em 2003, sendo submetido a restauro para acolher esta exposição permanente, aberta ao público de forma gratuita.
Elena Garuz |*
* Agência EFE
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: DR