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    O Olhar do Artista no pulsar de sentir as Ruas e o Mundo

    As cidades em qualquer lugar do mundo têm diversos tipos de ruas, avenidas, becos, auto-estradas e cada um delas comporta uma História abrangente sobretudo se tivermos em linha de conta que as ruas incluem na sua construção ou alteração, a inclusão de nomes e pessoas ligadas à Arquitectura, às Artes, à Cultura, à Escultura à Literatura, à Medicina, à Música, à Poesia e a uma infinita e diversificada escolha e que por norma obedece aos critérios da Comissão de Toponímia de cada autarquia ou a outras autoridades ligadas ao urbanismo e à História de cada cidade.

    Depois de “ Artes Mirablis”, exposição colectiva em que participou, o pintor Cristiano Mangovo participou numa Feira de Arte em Joanesburgo, mas antes esteve em Angola, sua terra natal, onde foi granjeado o primeiro lugar no prêmio Ensa Arte 2018, na categoria de pintura, e as suas telas estiveram integradas numa exposição coletiva realizada em Luanda e intitulada “ Ser Cidade “.

    (DR)
    Agora o pintor Cristiano Mangovo cujo percurso artístico e estético é de uma riqueza inquestionável, decidiu regressar a outros desafios e optou na humanização da sua Pintura trazer-nos um novo tema desta vez relacionado com as Cidades, ao escolher para esta Exposição Individual o tema e o título que abre a inauguração “ As Ruas de Lisboa “. Foi em 2014 que o pintor angolano Cristiano Mangovo aterrou pela primeira vez em Lisboa para depois partir para a Bienal de Cerveira e depois da curta estadia no norte de Portugal regressar à cidade de Lisboa. Numa conversa informal tida sobre Lisboa, as suas históricas, ruas, lugares e bairros tradicionais, o Pintor referiu-me e cito que “ nesta cidade há um universo imenso a percorrer e a encontrar. Lisboa está repleta de muitas histórias, quer observando a arquitectura das casas, quer as ruas estreitas de bairros como o Bairro Alto, Alfama, Madragoa e outros que ainda não fixei. Mas fascina-me esta diversidade de ruas e sobretudo os carros elétricos que dão a esta cidade uma marca histórica e rodoviária muito forte”, diz o Pintor Cristiano Mangovo.

    As afirmações de Cristiano Mangovo são também um dos suportes que dão corpo e alma “ As Ruas de Lisboa “, espaço urbano onde se inspira e nunca retirando de cada tela, a presença humana. O Artista poderia centrar-se apenas nas ruas e evidenciar as placas toponímicas de cada rua de Lisboa. Mas ele vai mais longe e na sua narrativa interpretativa ele associa Lisboa às pessoas e estas às ruas. É uma grande verdade. Não há cidades sem pessoas. Mas as cidades são também, entre outros aspetos da vida urbana, as ruas que as desenham e são caminhos não apenas de circulação, mas de fusão com as próprias ruas e as pessoas. Imaginamos uma Cidade sem Pessoas? Ou há Ruas sem história? As ruas e as cidades estão intimamente ligadas por um infinito número de cumplicidades arquitetónicas, culturais, históricas e de natureza diversa e que deixam uma marca indelével no espaço urbano. Porque as Cidades são labirintos que nos conduzem à História, mas inquestionavelmente às pessoas.

