A socióloga Fátima Viegas pediu aos pais angolanos para assumirem de forma consciente e voluntária a sua responsabilidade moral e social como tutores dos filhos, independentemente das adversidades que possam surgir.
Para Fátima Viegas, ser pai não significa somente pôr um filho no mundo ou criar, mas é sobretudo educar e transmitir segurança e personalidade. A socióloga diz que o 19 de Março simboliza o Dia de São José, a figura que constituiu a primeira família, sendo Maria a companheira e Jesus Cristo o filho. Esta primeira família, disse, é um paradigma da vida para todas as famílias, particularmente a cristã.
Fátima Viegas, cristã confessa, aponta São José como um pai por excelência, cuja figura deve ser elevada como o pai que cumpriu cabalmente as suas funções de educador, protector e transmissor de todos os valores aceitáveis ao seu filho.
O pai, afirma Fátima Viegas, é ao mesmo tempo companheiro, porque não foi só ele que concebeu o filho, mas sim com alguém, a sua esposa e companheira. “Apelo a todos os pais para que sejam amigos e compreensivos, amáveis, sensíveis para com os filhos, e estejam munidos das qualidades necessárias para a constituição de uma família, o centro básico ou o motor da sociedade.
Fátima Viegas considera sagrado o Dia do Pai, pelo facto de ser dedicado a uma figura que é o suporte da família, o núcleo da sociedade. Dada a elevada responsabilidade que o pai assume em qualquer sociedade, afirma a socióloga, deve possuir uma responsabilidade individual irrepreensível e transmiti-la aos restantes membros da família.
Responsabilidades sociais
O sociólogo Lukombo Nza Tuzola considera que, apesar da data ter pouca repercussão na sociedade angolana, o Dia do Pai reveste-se de grande importância, se tivermos em conta a responsabilidade do pai.
De acordo Lukombo Nza Tuzola, a responsabilidade do pai evolui dentro dos vários contextos sociais e culturais no tempo e no espaço. No meio tradicional, refere, o pai sempre assumiu o papel de autoridade com uma determinada consideração como pilar do sustento da família.
Para o também docente universitário, no meio rural ou tradicional há um contacto permanente do pai com a natureza, é ele que deve ir à caça, pesca e outras actividades caracterizadas na divisão de tarefas.
Refere que no meio urbano, em que as relações sociais são caracterizadas pelo emprego, um trabalho remuneratório, formal ou informal, as relações entre o homem e a mulher são adaptadas num contexto específico.
De acordo Lukombo Nza Tuzola as maiores reivindicações em termos de igualdade perante a lei, entre o homem e a mulher, e as consequências das situações da nossa história do passado recente caracterizado pela guerra, criou uma certa fragilização desta influência no meio urbano, em que os homens foram as primeiras vítimas da guerra, deixando muitas mulheres viúvas ou separadas. Por força da circunstância, afirma o sociólogo, a mulher assume muitas vezes o papel de pai e muitos homens não têm a capacidade de corresponder a este papel, tal como acontece no meio rural, fruto dos constrangimentos e condicionalismos próprios do meio urbano.
Lukombo Nza Tuzola caracterizou de débil a responsabilidade do homem na qualidade de pai no meio urbano, tudo porque a mulher é também um agente activo como força de trabalho. Isto deve-se, nas palavras do sociólogo, ao facto das normas, leis e os condicionalismos abrirem à mulher esta perspectiva através da sua formação, inserção no meio laboral, envolvimento no meio social como um elemento determinante na sociedade em que vive, nas actividades profissionais e noutros tipos de tarefas em que a sua participação é necessária.
O docente universitário reconhece que no meio rural a mulher tem também uma actividade importante, mas, refere, as tarefas são nitidamente repartidas.
Diz que em algumas actividades ligadas à alimentação da família, como a caça, pesca e a agricultura a mulher está também envolvida, mas porque estes trabalhos exigem uma certa força física, o homem tem maior envolvimento.
Relação mais íntima
Lukombo Nza Tuzola afirma que numa sociedade rural a relação tradicional ou a influência dos usos e costumes cria e relações entre pai e filhos mais íntimas. Além dos progenitores, diz, a responsabilidade do pai é partilhada também com os tios, tias, avós e outros membros da família, num convívio muito mais estreito e que se observa quase diariamente.
A tarefa da educação é garantida pelo progenitor, mas também pelos tios, avós e outros membros direnlia, que de uma maneira extensa também sentem a responsabilidade do elemento mais novo.
O sociólogo diz que na cidade há uma certa anomalia ou fragilização destas relações porque o convívio não se observa só com as mesmas pessoas, há uma heterogeneidade nos bairros, em que as pessoas vivem com outras de várias origens. Acrescenta que não existe uma aproximação tão forte entre os membros da família como a que se observa no meio rural em que as pessoas estão quase permanentemente juntas.
“As nossas responsabilidades laborais no meio urbano não nos permitem estar todos os dias juntos tal como acontece no meio rural, o que faz com que haja uma certa anomalia e cada um tenta construir a sua forma de sobrevivência, sem muito relacionamento com os membros da família directa ou com os parentes”, disse.
Fuga à paternidade
Sobre a fuga à paternidade no meio urbano, Lukombo Nza Tuzola afirmou que tudo tem a ver com a educação e comportamento de cada pessoa.
O sociólogo aponta os complicados requisitos para o acesso a um posto de trabalho, as exigências em termos de rendimento ou de obtenção de meios para dar resposta às necessidades por si só muito raras, entre outras dificuldades, as razões que levam muitos pais a relegar a sua responsabilidade para a mãe.
Lukombo Nza Tuzola pede aos pais para terem consciência da sua responsabilidade e reconhecer sempre que a união entre homem e mulher deve ser tida como parte integrante da vida que queremos construir. A vinda de um filho, acrescenta, é outra vida humana que é também da nossa inteira responsabilidade. Aos filhos, o sociólogo apela à obediência e respeito aos pais.
Chefe da comunidade
O coordenador do Conselho Angolano de Coordenação de Associações das Autoridades Tradicionais (CACAAT), Tiago Catumo, diz que o papel do pai foi sempre, desde os tempos remotos, de realce, sobretudo nas comunidades rurais ou tradicionais. Diz que o pai é o chefe da família e da comunidade e, como tal a sua conduta no meio em que está inserido é de maior responsabilidade.
O comportamento de um pai, afirma, foi sempre uma questão de responsabilidade, pois, acrescenta, os filhos revêem-se quase sempre na personalidade e comportamento do pai, o chefe da comunidade.
Na sociedade tradicional o pai tem a responsabilidade acrescida, diz Tiago Catumo que apela aos pais a colocarem os interesses do bem-estar, educação e das necessidades básicas dos filhos acima de tudo.
Origem do Dia do Pai
Evoca-se como origem do Dia do Pai a Babilónia, onde há mais de quatro mil anos, um jovem chamado Elmesu moldou em argila o primeiro cartão, desejando sorte, saúde e longa vida ao seu pai.
Entretanto, a institucionalização dessa data aconteceu em 1909, nos Estados Unidos da América. Sonora Luise resolveu criar um dia dedicado aos pais, motivada pela admiração que sentia pelo seu pai, William Jackson Smart.
O interesse pela data difundiu-se da cidade de Spokane para todo o Estado de Washington e daí tornou-se uma festa nacional. Em 1972, o presidente americano Rixard Nixon oficializou o “Dia do Pai”.
Fonte: Jornal de Angola