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    Os Estados Unidos tornaram-se o maior exportador de GNL e o maior produtor de petróleo do mundo. O que isso significa?

    Os Estados Unidos tornaram-se o maior exportador mundial de gás natural liquefeito (GNL) pela primeira vez, com os envios em 2023 ultrapassando os principais fornecedores, Austrália e Qatar.

    Os Estados Unidos exportaram 91,2 milhões de toneladas métricas de GNL em 2023, um recorde para o país, de acordo com dados até 31 de dezembro compilados pela Bloomberg. A expansão da produção deveu-se ao reinício, no ano passado, do Freeport LNG no Texas, que ficou fechado durante meses após um incêndio e explosão em junho de 2022. O Qatar, o principal fornecedor de GNL em 2022, viu os seus volumes encolherem pela primeira vez desde 2016, com um declínio de 1,9%, colocando o país em terceiro lugar nas remessas de GNL. A Austrália ficou em segundo lugar, com exportações que pouco mudaram desde 2022.

    Este ano, espera-se que dois novos projetos de GNL dos EUA iniciem a produção: a instalação Plaquemines da Venture Global LNG em Louisiana e Golden Pass no Texas, uma joint venture entre a Exxon Mobil Corp. Em plena capacidade, os dois projetos acrescentariam mais 38 milhões de toneladas por ano, ou seja, um aumento de 41,7% das exportações atuais dos Estados Unidos.

    Por outro lado, os EUA são atualmente o maior produtor e o maior consumidor de petróleo bruto do mundo.

    Os seis maiores produtores de petróleo bruto e as suas participações percentuais na produção mundial de petróleo bruto em 2022 representam, em conjunto, 56,7% da produção mundial de petróleo.

    • Estados Unidos 14,7%
    • Arábia Saudita 13,2%
    • Rússia12,7%
    • Canadá5,6%
    • Iraque5,5%
    • China 5%

    Em termos de procura de petróleo, os Estados Unidos são de longe o maior consumidor, seguidos pela China. Juntos, os Estados Unidos (20%) e a China (16%) representam 36% do consumo global. Os restantes consumidores representam, individualmente, menos de 5% da procura global.

    O que isso significa?

    Estes dados revelam a crescente importância dos Estados Unidos para a estabilidade dos mercados mundiais de petróleo e gás, bem como o papel crucial que desempenham nas negociações climáticas sobre a transição energética.

    Em relação ao mercado mundial de petróleo, é claro que a OPEP perdeu a hegemonia que tinha para condicionar os preços através da regulação da oferta. Apesar dos cortes de produção que a OPEP anunciou em diversas ocasiões em 2023, e apesar do conflito entre Israel e o Hamas, o preço do petróleo continua sob pressão do excesso de oferta, especialmente por parte dos Estados Unidos.

    Esta manhã o preço de referência internacional do Brent foi de 75,55 dólares por barril.

    No que diz respeito à ação climática, embora os Estados Unidos estejam entre os países mais ativos a favor da transição energética, como ficou evidente na COP28 no Dubai, o lobby petrolífero é extremamente poderoso nos Estados Unidos, particularmente dentro do Partido Republicano.

    Uma mudança de inquilino na Casa Branca em novembro de 2024 a favor do candidato do Partido Republicano poderá alterar a posição dos Estados Unidos sobre a necessidade de acelerar a transição energética, triplicando as energias renováveis conforme decidido na COP28.

    A política económica protecionista do presidente Joe Biden, nomeadamente a Lei de Redução da Inflação e a Lei dos Chips electrónicos, também tem efeitos colaterais negativos em relação à transição energética ao visar a China, líder em energias renováveis e maior produtor mundial de baterias para veículos elétricos.

    A Lei de Redução da Inflação de 2022 reformou o crédito fiscal de veículos elétricos, exigindo que os veículos fossem montados na América do Norte para se qualificarem para quaisquer créditos fiscais, eliminando quase 70% dos modelos elegíveis.

    Novas regras entraram em vigor este ano que excluem do crédito fiscal os veículos que utilizam componentes de baterias fabricados em países com os quais os Estados Unidos não têm acordos de livre comércio, nomeadamente a China. O número de modelos de VE qualificados para créditos fiscais nos EUA caiu de 43 para 19.

    Com estas medidas, os Estados Unidos correm o risco de abrandar a expansão dos veículos elétricos e a sua transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.

    Em geral, é bem possível que a fragmentação da globalização causada pelas tensões geopolíticas e geoeconómicas se acelere em 2024, o que terá consequências duradouras para a recomposição das cadeias globais de produção e abastecimento e para as negociações climáticas.

    Se for verdade que a transição climática é um processo irreversível para o bem da humanidade, os Estados Unidos e a China têm a capacidade de definir a cadência.

    A lista de eventos em 2024 e a incerteza que os rodeia é demasiado longa para fazer previsões. Mas uma coisa é certa, o caminho será turbulento.

    Por: José Correia Nunes
    Diretor Executivo Portal de Angola

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