    Pessoalmente e ao ter aceite o desafio de escrever para o catálogo que a Galeria Ainori produziu, senti também a necessidade de narrar algumas inquietações sobre esta histórica cidade de Lisboa e sobre ela debruçar-me com muitas perguntas obtendo respostas, mas noutros momentos persistem as dúvidas pela permanência de silêncios. Mas “As Ruas de Lisboa constituem um ponto de partida e uma viagem para percorrer a visão humanista de Cristiano Mangovo, associado à sensibilidade que sente e teve ao inspirar-se em figuras históricas de Portugal para conceber as suas obras. Esta opção obrigou-o a percorrer vários lugares de Lisboa e visualizar estátuas e monumentos históricos e movimentos humanos por volta, para concluir o seu caminho nesta versão que agora nos apresenta de modo distinto, mas muito interpretativo e narrativo, tendo como base de trabalho, a escolha dos históricos e ilustres Escritores portugueses como Luís de Camões e Fernando Pessoa, mas também o conhecido Marquês de Pombal, cuja estátua na Rotunda do Marquês de Pombal marca a fronteira entre a Avenida da Liberdade e a Rua Fontes Pereira de Melo e outras variantes alternativas face às opções de circulação que as pessoas tenham em mente. Este um dos aspetos que entre outros que descreverei, mas mostra a importância das “ Ruas de Lisboa “ como um simbólico eixo de circulação, mas fundamental para as pessoas que percorrem em trabalho ou em lazer, os passeios que circundam as ruas. As ruas são espaços de observação de diversidade múltipla que traça a vivência e o quotidiano da cidade de Lisboa como acontece em cidades como Barcelona, Berlim, Copenhague, Luanda, Nova-Iorque, Marselha, Moscovo, Praga, Paris, Roma, Tóquio, Varsóvia, Veneza e tantas outras E esta recente Exposição mostra esse caminho percorrido num misto de auscultação, de reflexão e de registo de Memória, que marca um tempo e o tempo e a Memória do Cristiano Mangovo. Na nossa Memória individual ao percorrermos “As Ruas de Lisboa“, observamos livrarias, esplanadas em diversos bairros de Lisboa, esculturas, estátuas, monumentos, museus, os históricos elétricos, vendedores de castanha e fruta, comerciantes e sobretudo Pessoas. E Pessoas de diferentes origens geográficas, como ouvimos na diversidade de cada cultura que cada Pessoa comporta, sotaques e línguas de outras origens, como a língua alemã, a língua francesa, a língua inglesa, a língua italiana, a língua espanhola, polaca, japonesa, russa e outras que compõem a diversidade linguística e cultural do mundo. As ruas são um mundo aberto à criatividade e ao cruzamento de pessoas. Mas as ruas são também espaços de imaginação. Há ruas que nos inspiram e cativam-nos no nosso quotidiano ao ponto de andarmos como prazer e contemplação sobre as mesmas durante anos. Como exemplo, tenho as ruas do Bairro Alto, Alfama e da Sé que Cristiniano Mangovo a inscreve como uma entre outras referências históricas nas suas telas. A Sé Catedral de Lisboa é no plano histórico e arquitectónico, um monumento a visitar. Mas a envolvência urbana da Sé Catedral permite também ter acesso ao Castelo de São Jorge pelas ruas estreitas contruídas há muitos anos e mesmo ao lado, tem a antiga Cadeia do Aljube, usada pelo Estado Novo para prender presos políticos e actualmente é o Museu do Aljube, espaço que importa visitar quer pela riqueza histórica e a visualização que a arte da arquitectura permitiu fazer em termos de remodelações de um lugar simbólico e singular de Lisboa.

    (DR)
    E o artista Cristiano Mangovo percorreu várias ruas e praças de Lisboa para que as suas telas mostrassem esse percurso feito, entre a Praça Luís de Camões passando pelo Padrão dos Descobrimentos transpondo para a tela a figura do Navegador Vasco da Gama, mas também a grande estátua que abraça de modo simbólico Lisboa que é a Estátua do Cristo Rei observável de vários ângulos e perspetivas, incluindo o meio aéreo. Mas naturalmente cruzou a zona do Chiado, lugar de passagem obrigatória, para marcar encontro com o Escritor Fernando Pessoa, onde milhares de pessoas nacionais e estrangeiros registam com a máquina fotográfica a presença deste homem da Literatura portuguesa e como a “ Influência de Fernando Pessoa “ ( título de uma telas ) marcou a Literatura e a Cultura portuguesas, mas também o universo literário de outras cidades do mundo onde a sua Obra é lida e está traduzida.
    O Pintor angolano Cristiniano Mangovo evidencia claramente uma paixão pela importância do livro, da literatura, da importância da leitura e como a mesma acrescenta valor ao conhecimento. E ao incluir Fernando Pessoa nas 13 telas aqui expostas, Cristiano Mangovo deixa a sua marca simbólica e não esquece a íntima ligação entre o poder da arte e a vida social.

