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    Oficinas auto são alternativas às representantes

    Em plena rua debaixo de sol ardente mecânicos e electricistas auto tentam superar as pequenas avarias que a viatura apresenta

    As oficinas “improvisadas” instaladas em quintais ou até mesmo a céu aberto, embora pouco equipadas e com as dificuldades daí decorrentes, dominam um nicho de mercado: o daqueles que conseguiram comprar um carro, mas depois não têm capacidade de custear a manutenção nas representantes.
    “Comprei o meu carro há dois anos. No primeiro ano fui fazendo a manutenção na representante. No segundo, optei por fazê-la em oficinas, que embora quintais têm boas referências. Mas há vezes em que compro os acessórios nas representantes”, disse um automobilista à nossa reportagem.
    O dia-a-dia dos profissionais, queembora sem espaço adequado nem meios para um trabalho eficiente e com qualidade, vão mesmo assim trabalhando com afinco, numa profissão que os ensinou a rasgar caminhos de toda uma vida de pequenas glórias, mas também de infortúnio.
    “A profissão de mecânico é como qualquer outra. Há altos e baixos. Mas o importante é permanecer responsável no relacionamento com os nossos clientes e fazer um trabalho com qualidade, pois isso é que vai ditar o seu regresso”, disse Alberto Júnior, de 53 anos. São mais de duas décadas na profissão. Ao fim de todo este tempo, conhece em profundidade a “geografia” da mecânica dos motores. Pouco ou nada tem de complexo, numa profissão que viu “roubar-lhe a juventude”.
    A sua jornada de trabalho decorre entre as 9h00 e as 18h00, às vezes feliz, outras nem por isso. “É reconfortante quando conseguimos resolver os problemas mecânicos dos carros dos nossos clientes, sejam de pequena ou grande complexidade”, comentou, acrescentando que “recebemos as viaturas, fazemos o diagnóstico e em seguida o orçamento”.
    Na oficina Auto Beto, na rua do Alentejo no Rangel, fazem-se chaparias e pinturas.
    Por um serviço, o cliente deve pagar 50 por cento como sinal e só com a conclusão do trabalho paga a restante metade. Mecânicos, electricistas auto, bate-chapas e pintores auto concentram-se todos no local. “Esforçamo-nos muito para que a qualidade do nosso trabalho seja boa, porque isso determina o nível de procura. Temos de ser responsáveis e não faltar aos compromissos assumidos com os clientes. Nesta profissão é preciso humildade”, reconheceu um dos mecânicos da oficina.

    Mensalmente, recebem em média dez viaturas. Os carros de marca Toyota preenchem, com uma teimosa frequência, o recinto de 10/15 metros. Seguem-se os carros de marca Nissan e outros, já que a pequena oficina da rua do Alentejo não tem fronteira quando o assunto é reparar avarias.
    “Hoje, ao contrário dos anos anteriores, procuramos reparar avarias de todo tipo e em quase todas as marcas, porque com a abertura do mercado, há muitas casas dedicadas à venda de acessórios, o que torna o nosso trabalho mais confortável”, referiu Alberto Júnior. “A compra de acessórios está facilitada e o nosso trabalho também, em comparação com os anos anteriores, em que se abria o motor do carro e se deixava com a avaria por não haver peça. O exercício da nossa profissão está muito mais aprazível”.
    Com 15 profissionais, entre mecânicos, electricistas e bate-chapas, a oficina faz trabalhos de monta, principalmente em carros acidentados. “O nosso forte é colocar o carro na situação inicial ou seja, revesti-lo como se não estivesse acidentado”, explicou.
    Em muitos casos, precisou, o tempo de permanência do carro na oficina depende da disponibilidade financeira do cliente. Se o cliente paga rápido, o carro sai nos prazos acordados. No caso dos carros acidentados em que seja necessário substituir algumas partes, o prazo é de um mês.
    As oficinas, tanto a céu aberto como as mais organizadas não vão desaparecer tão cedo mesmo havendo os concessionários, visto terem uma maneira peculiar de se posicionar no mercado. O baixo custo e a facilidade com que se relacionam com os clientes são determinantes. “Nem todos têm possibilidade de ir às representantes, onde os preços são altos e a burocracia é o seu traço característico”, frisou.