    Na sua Pintura existe um intervenção conscientemente intervencionista quando dá como título a algumas obras, “ Além do Universo “, “ Busque Amor, Nova Conquista”, “ Dar o Coração ao Mundo “ e “ O que é que acontece na Banda “. Entre a sua filosofia de vida e a opção estética, Cristiano Mangovo mostra a sua preocupação pelo estado atual do mundo e questiona a atualidade contemporânea. Fala do Amor como um bem maior entre humanos e como o mesmo, protege e une as pessoas e pacifica o universo. Por isso reforça a necessidade de “ Dar o Coração ao Mundo “, pois as mudanças que podem acontecer em algumas regiões do globo, só sentindo de modo singular o que vai no coração do seres humanos pode mudar a tela do mundo e daí nascei uma outra visão mais humanista, estado de alma e sentimento que marca a observação quotidiana de Cristiano Mangovo. Ele é genuinamente humanista e na sua opinião que cito ele diz que “o mundo precisa de pessoas como mais coração e sociedades mais humanistas”, fim de citação. Esta olhar e sentir humanista, faz deste Artista, um ser que se preocupa com as pessoas e o mundo bem como a Arte e a sua também podem abrir novos diálogos deste novo paradigma mundial. Por outro lado não esquece a “Banda “( expressão usada pela maioria dos angolanos para definir Angola ) e daí vai ao encontro sobre o que analisa na urbe luandense e nos caminhos traçados e caminhados, Cristiano Mangovo retrata para a sua arte esse mundo tão diverso que é Luanda, no plano cultural, político, social e das suas gentes. E não esquece a Banda, por razões de pertença identitária, mas acredita que as personagens criadas e figuram nas sua telas, são humanos que buscam a esperança em cada dia, assumindo que as “ pessoas mais fragéis deviam ser mais protegidas e apoiadas”.

    (DR)
    A Exposição individual com o título “ As Ruas de Lisboa “ que a Galeria Ainori acolhe, concebida por Cristiano Mangovo, denota em todas as telas preocupações diversas com o mundo que ele próprio habita numa lógica de pensamento que assenta num agir local e pensar global. Ele sente-se naturalmente um filho de Angola e não nega essa pertença. Mas é igualmente um cidadão do mundo porque na sua filosofia de vida, não há barreiras e o sentir e olhar têm a imensidão dos oceanos da terra. Também é importante referir que ao conceber esta Exposição há seis meses, não se preocupou apenas consigo. Ele teve a natural preocupação de dar relevo “ às Ruas, mas à importância que deve existir entre seres humanos, o humanismo que o caracteriza e as personagens são “ deformadas “, como diz o Artista, mas procuram um sentido de vida e de esperança. Foi uma forte motivação humanista que fez que com o Pintor Cristiano Mangovo marcasse encontro de novo aqui na Galeria Ainori com todos nós porque a sua Arte é uma porta aberta sobre Angola, sobre o Mundo, mas também sobre a condição humana de cada ser humano em concreto, buscando novas esperanças e o amor como um imperativo humano que cria pontes e e estabelece laços no seio da família humana e de quem vai lisboandando nas Ruas em que passa. Muitos Parabêns meu estimado compatriota Cristiano Mangovo. O teu talento tem dado frutos e as Ruas e o Mundo observam-te nessa tua escolha.

    Gabriel Baguet Jr, Escritor/Investigador

    Lisboa / H. Santa Marta, 2018

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