    Financiamento

    Virgílio da Silva tem 50 anos, 30 dos quais dedicados à mecânica. A principal preocupação do mestre Virgílio é trabalhar em condições favoráveis, o que implica ter espaços equipados para dar uma resposta eficaz às avarias dos automóveis dos clientes.
    “Era nosso desejo trabalhar em boas condições mas isso depende muito da capacidade financeira e muitos não a têm. Há quem já tenha tentado pedir crédito, ou pelo menos microcrédito, para a construção  das suas oficinas e nem por isso conseguiram”, referiu.
    Na pequena oficina, na Travessa do Algarve, também no Rangel, estão estacionados alguns carros para serem reparados. Para essa empreitada, o mestre Virgílio conta com cinco jovens que, paulatinamente, vão descobrindo a complexidade e os meandros da vida de um motor. São empenhados e nem por isso olham muito para o dinheiro. Por enquanto, a prioridade é aprender o ofício, numa oficina que recebe mensalmente 20 carros com pequenas avarias.
    Para lá disso, o trabalho em oficinas a céu aberto nem sempre se efectiva, uma vez que as condições meteorológicas por vezes não são favoráveis. “Trabalhar assim, não é fácil. Mas tem sempre de se fazer alguma coisa. Quando chove ou chuvisca tem de se parar com os trabalhos e quando começa a escurecer tem de se fazer o mesmo. Não se pode abrir um motor enquanto chove ou enquanto escurece”, reconhece o mestre.
    As condições em que muitos “artistas” trabalham são inapropriadas. Ocupam pequenos espaços e lá vão desempenhando a profissão com sacrifício. “Não é fácil trabalhar nestas condições. Mas sem apoios e financiamentos, não há como fazer melhor. Há que escolher entre morrer à fome ou instalar a oficina a céu aberto. Para já, não é confortável. Se perguntar a todos aqueles que estão nessas condições, dir-lhe-ão o mesmo”, salientou Yuri Pedro, proprietário de uma espécie de oficina, instalada bem na berma da estrada que dá para o bairro Avó Kumbi.
    Os custos para licenciamento das oficinas não estão ao alcance de todos. A burocracia e os emolumentos altos são, em muitos casos, desencorajadores da sua legalização, o que faz com que aumente o número de oficinas ao ar livre.

    Recauchutagem

    Parte considerável das recauchutadoras está instalada nas ruas, ou senão, nas principais estradas. Só ao longo da nova Marginal, na Praia do Bispo, por exemplo, existem cerca de seis, um número elevado se tivermos em conta o espaço que separa uma das outras. Muitas outras estão espalhadas na periferia. De resto, é um negócio que se estende e cresce, com realce para a zona  suburbana.
    A justificar o crescimento do negócio está a grande procura por estes serviços. “Embora os preços dos pneus sejam razoáveis no mercado e até existam muitas casas a comercializá-los, muitos automobilistas recauchutam porque preferem manter nos carros os pneus de origem”, disse, Gonçalves Marcolino, recauchuteiro.
    “Enquanto existirem buracos nas estradas e com eles pregos e cacos, o nosso negócio não vai parar de crescer”, acrescentou.
    A provar esta procura, está o facto de em média, estas microempresas receberem em média 15 a 20 pneus por dia, grande parte dos quais para remendar, colocar o chamado “chourição” ou mesmo calibrar. O preço da recauchutagem para pneus de jipes e ligeiros vai dos 500 kwanzas a mil, enquanto o preço para camiões vai dos 1.500 a três mil kwanzas.

     

    João Dias

    Fonte: Jornal de Angola

    Fotografia: Santos Pedro

     

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